Encontro de monstros

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O Alpha do Sul deixa suas terras e vai até os domínios do Alpha do Leste, toda a alcatéia ficou tensa com a presença dele e não era pra menos, apenas um homem sabia dessa visita, mesmo não tendo conflitos recentes, ele ainda era um líder rival, muitos tentaram barrar sua ida, mas poucos puderam dar um passo se quer diante dele, menos ainda atacar, ele então chega no casarão principal do Leste, o portão automático foi aberto, o guarda o barra com uma espada.
Renato: vim ver seu Alpha, não guerrear com crianças, abaixe a espada rapaz.
Bruno: veja como fala, Loiro, está longe de casa e sozinho.
O Alpha continua caminhando, confiou que ele não atacaria, mas errou, o rapaz avança num golpe rápido, ia cortar o peito, o lobo desviou desse e de alguns outros golpes até capturar a mão do lobo que empunhava a espada e atingir seu estômago com um pontapé, nada grave, só o suficiente para derrubar, ele por fim chega na mansão, era um velho casarão, a arquitetura era dos anos 50, mas apesar de ser antiga era muito bem cuidada e luxuosa, ele abre as portas e um vento forte sopra, de longe ele viu quatro homens, três de pé e um sentado.
Renato: oi Álvaro, eu vim falar com você.
Álvaro era o mais velho dos quatro Alphas tendo seus 70 anos, ficou grisalho muito cedo, desde jovem seus pelos da transformação eram brancos isso lhe rendeu a alcunha de Pelo Branco, mas mesmo com essa idade sua presença causava admiração, medo e exalava imponência, medindo 1,96 m e mesmo tendo essa idade seu corpo mantinha uma forma rígida e volumosa, dando a impressão que era indestrutível, estava sentado em uma cadeira feita de madeira maciça, com detalhes em couro, era como ver um rei gigante em seu trono, ele vestia calças compridas de cor marrom que estavam enfiadas em botas de cano longo pretas, com o torço a mostra se via uma quantidade enorme de cicatrizes de corte, balas e até queimaduras, seus cabelos eram brancos e alcançavam o peito, sua barba era fechada no estilo espartana, sua expressão era um sorriso convencido, diferente dos três junto dele, Loiro caminha devagar, mas exalava uma pressão forte, a mesma que deixou vários lobos imóveis diante dele.
Álvaro: esse moleque arrogante, soltando isso dentro da minha casa, que abuso. Diz entre sorriso.
Renato: eu só vim bater um papo.
Álvaro: "bater um papo" você diz isso, mas entra na minha casa soltando essa presença violência, garoto burro. Diz gargalhando.
Renato: eu vi quatro monstros quando entrei, achei que era melhor prevenir.
Victor: tem sorte de termos notado você a tempo.
Marcos: do contrário você tava fodido.
Felipe: já teria voado campo a fora com um bom de um soco.
Os três eram muito distintos uns dos outros, Victor era o segundo mais alto, medindo 1,78 m, tinha um porte musculoso, usava terno slim preto, tinha um tom de pele não tão clara, cabelo curto preto, apesar da aparência elegante ele ostentava uma espada nas costas, Marcos era o mais baixo dos três, 1,73 m de altura, 44 anos, era o mais magro ali, um porte muito semelhante ao do Loiro, tinha olhos azuis que contrastavam com o cabelo ruivo curto, se vestia de maneira casual, Felipe era um homem branco, com poucos fios grisalhos, era o ponto fora da curva, 1,86 m, 155 kg, um absoluto monstro, usava roupas de academia, ostentava cicatrizes nos braços e permanecia sempre numa postura rígida.
Renato: eu não vim começar uma guerra.
Victor: até porque não resistiria.
Renato: eu e você não temos desavenças ou rixa, Marcos que era meu freguês.
Marcos: até onde me lembro estamos empatados seu cabeludo metido.
Renato: o que acha de um desempate?
Felipe: se veio aqui falar bobagem então pode ir embora.
Renato: calma aí, eu só vim conversar, é sério, até trouxe um presente. Diz jogando algo.
O velho lobo capturou o objeto, se tratava de uma garrafa a qual ele olha com estranheza.
Álvaro: que porcaria é essa? Nunca vi essa marca antes, tá me trazendo água sanitária pra beber!? Pergunta falando alto.
Renato: que isso? Essa veio do Ceará, passou no teste, vamos beba, eu trouxe uma pra mim também. Diz puxando uma cadeira.
O lobo se senta a frente do veterano este destampa a garrafa, cheira, revira os olhos e bebe a metade da bebida de uma só vez.
Álvaro: podia ser pior, ao menos dessa vez você teve a decência de não trazer aquela água suja que você e Wellington bebem.
Renato: aquela é boa sim, você que tem um paladar estragado e envelhecido.
Victor: veja como fala.
Álvaro: calma, envelhecido? Você que é jovem e bebe qualquer merda que engarrafam, parece que não tem especialista de bebidas na alcatéia.
Renato: claro, você também é um não é? Desculpa pra encher a cara todo dia e sair quebrando as coisas.
Felipe: o território é dele, ele faz o que quiser.
Marcos: exato, papai já era Alpha quando você ainda era um novato.
Renato: e isso não vale para vocês também?
A resposta tirou rosnados dos três e uma risada contida do velho.
Álvaro: já fazia um tempo que você não aparecia.
Renato: muito trabalho, a empresa, alcatéia, treino dos garotos...
Álvaro: a alcatéia eu entendo, mas achei que a Construmax e os treinos eram departamento do seu vice, não é ele o dono?
Renato: sim, mas eu sou vice presidente e também treino os jovens, se deixar por conta dele os garotos desistem no começo.
Álvaro: Wellington é severo demais, eu até conversaria com ele, mas não é como se ele me visitasse.
Renato: quando foi a última vez?
Álvaro: uns três ou quatro anos, em torno disso.
Renato: é muito tempo, mas você também não sai daqui nunca, podia ir nos visitar.
Álvaro: eu não tenho mais saco pra ficar indo aqui e ali, por isso recebo todo mundo aqui, mas geralmente os visitantes ou são convidados ou avisam, aquela coisa da educação.
Renato: foi de última hora, por isso não trouxe uma bebida melhor, não deu tempo de planejar.
Álvaro: se foi as pressas então tem motivo além da bebida.
Renato: na verdade a bebida é noventa por cento do motivo.
Álvaro: sei e os outros dez?
Renato vira a garrafa igual ao velho lobo, terminando de beber ele ia dizer o motivo de estar ali quando o veterano começa a falar.
Álvaro: olhar pra você assim me faz pensar no quanto o tempo voa, já fazem uns 20 anos desde o fim dos Tempos dos Combates, você e Marcos viviam competindo, Wellington com Victor, quase se mataram, mas nada foi tão absurdo quanto as brigas com o outro garoto.
Renato: ele veio de repente fazendo a maior bagunça, na época mais caótica da cidade, foi um cada um por si desgraçado, essa cidade atraiu a guerra de uma forma quase inexplicável e quando tudo começou a melhorar...
Felipe: ele apareceu com o pé na porta, quebrando tudo e brigando com todos.
Renato: ele veio sabe lá os Ancestrais da onde, mas era óbvio o motivo, ele queria lutar com o sobrevivente da era de ouro, você. Diz olhando nos olhos de Álvaro.
Álvaro: tá dizendo que eu sou o culpado? Pergunta rindo.
Renato: tô dizendo que foi uma consequência, a sua fama convidava ao desafio e ele tinha gula disso.
Victor: ele afrontou cada um de nós, lutou com nós cinco, você, Wellington, até com o pai.
Renato: o pai de vocês era a única muralha de pé depois de uma guerra, muitos queriam encarar ele.
Marcos: ele brigou com todos nós, mas as piores lutas eram com você e Wellington, ele os odiava.
Álvaro: se eu fechar os olhos eu ainda posso ver sua última luta com ele.
Renato: aquilo não foi luta, foi uma tentativa de assassinato mútua. Diz sério.
Álvaro: quem não viu se aterrorizou quando viram lobos fortes feito vocês sem uma das pernas e sem um dos olhos, muitos apostaram que um dos dois fosse morrer naquele dia, mas foi de lá pra cá que ele se acalmou, pelo menos com as demais alcatéias.
Renato: até porque ele conseguiu o que queria, derrotou um dos Grandes Alphas, foi aí que ele se tornou um dos quatro, perdi boa parte dos meus territórios e teve os que ele foi expandindo com o decorrer dos anos.
Álvaro: ele agora fica na dele, qualquer coisa ele resolve por si mesmo.
Renato: ele ainda faz aquele serviço sujo?
Victor: cada um faz aquilo que é bom.
Renato: ele é bom em ser um chefão do submundo? Que ótimo talento. Ironiza.
Álvaro: não tendo mais lutas como aquela, está tudo bem.
Renato: realmente foi uma luta sem igual, ao menos para um garoto feito eu.
Álvaro: não se subestime rapaz, você e os outros três se tornaram lendas; Loiro, a Rainha das Amazonas, o Bravo, vocês fizeram seus nomes, cresceram muito desde aqueles tempos, a sombra do Viajante morreu, mas fizeram seus caminhos, você fala de mim na era de ouro, mas vocês também viveram nela, poucos foram aqueles que viveram nos tempos de antigamente e ainda estão aqui pra contar, vocês são privilegiados, são grandes. Fala alegremente.
Renato: vindo da lenda isso é o maior elogio de todos, mas não foi só para beber e conversar que eu vim até aqui, tem um outro assunto que eu queria tratar.
Álvaro: o que exatamente?
Renato: é que alguns dos seus lobos agrediram uns garotos da minha alcatéia.
Álvaro: hm...?
Renato: eles estavam voltando de uma festa eram cinco e pouca da manhã.
Álvaro: souberam disso?
Felipe: uns dos meus filhos disse ter expulsado três invasores.
Victor: o mesmo pra mim, eram três?
Renato: isso.
Álvaro: peço que perdoe meus netos, eles gostam de uma boa briga. Fala rindo.
Renato: na verdade eu só vim avisar que os garotos eram os três irmãos, só Rodolpho não estava na hora, os três voltavam do aniversário dele.
Álvaro: Hiure? Ele é um dos garotos que tomou uma surra? Pergunta surpreso.
Renato: estavam exaustos e acusaram ter mais de que o dobro atacando eles.
Álvaro: isso confere?
Victor: provavelmente, os vigias são numerosos, é o padrão.
Renato: eu só vim pedir pra você controlar melhor os seus rapazes.
Marcos: como é?
Renato: os meus garotos levaram uma surra de quebrar ossos só por passear.
Victor: eles invadiram o território de outro Alpha durante a madrugada, os Sentinelas só cumpriram seu dever.
Renato: espancar três jovens conhecidos até desmaiarem eles, esse é o dever dos seus Sentinelas?
Marcos: errado aqui foram eles, estavam no lugar errado na hora errada!!
Renato: vocês são o Alpha por acaso? Até onde eu me lembro era com ele que eu estava conversando.
Felipe: chega!!
O enorme lobo fecha o punho, Marcos sacou as garras e Victor já ia puxar a espada, Renato se levantou e armou a guarda.
Victor: sua Intimidação vai ser inútil aqui!!!
Um mar de perigo inundou a casa, a colisão ia ser violenta.
Álvaro: pode parar. Fala baixo e sério.
Os quatro interromperam o avanço, estavam cara a cara, prestes a colidir.
Álvaro: os meus rapazes exageraram, mas você deveria ensinar melhor os seus lobos, eles já são adultos, deveriam ter consciência dos atos deles.
Renato: ou você poderia domesticar os seus, ou vai me dizer que tá perdendo o jeito, tudo podia ter sido evitado se os seus rapazes não fossem uns animais.
Álvaro: FORAM SEUS MOLEQUES QUE COMECARAM ISSO TUDO, SE VOCÊ NÃO ESTÁ DANDO CONTA ENTÃO RENUNCIE!!!
O velho lobo vira a garrafa na boca novamente até secar por completo, ele seca a boca com o braço.
Álvaro: NÃO OUSE VIR ATÉ A MINHA CASA ME DIZER O QUE FAZER, A ETERNIDADE NÃO É TEMPO O SUFICIENTE PARA EU ACATAR ORDENS SUAS!! Grita jogando a garrafa.
O lobo só desvia e a deixa espatifar no encosto da cadeira, um caco chegou a lhe cortar levemente na bochecha.
Renato: não vim aqui para uma briga, podemos chegar a um meio termo onde ambos se comprometem a lidar com seus respectivos jovens.
Álvaro: você até que teve uma boa conclusão, de fato não gosto desse tipo de coisa, briga tem que ser de igual pra igual, fora que esses meninos já são de casa.
Felipe: devem ter sido alguns novatos, não conheciam os três, só quiseram ajudar o avô.
Álvaro: tá certo, mas mesmo assim eu não gostei, tratem de dar um corretivo neles, seja como for.
Felipe: tá certo pai.
Renato: também me comprometo a falar com Hiure e os outros.
Álvaro: foi ele que contou?
Renato: não, foram os outros dois.
Álvaro: foi o que eu pensei, ele nunca contaria que tomou uma surra, deve ter ficado uma fera, ele é esquentado igual a mãe quando era jovem. Fala sorrindo nostálgico.
Renato: verdade.
Álvaro: vamos resolver essas pendências e quando eles vierem aqui eu tiro sarro e nós ficamos zero a zero.
Renato: se não zombar dos mais novos não é você, bom eu tenho que ir, se cuida velho, tome seus remédios e não esqueça a bengala, alguém da sua idade requer muitos cuidados. Fala num tom áspero.
Álvaro: se eu precisar de algo!? Alguém da minha idade? Com quem você pensa que tá falando seu moleque ranhento!!?
A atmosfera mudou de repente, agora era o velho que inundava o lugar.
Álvaro: sei cuidar de mim pirralho, não fui eu que perdi uma perna pra um brigão!!!
Renato: olha como fala comigo, eu sou um Grande Alpha!!!
Álvaro: e eu sou PELO BRANCO!! Diz se levantando e atacando o Loiro com um soco.
Com muita dificuldade Loiro bloqueou o golpe com seu braço direito, e socou com o esquerdo, mas o veterano bloqueou, alguns lobos entraram para ver o que estava acontecendo, os netos de Álvaro se assustaram ao ver a cena, parecia que eles iam se matar a qualquer momento, mas de repente o velho lobo solta uma gargalhada ao ponto de escorrer algumas lágrimas.
Álvaro: é, você continua rápido como sempre. Fala satisfeito.
Renato: e você ainda é um monstro, poderia atacar com aviso prévio sabia? Tá com quanto de força?
Álvaro: acho que umas três toneladas, tô ficando velho mesmo garoto.
Renato: mesmo velho você ainda é um monstro, porra doeu viu. Diz se enrolando em sua capa e dando as costas para Álvaro.
Os jovens lobos o olhavam espantados e admirados.
Renato: os garotos devem vir te fazer uma visita daqui a algum tempo, vê se não os esmaga viu?
Álvaro: é bom eles aparecerem, vou zombar deles.
Renato: é sempre um desprazer ver o focinho dos três.
Victor: bebe aconito e morre seu perneta.
Renato: mandem lembranças para a irmã de vocês.
Felipe: volta aqui seu magricela!!
Os três correm atrás do lobo até o portão da propriedade, ele ria como criança enquanto fugia dos três.
Renato então sai pelas ruas, vagando em meio a escuridão ao longe se podia ver aquela figura de capa vagando em direção ao Sul, um vento forte e pequenas gotas de chuva acompanhavam sua caminhada de volta para casa.

                Continua...

Tem tanto plot que eu fico ansioso pra revelar, iriam, vai valer a pena cada linha, agradeço.

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