Coincidências

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O que era para ser um duche rápido, tornara-se num longo período debaixo da água fria que corria do chuveiro. A noite tinha sido agitada. Aqueles sonhos estranhos e demasiado reais tinham atacado em força e graças a isso, acordou diversas vezes a transpirar. Em todas essas vezes, a última imagem que via eram os mesmos olhos verdes acompanhados de sangue, demasiado sangue. Essa imagem causava uma dor inexplicável no seu peito que só se intensificava com o último sorriso e as últimas palavras que lhe foram dirigidas naquele sonho.

"Como é que posso ser tão afetado com estes sonhos incoerentes? ", perguntava-se Levi, fechando os olhos mais uma vez, ao recordar aquele rosto, aquele corpo ensanguentado. "Nada disto faz sentido. Os sonhos não são reais. Nunca vi aquele rapaz na minha vida. É um miúdo como outro qualquer! Porque é que a minha mente não aceita algo tão simples quanto isso?".

Acabou por fechar a torneira e sair dali. Precisava recompor-se. Tinha aulas para dar e não podia perder tempo com pensamentos incoerentes. Tomou um pequeno-almoço leve e pegou na sua pasta com os materiais necessários para as aulas nesse dia.

Caminhou até à estação pelas ruas quase vazias. Precisava apanhar o metro e percorrer quase a linha inteira para chegar até à escola, onde trabalhava. Já tinha contado as estações. Vinte e sete estações até poder sair.

"Tch e ainda diz a Hanji que aquela área é bem servida de transportes. Definitivamente, preciso comprar um carro. Viajar com esta gente que não sabe o que é um banho ou um desodorizante...", o professor arrepiou-se com esse pensamento à medida que entrava no transporte e sentava-se no lugar do costume. Um dos poucos isolados que impedia que fosse incomodado pelas outras pessoas que entrariam e sairiam nas próximas estações. Até então, também não tinha sido descoberto por dois dos seus alunos que também costumavam usar o mesmo transporte, mas só entravam algumas estações depois. Normalmente não lhes dava muita atenção, só que quando estava a tentar concentrar-se na leitura do livro, ouviu...

– Não deixem a porta fechar!

– Corre Eren!

Levi sentiu-se paralisar enquanto lutava contra a vontade de afastar os olhos da leitura. Não queria ver o rosto que passara a noite inteira a assombrá-lo.

– Ufa, esta foi por pouco. – Era a voz do Armin. – Adormeceste outra vez?

– Tentei acordá-lo, mas virava-se sempre para o lado contrário. – Queixou-se Mikasa. – Tive que lhe bater e mesmo assim, ainda se zangou comigo quando lhe disse que devia aprender a ser mais responsável e pelo menos, aprender a acordar sozinho.

– Acordar com um pé na minha cara não é exatamente o que tenho em mente quando se fala de responsabilidade.

"A voz... a voz é a mesma!", Levi sentia honestamente que ia hiperventilar ou algo do género quando pelo canto do olho, viu Eren acompanhado dos amigos aproximar-se um pouco mais da carruagem onde estava, mas pararam em pé perto de uns lugares ocupados.

– O que vamos ter hoje? – Perguntou o rapaz de cabelos castanhos desalinhados e um sorriso no rosto, espreguiçando-se.

– Não me digas que nem sequer viste o horário para hoje. – Comentou Armin surpreendido. – O que trazes dentro da mochila? Atiraste qualquer coisa aí para dentro?

– Esse é o método preferido dele, mas não Armin...eu preparei a mochila dele ontem à noite. – Esclareceu Mikasa, lançando um olhar de poucos amigos a Eren que virou o rosto irritado.

– Não te pedi nada, Mikasa. Pára de te comportar como se fosses a minha mãe. Aliás, és pior do que uma.

– És um mal-agradecido, Eren.

Destinos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora