Contra o tempo (2º parte)

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*_Eren_*

Os elevadores não funcionavam ou então divertiam-se ao ver-me tentar subir os degraus ao mesmo tempo que me empurravam para que fosse mais rápido. Cheguei a temer que me carregassem, pois ao sair da sala onde passei bastante tempo vendo como torturavam fisicamente o Levi, continuava a ter os tornozelos presos.

Porém, vendo que não era muito cómodo para que subisse os degraus, retiraram as cordas que Kenny tinha usado para aprisionar-me e com o cano de uma arma constantemente apontado às minhas costas, ordenaram-me que subisse os degraus. A cada passo que dava recordava-me que tinha deixado Levi para trás num estado em que temia pela vida dele, sobretudo se recordasse que ficaria fechado naquela sala com Kenny.

Recordava-me da destreza e sangue frio daquele homem.

Recordava-me também das palavras que tinha dito antes de tudo aquilo acontecer. A raiva tinha cegado o meu discernimento e por muito que me custasse entender a razão para que quisesse criar uma ligação entre mim e um passado que nunca quis procurar, nada me dava o direito de duvidar do que o Levi sentia por mim.

Diversas vezes, ele provou e demonstrou que as palavras que dizia eram reais.

Principalmente, se pensasse no tempo em que levou para responder às minhas declarações e na forma como fez, explicando o porquê de ter levado aquele tempo. Não podia esquecer como tinha ficado feliz ao ouvi-lo dizer que amava, ao ouvi-lo confessar que se sentia vulnerável ao meu lado como nunca se tinha sentido ao lado de ninguém.

Recordar-me de cada palavra, de cada carinho e sorriso que me dirigiu doía e engrossava as lágrimas que caíam pelo meu rosto.

Eu duvidei de todas essas vezes que demonstrou que me amava.

Gritei com ele, empurrei-o e disse que não o queria ver quando tudo em mim sempre clamava, implorava pela presença dele.

Não conseguia esquecer a expressão dele quando disse aquelas coisas terríveis.

Tudo porque mais uma vez não quis ouvi-lo.

Não quis entender, não quis parar para pensar.

Contudo depois do que disse dentro do carro quando Kenny nos fez entrar no veículo e dirigirmo-nos para aquele local, tornou-se claro o que pretendia quando não quis que ignorasse o meu passado. Ele sempre soube que apesar de lhe dizer que não queria saber de nada e que nada daquilo me afetava, isso não passava de uma grande mentira.

No fundo, todos estes anos guardei uma mágoa e ódio profundos pelos meus pais. Esses que pelo que tinha percebido, nunca tencionaram deixar-me, mas uma sucessão de acontecimentos que não puderam controlar, fez com que morressem prematuramente.

Tanto Levi, como mesmo aquela mulher Rute repetiram sempre a mesma ideia. Não me deixaram porque quiseram e amaram-me incondicionalmente até ao último instante. O meu pai salvou o Levi e era um homem que trabalhava imenso para dar-me uma vida digna a mim e à minha mãe... ela... ela fez o que pôde, engolindo o orgulho e procurando desesperadamente salvar-me, pedindo ajuda a uma amiga e até mesmo a uma família que a negava até aos dias de hoje.

Durante anos guardei um ódio terrível por duas pessoas que me desejaram neste mundo e que fizeram o melhor que puderam e eu... só conseguia odiá-los.

O Levi quis libertar-me desse rancor e fazer-me enxergar uma realidade diferente.

Quis que aqueles sentimentos obscuros que por vezes, chamavam pelo pior que podia haver em mim, se transformassem em algo diferente.

E apesar de que a tal Rute ou os meus avós não tenham estendido a mão quando precisei, queria que mesmo assim, fosse capaz de os perdoar. Não por eles, mas por mim porque isso libertaria o peso, o rancor, a mágoa que ainda tinha trancada dentro de mim.

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