Dívida pendente

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Os canos que conseguiu arrancar e partir não eram fortes o suficiente para produzir danos reais na porta que os aprisionava naquela câmara frigorífica. A temperatura baixa que se fez sentir durante a maior parte do tempo, dificultava ainda mais a respiração de Levi. Este alternava os golpes na porta com os canos partidos e com os pontapés na porta à altura da fechadura. Procurava que esta cedesse e não diminuía a frequência dos golpes, pois mesmo que a certa altura, a temperatura tivesse parado de descer e tudo tivesse ficado na escuridão, continuavam presos.

O professor pressentia que aquela falha elétrica não era casual, mas ainda assim sabia que não podia esperar tranquilamente que a temperatura baixasse na câmara frigorífica agora desprovida de eletricidade. Temia pelo que podia acontecer com a saúde de Hanji e do bebé. Também o preocupava em sair dali o quanto antes para ir ao encontro de Eren. Sendo assim, ignorou as náuseas cada vez mais intensas, as tonturas, a dificuldade em respirar e sobretudo as dores que mal conseguia distinguir de onde provinham. O que de certa forma, ajudava a ignorar o facto de ter forçado os próprios dedos fraturados a agarrar o tubo de metal que usava para bater na porta e também a luxação no ombro e possível fratura menor que podia ter no outro braço.

– Pára, por favor... – Pedia Hanji, soluçando mais uma vez.

A amiga pedia-lhe há vários minutos que parasse aquela sucessão praticamente ininterrupta de golpes na porta. Era consciente que o estado do amigo era muito grave e que nada daquilo estava a ajudá-lo.

– Levi, pára!

– Não vou deixar que nada te aconteça! Não posso viver comigo próprio se... se te acontecer alguma coisa, se perder mais alguém... não posso! Não posso! – Falou com uma voz claramente afetada pelo esforço que estava a fazer para obrigar aquela porta a abrir-se.

Desconhecia o paradeiro de Irvin ou de quem o acompanhava e por isso, teria que depender de si mesmo para derrubar aquela porta, caso ninguém escutasse o barulho que estava a fazer.

Uma onda nauseante mais violenta atravessou-o e não conseguiu evitar o que se seguiu. Apenas teve tempo de virar o rosto e expulsar o conteúdo do estômago.

Aquilo confirmava o diagnóstico de Hanji e as suas suspeitas. O fígado dele estava sem dúvida a falhar. A icterícia visível nos olhos, a comichão que estava a sentir pelo corpo, aliada àquelas náuseas que pioravam com o passar do tempo eram indicadores muito fortes do que estava a acontecer.

Além disso, era consciente que havia algo de muito errado com o ritmo cardíaco acelerado e a dor no peito que piorava cada vez que respirava. Ainda assim, após recompor-se um pouco e sentir que não haveria muito mais no estômago, retornou à sucessão de golpes que procuravam fazer com que a porta cedesse.

– Levi!

Teve que parar, dado que Hanji abraçou-o, procurando impedir que continuasse com aquilo que estava classificar de loucura.

– Hanji, larga...

– Não! – Interrompeu-o. – Tu não estás bem. Eu não preciso que faças isto por mim.

Ia contrariá-la quando ouviu passos no exterior e acima de tudo uma voz que reconheceu. Empurrou Hanji para que se encostassem ao lado oposto à porta ao mesmo tempo que ouvia a voz de Armin dizer que se afastassem da porta.

Pouco depois, soou o som de um disparo e por fim, a porta daquela câmara frigorífica se abriu e de imediato, Levi empurrou a amiga para fora daquele local.

Ao sair notou que apenas a iluminação de emergência daquele corredor estava acesa.

Irvin confirmava que estava tudo bem com Hanji e Levi não esperava que à sua frente, aparecesse Mikasa que colocou a mão no seu ombro. Surpreso olhou para a jovem de cabelos negros que não escondeu uma expressão preocupada com o aspeto que lhe mostrava, mesmo sob aquela iluminação fraca.

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