Desejos silenciosos

2.3K 256 422
                                    

– Tira as mãos, Hanji. – Grunhiu Levi perigosamente baixo enquanto a amiga massajava os ombros dele. Os colegas estavam aterrorizados com a aura das trevas que escapava do professor e tentavam persuadir a mulher excêntrica a deixá-lo em paz.

– Sou melhor do que aquela fisioterapeuta tão fraquinha que não deve estar a ajudar em nada.

– Hanji se não tirares as mãos nos próximos cinco segundos, vou esquartejar-te em praça pública. – Ameaçou e quase lhe acertou com a caneta que tinha nas mãos.

A mulher de longos cabelos castanhos e naquela manhã soltos afastou-se sorridente. Continuou a ajudar o amigo a arrumar as folhas e livros que queria levar para a sala quando Petra entrou na sala.

– Bom dia! – Cumprimentou num tom bem mais alegre do que o habitual. Os colegas que estavam presentes no ano anterior, aquando da contratação lembraram-se daquele sorriso alegre e boa disposição que logo se esfumou ao fim do primeiro dia. Desde então a atitude cabisbaixa parecia ser aquela que mais a caracterizava. Ainda assim, em algumas ocasiões tinham a oportunidade de ver a jovem professora de inglês sorrir com leveza e essa parecia ser um desses dias.

– Bom dia, Petra! – Cumprimentou Hanji no mesmo tom. – Aconteceu algo de bom? Oh, estás a coxear e com olheiras! O que aconteceu?

– Um pequeno percalço ontem à noite, mas está tudo bem.

– Isso tem uma história que envolva mais do que um homem? Se for quero saber! – Exigiu Hanji, vendo alguns professores cuspirem o café.

– Não, não. – Disse Petra envergonhada. – É verdade que estive com três amigos meus, só que não tem nada a ver com o que possas estar a imaginar.

– Ah, o teu grupinho. Temos que voltar a sair e desta vez, levamos o Levi connosco. – Disse Hanji animada com a ideia.

– Se ele não se importar, por mim pode ser. – Petra sorriu na direção de Levi que suspirou e disse:

– Quem sabe.

– Espero que nada arruíne o teu humor hoje. – Comentou Hanji. – Nem mesmo o nosso Eren que vais ver logo agora cedinho, não é?

– Sim. – Confirmou sem deixar que o sorriso desaparecesse. Isso fez alguns colegas e até mesmo Hanji e Levi estranharem, já que ela era a primeira a deixar escapar um suspiro desanimado quando se tocava no assunto de começar o dia logo a dar aulas à turma onde estava o rapaz de olhos verdes.

Por falar nele enquanto Hanji carregava a mala e alguns livros de Levi, os dois viram Eren acompanhado de olhares preocupados e igualmente cansados de Armin e Mikasa. Era evidente pelas olheiras dos três que não tinham dormido tão bem.

– Tenho a impressão de que devem ter andado em alguma festa. – Hanji riu baixinho.

– Durante a semana de aulas? Porque não esperam pelo fim-de-semana? Cambada de miúdos irresponsáveis. – Comentou Levi, lançando mais um olhar preocupado a Eren que mal conseguia manter os olhos abertos à medida que entrava na sala de aula.

"No que estará a pensar? Se estivesse a trabalhar ainda entenderia, mas se esteve a divertir-se... é mesmo idiota", pensava o professor nada satisfeito com aquela perspetiva.

A verdade é que depois ter chegado a casa, Eren pensava que ia deitar-se e com o cansaço iria ter um resto de noite sem problemas. Porém, nem o pouco álcool que tinha consumido, aliado ao cansaço foi o suficiente para livrá-lo de pesadelos que o despertaram várias vezes. Algumas dessas vezes corriam lágrimas pelo rosto e quase se sentia sufocar nos soluços. Ainda assim, cada vez que tentava recordar o que lhe provocava aquelas sensações não havia nada além do vazio. Frustrado, acabou por passar o resto do tempo a revirar-se na cama. Em consequência disso ocorreu um milagre nessa manhã e ele acabou mesmo por acordar Armin que parecia um zombie e Mikasa que ressacada só falava em cometer homicídios. Esses desejos homicidas eram dirigidos aos vendedores de álcool, embora o irmão soubesse que essas juras de morte durariam o mesmo tempo da ressaca.

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora