O alívio por fim veio, Lupina finalmente estava livre da ameaça da Tavola, comemoração geral, mas o clima de festa não duraria muito, afinal, confianças foram quebradas e acordos foram feitos, Victor sumiu desde a conclusão e seu filho sulista se incomodou com isso, até que decidiu ir saber o que aconteceu, chegou no Leste de carro e já encontrou com uns primos por parte da Elizabeth.
Kaique: e aí Breno, como é que tá?
Breno: e aí, primo, como tá essa força?
Kaique: Bella, Aninha, tão de bobeira?
Ana: esperando a mamãe pra irmos no shopping, é nosso aniversário.
Kaique: é mesmo, parabéns viu, parabéns triplo, mas aí, sabem do meu pai?
Isabella: não, tio Victor sumiu desde o veredito.
Kaique: pois é, liguei pra ele, mas não deu em nada, eu ia esperar, mas tô doido por um duelo.
Breno: fala com seus irmãos, ué? Quer um duelo? Quem melhor que outro filho do Victor pra te dar isso?
Kaique: não quero parecer arrogante.
Ana: vai logo, anda.
Kaique: tá, eu vou, eu vou.
O rapaz correu até o campo de treinamento, viu vários grupos, o que lhe chamou a atenção foi um trio, os três filhos mais velhos de seu pai.
Kaique: Vini, Luna e Manuel, era com vocês mesmo que eu queria falar.
Luna: nos achou.
A loba era alta, com seus 1,87 m de altura, pele negra retinta, usava tranças longas na cor branca que iam até a cintura, tinha 25 anos, era a segunda mais velha, na cintura pendia uma katana.
Kaique: queria perguntar do pai.
Manuel: o que você quer saber?
Este era o terceiro, com 23 anos, um rapaz de cabelo loiro curto, de pele muito clara, media 1,73 m, um físico robusto que combinava com a cimitarra em sua cintura.
Kaique: eu queria treinar, mas ele não retorna minhas ligações, aí fiquei perdido.
Vinicius: e por algum acaso o pai te deve explicações?
O mais velho dos filhos, 27 anos, pele parda com cabelos cacheados ruivo na altura do ombro, media 1,83 m, barba rala, tatuagem no braço esquerdo, cicatriz de corte na clavícula e seu olho direito era cego, vestia uma camisa aberta branca e uma calça preta, seu porte era esguio, ostentava um sabre que ele apoiava um braço.
Kaique: não é isso, é que o pai sumiu e não disse pra onde ia, tava afim de um pouco e ação.
Vinicius: e já não tem o suficiente com seus irmãos do Sul?
Kaique: eles não são espadachins, é diferente.
Manuel: pena pra você, o pai vai demorar.
Os demais olham furiosos para o mais novo.
Kaique: pra onde ele foi?
Vinicius: não é da sua conta.
Kaique: que isso? Tá doido? Eu só quis saber.
Vinicius: só merece saber do pai quem é filho dele!!
Kaique: tenho uma pilha de documentos que dizem que sou.
Manuel: documentos não significam nada, se diz filho dele, mas serve a outro Alpha, pode ir pro Sul, traidor.
Kaique: repete!! Rosna com os olhos rubros e segurando o punho da espada.
Vinicius: traidor, é o que você é, não é um de nós.
Kaique: eu sou!!
Vinicius: então não é irmão deles e nem um lobo do Sul.
Kaique: eu sou, foi no Sul que eu cresci, foram aqueles irmãos que fiz, são a minha família!!
Manuel: então volta pra lá e não volte aqui nunca!
Kaique: não vou a lugar algum, esse também é meu chão, o chão do meu pai!!
Vinicius: tá disposto a lutar por isso?
Kaique: quer um duelo comigo? Aqui e agora!!
Vinicius: vamos ver se você é tudo que disseram.
O campo de treinamento parou para ver aquilo, o embate de espadas entre o espadachim mais famoso da nova geração e o mais velho dos filhos de Victor.
Vinicius: não vou pegar leve só porquê é um moleque. Debocha segurando o punho do sabre.
Kaique: nem eu quero isso.
Os dois avançam com toda a ferocidade, as espadas se cruzam raivosas, o olhar dos dois se cruzam e eles começam uma troca frenética de golpes, o sabre de Vinicius era muito rápido e perigoso, Kaique ia lidando bem, até que num golpe forte ele afasta o oponente.
Kaique: falta força.
Vinicius: vai descobrir que a força não é tudo.
A troca de golpes continua, até que o primeiro sangue é derramado, um corte no rosto de Vinicius, seguido de uma estocada dele, mas o mais velho erra e isso lhe custa um corte nas costelas, um sorriso confiante surgia no rosto do Astro.
Kaique: podemos parar por aqui se...
A falta de cautela foi cobrada pelo mais velho, o que antes era um duelista plácido, agora se tornou violento e implacável, golpes agressivos fizeram Kaique ficar na defensiva, eles travam a lâmina um do outro e ficam cara a cara, até que o Astro recebe um corte acima dos olhos feito por um punhal que seu adversário sacou das costas, daí ele salta para trás, ao tocar o chão o sangue jorra e cega seus olhos, o rapaz tenta limpar, mas seus instintos mandam não limpar e sim se defender, mas já era tarde, o pouco que pôde ver foi só o brilho metálico e olhos vermelhos.
Vinicius: você lutou muito bem para alguém que é tão mais novo do que eu, mas a brincadeira acabou!!! Rosna soltando o golpe.
O corte abriu desde a cintura do lado direito e atravessou o tórax até o ombro esquerdo o jogando longe, Vinicius balança a espada para o lado para tirar o sangue e ele guarda a lâmina, alguns filhos de Marcos pegam o primo e levam para a enfermaria, os de Elizabeth fizeram a sutura o mais rápido e melhor possível.
Thiago: Vinicius passou dos limites dessa vez.
Joana: dessa vez? Foi ele que começou isso tudo.
Kaique: por que eles disseram aquelas coisas, o pai já me aceitou.
Ellen: é pilha deles, não liga.
Kaique: não liga? Eu tô com uma fenda no meu tórax de fora a fora!!
Ellen: não grite, vai abrir mais.
Joana: eles não vão te respeitar, a verdade é essa.
Kaique: Ryan é bem recebido.
Thiago: é diferente, os filhos do tio Marcos, tio Gabriel e nós somos mais tranquilos, agora, os filhos do tio Felipe e do tio Victor são outra história.
Kaique: Hiure liderou os filhos de Felipe na guerra.
Ellen: isso aí é um caso a parte, foi ordem do tio e Hiure tinha estima do vovô, ele já tem conquistado o que você tem que conquistar ainda.
Kaique: ser humilhado na frente de todos não é o suficiente?
Joana: se realmente quer ser um deles, tem que encontrar um jeito.
O rapaz foi tratado e retornou para casa, seu irmão não estava, ficou sozinho com seus pensamentos.
Pela noite o mais velho estava se arrumando pra sair, seu perfume favorito, sua melhor roupa, relógio no pulso, o anel no dedo e ele estava pronto pra ir, apanhou as chaves e já ia com a mão na maçaneta quando sua mente pesa e ele retorna à memórias antigas, debruçado em um abraço carinhoso e um riso inconfundível, ele retorna para o seu quarto e de uma gaveta ele retira um vestido, o cheiro ainda estava nele, memórias fortes voltam e as teimosas e inevitáveis lágrimas descem aos poucos, o jovem se senta na cama e respira fundo, sua mão acariciava o peito.
Rodolpho: ainda dói tanto, meu amor... sussurra para si.
Na gaveta haviam mais algumas roupas e um celular com a tela rachada, nele continham fotos, muitas e das mais valiosas, Rebeca se fazia presente em quase todas, na gaveta também tinha um frasco do perfume dela, o que mantinha esse cheiro ao menos, já que o próprio dela aos poucos ia sumindo.
Rodolpho: eu não consigo... eu não posso fazer isso com vocês, era pra ser nosso encontro, era pra... era pra estarem aqui... eu não consigo.
O jovem ligou para a loba que o esperava e deu uma mentira mal contada sobre uma briga feia entre os irmãos e ficou por isso mesmo, guardou as coisas e se jogou na cama até que caiu num sono pesado; ainda no Sul, o caçula estava na oficina da sua casa mexendo no mustang, até que outro carro para na frente, o rapaz continuou a mexer no seu carro até ver dois pés calçados com belos sapatos.
Hiure: o que você fez dessa vez, pai?
Wellington: é assim que recebe seu pai?
Hiure: são oito e meia da noite e seu carro tá fazendo um barulho estranho em ponto morto, o que foi?
Wellington: não sei, começou agora a pouco e tá engasgando na troca de marcha.
Hiure: deixa aí que olho amanhã, tenho que trocar umas peças do coroa aqui.
Wellington: podia comprar um mais novo, eu te ajudo.
O rapaz sai debaixo do carro e olha sério para o pai.
Wellington: ou eu podia pegar um táxi e te deixar trabalhar.
Hiure: grato, deixa a chave ali na estante de ferramentas.
Wellington: eu estive pensando...
Hiure: é aí que mora o perigo.
Wellington: tô falando sério.
Hiure: tá, no que tava pensando?
Wellington: temos de tudo, construtora, restaurantes, farmácias, de tudo, mas oficinas temos duas ou três.
Hiure: e é por isso que eu mesmo mexo no meu carro.
Wellington: a questão é que têm muito carro que eles não mexem, importados, de luxo, até os clássicos, você sim, mas não pode fazer tudo.
Hiure: pode parar, eu sei onde isso vai dar, você novamente tentando me tornar um lobo de negócios, esse não sou eu, eu pego no pesado.
Wellington: e quem disse que vai parar? Ouve, eu chamo os caras das outras oficinas, procuramos um bom lugar pra comprar, nada de aluguel, eu pego a sua parte, você treina eles até tudo ficar automático, quando não estiver no curso você trabalha nos carros, assim você garante uma grana sua e trabalha com o que gosta.
O rapaz ponderou, ficou indeciso, a idéia era boa, mas tudo tem pós e contra.
Hiure: eu vou pensar.
Wellington: Hiure...
Hiure: eu disse que vou pensar, tá? Me dá um tempo também, ok?
Wellington: tá certo, qualquer coisa me liga.
Hiure: tá, pai, vai com os Ancestrais.
Wellington: fique com eles.
O veterano se vai e deixa o filho com o carro e com os pensamentos martelando em sua cabeça.
No Oeste estava tendo um jantar na casa do Alpha, mas não era um jantar comum, uma figura a mais se sentava na outra ponta da mesa, era um homem velho, facilmente acima dos 70 anos, cabelos brancos e um belo terno cinza, na sala de jantar estava instalada uma quietude que era quebrada apenas pelo bater dos talheres, os filhos do Dominante, assim como ele e a esposa se olhavam, o lobo já ia falar quando o velho homem bebe da taça e começa a falar.
?????: vejo que prosperou depois de todo aquele conflito, Helmar.
Helmar: sim, Salvatore, foi difícil, mas conseguimos.
Salvatore: também lidaram com aqueles nojentos da Tavola.
Helmar: isso foi um incômodo momentâneo, no fim das contas só serviu pra perturbar.
Salvatore: mas foi por pouco, que eu sei, até precisaram da ajuda de um filho e de um irmão de Vladimir. Diz comendo sem olhar para o Alpha.
Helmar: de fato, tivemos essa situação com os vampiros, mas já resolvemos.
Salvatore: e quanto aos negócios, como vai?
Helmar: bem, a Universidade Avanço como sempre me orgulha.
Salvatore: mesmo estando em sexto lugar do mundo, uma pena.
Helmar: garantimos um nível de excelência invejável.
Salvatore: sei disso, formou meu neto, Gael, é advogado.
Helmar: me lembro dele.
Salvatore: evidente, visto que não me cobrou um centavo na esperança de futuros favores. Responde o olhando frio.
Vaneska: a comida está do seu agrado?
Salvatore: está longe do nível da culinária italiana genuína, mas pra uma imitação não posso me queixar.
O tom arrogante e de superioridade do velho homem irritava o jovem lobo.
Salvatore: me fale do carregamento que está vindo no avião partindo da Grécia.
Helmar: como o senhor... como...
Salvatore: sou uma das Cabeças, Helmar, posso estar velho, mas ainda há aqueles que dão valor ao meu nome.
Helmar: longe de mim dizer o oposto, Salvatore, só não esperava que já soubesse, não anunciei ainda.
Salvatore: e iria?
Helmar: deixei de fazê-lo alguma vez?
Salvatore: não, sempre foi o mais caótico, motivo de incontáveis situações problemáticas e brigas entre nós, mas no fim você sempre foi leal e respeitou nossos princípios, por isso queremos dar uma oportunidade a você.
Helmar: e do que se trata?
Salvatore: creio que saiba do falecimento de Santiago.
Helmar: eu soube, lamentei muito, fizemos negócios bons durante anos.
Salvatore: uma tragédia, mas a Cosa Nostra deve seguir em frente, a cadeira que ele se sentava agora está vazia e você é o mais antigo dos Dons, você aceita ocupar o vazio deixado por ele?
A oferta pegou todos de surpresa e até mesmo o Alpha ficou atordoado, mas algo teria que ser dito.
Helmar: essa é uma grande oferta, Salvatore, eu juro que não esperava, eu quase não ficaria no Brasil.
Salvatore: na verdade o ideal é que venha para Itália junto de mim.
Helmar: mas, Salvatore, não posso deixar minha família.
Salvatore: longe de mim pensar isso, uma boa casa está sendo preparada para você, sua esposa e filhos, tenho certeza que vão estar bem instalados.
Helmar: bom, eu... tem minha alcatéia também, meus negócios aqui...
Salvatore: isso é o de menos, rapaz, estou te oferecendo uma cadeira dentre as Cabeças da organização, levaremos seus lobos, transferimos seus negócios, apenas confirme e vamos.
A Alpha olha nos olhos do marido enquanto seus filhos se olhavam duvidosos.
Helmar: devo consultar minha família antes dessa tomada de decisão.
Salvatore: lógico, retiraria a oferta se assim não fizesse.
O jantar se encerra e o velho homem deixa a casa do Alpha, restando apenas a família.
Vaneska: você não pode estar cogitando ir.
Helmar: não posso negar que me pegou de surpresa, é uma oportunidade única.
Maria: não tá falando sério.
Helmar: é uma chance de ouro, economia melhor, belos lugares, faculdades que eu não possuo, como paleontologia e fisiologia sobrenatural.
Aquilo balançou tudo eles, mesmo a Alpha.
Helmar: fora uma melhora nos meus negócios, posso trabalhar diretamente com as maiores famílias, Maroni, Romano, Falconi, Guerra...
Maria: fisiologia é meu sonho.
Helmar: e você seria bem recebida.
Maria: ainda assim, pai...
Helmar: vamos visitar, literalmente não custa nada.
Heitor: quando vamos?
Helmar: depois de amanhã, façam as malas.
Todos saem, exceto Vaneska, esta tinha um olhar feroz fuzilando o marido.
Helmar: essa cara ai quase dá medo.
Vaneska: não gostei, nem um pouco, você sabia que o velho ia fazer isso.
Helmar: não, eu juro que não, nunca esperei por isso, imaginei que fossem chamar algum atuante italiano, no máximo um europeu.
Vaneska: isso põe nossa vida num furacão absoluto!!
Helmar: tá com medo é?
Vaneska: por favor, Helmar, já fizemos coisas muito mais difíceis.
Helmar: então por quê esse nervosismo agora?
Vaneska: porque não temos vinte anos e um punhado de lobos nômades, somos Alphas de milhares, nossa decisão reflete na vida de todos eles.
Helmar: eu sei, eu sei. Diz a abraçando.
Em outro continente um encontro acontecia, de um lado estava Conrad Bonaparte, do outro estava Victor.
Conrad: ¿ Cuanto tiempo faz?
Victor: três anos, desde sua última derrota, achei que tivesse aprendido com ela.
Conrad: yo no voy desistir do título.
Victor: faça como quiser, não me interessa sua vontade, acabemos logo com isso, quero ir para casa.
O vampiro saca um florete, uma bela espada com a escuridão da noite se tornava quase invisível, em seu rosto um sorriso arrogante, já o lobo mantinha um olhar apático e sério, até que seu adversário avança, era extremamente veloz, sua lâmina ia como uma seta contra o lobo, mas um som metálico ocorre e o mesmo recua seis metros, um sabre numa mão e uma espada dupla na outra, ambos abaixados e apontados para frente.
Conrad: la Esclarecedora y la Erradicadora, sus espadas favoritas entre miles, hechas por el mismo, llevan una parte de su alma, en el.
Victor: se lembra delas? Estavam nas minhas mãos quando nos encontramos da última vez, foi com essas espadas que eu te neguei a tomada do meu título!! Rosna feroz.
Conrad: eso era antes, ahora es diferente, un espadachín ciego está destinado a caer, y mucho menos uno viejo y ciego.
Os dois avançam com todo o poder, velocidade a favor do vampiro e ferocidade ao lado do Alpha crinos, até que as lâminas colidem.
No dia seguinte, em Lupina, o Bravo tomou uma iniciativa sem consultar seu filho, reuniu os lobos mecânicos e repassou a idéia, mas vinda dele a idéia foi interpretada como ordem, na hora do almoço o rapaz foi para um pequeno restaurante, chegou falando com todos.
Hiure: Adão, me vê um cafézinho pra dar fome.
O dono do lugar serviu num pequeno uma dose de conhaque com cachaça, o mesmo foi virado num instante.
Hiure: agora põe aquele almoço pesado que hoje eu tô com uma fome de sete pitbulls, por favor.
Assim o lobo foi fazer, enquanto aguardava o rapaz viu uns mecânicos numa outra mesa, então ele se aproximou, conhecia a maioria.
Hiure: e aí Paulo? Na boa?
Paulo: me diz você.
Hiure: eu tô na moral, como tá indo o trampo.
Diego: vai de mal a pior agora né?
Hiure: por que, tá numa época fraca?
Gabriel: o problema todo é ter que ter patrão criança.
Hiure: do que cê ta falando?
Paulo: sem teatro, tá? Todo mundo aqui já sabe o que você fez.
Hiure: então me conta, nem eu sei.
Gabriel: você convenceu o Vice a unir as oficinas e te entregar a chave.
Hiure: como é que é?
Diego: para de fingir, ele já esteve aqui e contou tudo.
Hiure: pera aí, ele teve uma idéia, mas não resolvemos nada, na verdade eu ia dar a resposta ainda.
Diego: antes da sua, aqui tá a nossa, não vamos ter você como patrão, não vamos mesmo!!
Hiure: vocês não sabem o que estão falando, era pra ser um investimento, unir as oficinas.
Paulo: sob sua gerência, certo?
Hiure: não ia ser desse jeito.
Diego: nós somos veteranos, falou? Temos quase dez anos de mecânica, você é só um curioso fazendo um cursinho e acha que é melhor do que nós!?
Hiure: eu mexo em carros desde moleque, montei meu carro todo quase do zero, mexo em clássicos e em importados sempre, sou tão mecânico quanto vocês todos!!
Gabriel: porra nenhuma, é só um riquinho que quer mandar e desmandar de novo.
Hiure: o que você quis dizer com isso?
Gabriel: você entendeu, Capitão.
A postura defensiva deu lugar a uma cabeça erguida e um olhar firme.
Hiure: tem algo entalado que queira me dizer, Sub Tenente?
Gabriel: tenho sim, na guerra você fez o que quis, pintou o caralho nos campos e no fim recebeu posição e título, agora que o regime acabou você quer voltar a um lugar de comando.
Hiure: eu fiz o que devia fazer naquela guerra, fiz o melhor que pude e melhor que muitos e só diz isso por causa do seu primo Fernando.
Gabriel: Fernando morreu por sua culpa!!
Hiure: ele mesmo se matou por não me ouvir.
Gabriel: ELE ERA O CAPITÃO!!!
Hiure: e eu era o Tenente, seu braço direito, meu dever era aconselhar, mas ele nunca me ouviu por conta de teimosia e arrogância e esse foi o resultado, Fernando morto e vários dos meus irmãos e irmãs, salvei quantos eu pude.
Paulo: e ai você se tornou Capitão e liderou os filhos de Felipe na sua divisão, essa é a irmandade que você diz?
Hiure: Felipe é mru tio, os filhos dele receberam ordens e me respeitavam por quem eu era.
Jonas: é verdade.
Diego: fique quieto ai.
Jonas: não, Hiure foi um Capitão mil vezes melhor do que o traste do seu primo, Gabriel, perdi minha irmã caçula naquela explosão que Hiure avisou, então cala a boca, só tá revoltado porquê ele tão novo já é melhor do que você nunca vai ser, tô cagando pra todos, eu vou te seguir de novo, Capitão.
Hiure: valeu, Sargento.
Fábio: também vou seguir, tamo junto.
Mais vozes surgiram confirmando, cerca de metade dos mecânicos aceitaram e Hiure então sai rumo a um local específico; o Vice Alpha agia uma pilha de documentos quando batidas na porta interrompem ele, seu filho adentra o escritório e ele ergue a cabeça.
Hiure: ache um lugar, tenho um pessoal que topou, vai rolar.
Wellington: desculpa fazer isso pelas suas costas, eu só...
Hiure: tá tudo bem, no final deu tudo certo.
Wellington: já vi um lugar, cem mil.
Hiure: Ancestrais. Diz sem ar r se sentando na cadeira.
Wellington: ficou meio a meio, mas ele faz oitenta se pagarmos tudo logo de cara.
Hiure: não tenho quarenta mil sobrando.
Wellington: posso pagar sozinho agora e você vai me pagando sua parte com os lucros.
Hiure: tá, beleza, eu consigo, certo, vou ligar pro camarada.
Hiure: tu é foda com F maiúsculo, meu velho.
Tudo acertado, agora era questão de tempo até as coisas começarem de verdade.
A noite veio em Lupina, o período de regime mudou tudo, mas agora a normalidade estava sendo retomada e isso não só inclui a paz, mas também os problemas, se esgueirando pela escuridão algo vinha se aproximando da fronteira de Lupina pela parte sul, lobos, às dezenas, a grande maioria armada.
Lobo: Guilherme, tem certeza?
Guilherme: óbvio que eu tenho, o Loiro foi muito ferido na guerra e perderam muitos também, é a nossa chance, certo, Luan?
Era um rapaz de barba rala, mal feita, cabelo um tanto desgrenhado e preso, vestia roupas velhas, com alguns rasgos e furos, media 1,78 m.
Luan: sem dúvida nenhuma, dos quatro, ele é o mais fraco, logo o mais fácil de derrubar.
Era um rapaz negro com tranças enroladas e um cavanhaque pontiagudo, cicatrizes de garras que iam da boca até a nuca, media 1,67 m.
????: tem gente que não usa o bom senso.
A voz surgiu do nada, acompanhado dela surge som de passos, até que das sombras surge um rapaz negro, magro, com barba fechada e um longo sorriso.
Luan: quem é você?
????: vem até o território do Loiro e não sabe quem é ele?
Outra voz, desta vez surge um rapaz de pele clara, cabelo baixo e barba grande, na cintura repousava um par de espadas.
Guilherme: que porra é essa?
????: é o que vem antes do arrependimento de vocês.
Longos cabelos escuros, rosto liso, porte alto e um par de bastões apoiados nos ombros e sério.
Lobo: quem são eles?
????: não se preocupem, depois de hoje vocês nunca vão esquecer os Novos Astros.
Barba por fazer, cabelos castanhos, estalando os dedos e sorrindo arrogante.
Guilherme: Novos Astros? Eu não acredito, são eles?
Luan: talvez o índio ali, mas os outros eu duvido, são mais novos que nós, ouvi dizer que os Novos Astros são a elite da nova geração de Lupina.
Ryan: ouviu certo, mas acredite, somos nós, com a loba ausente.
Hiure: infelizmente pra mim e felizmente pra vocês.
Kaique: sobra mais.
Os lobos começaram a ficar nervosos até que um tiro irrompe a noite, Guilherme tinha um revolver apontado pra cima.
Guilherme: o primeiro que se cagar vai levar bala no meio da cara!!
Luan: recuperem a coragem, são impostores!!
Lobo: os Novos Astros foram nomeados pelo próprio Demônio da Sangria.
Lobo 2: e dizem que lutaram com ele pessoalmente.
Hiure: foi mesmo, tenho a marca pra mostrar. Diz puxando a gola da camisa e mostrando a queimadura.
A marca foi o suficiente pra constatar o fato até então não aceito.
Luan: somos trinta e sete lobos armados e vocês tem duas espadas e dois bastões, faz favor.
Kaique: regras gerais: sem mortes intencionais e sem transformação.
Hiure: regra pra Kaique: espada velha na mão esquerda.
Kaique: seu merda traiçoeiro, tá bom, regra pra Ryan: nada de sumir e usar passos de caça.
Ryan: tá certo, regra pra Rodolpho: só um bastão.
Rodolpho: pode ser, pra Hiure: só boxe.
Hiure: beleza. Responde rindo.
Kaique: agora ele vai usar a intimidação.
Hiure: não vou, só murro e foda-se.
Luan: o que eles estão falando o que? Estão brincando?
Guilherme: estão criando regras pra lutar? Que porra é essa!? Matem eles agora!!!!!
Os lobos atacam com toda a raça, os quatro atacam e logo se vêem num círculo de costas um para o outro.
Kaique: eles estão putos mesmo. Diz rindo.
Rodolpho: experimenta cercar quatro lobos com mais de trinta e não dar conta de um. Responde gargalhando.
Ryan: eu contei seis alphas entre eles, é um bom número para uma alcateia tão pequena.
Hiure: conto cinco, quatro. Diz golpeando dois alphas.
Tiros, facadas, socos, pauladas e até pedradas foram usadas contra os quatro, no fim das contas poucos arranhões superficiais foram causados aos quatro, Luan rastejava até um revolver, mas ai algo perfura sua mão, a espada de Kaique atravessou sua carne e fincou na terra.
Kaique: sossega aí, já acabou.
Ryan: pega teus lobos e some pra nunca mais voltar.
Luan: vocês me humilharam!!
Hiure: você invadiu o território de um Alpha, se você tá disposto a cair na briga tem que tá disposto a matar e também a morrer, sorte sua que invadiu o Sul, se fosse um dos outros três vocês teriam sido executados antes de poder ver o atirador.
Rodolpho: leva seus lobos pra longe e em paz, nenhum corre risco de vida, faz seu papel de líder.
O lobo se levanta e vai ajudando os demais a ir, quando ia tocar numa arma a espada de Kaique o barra.
Kaique: todas as armas ficam.
Hiure: o que você tá fazendo?
Kaique: deixa comigo, vão embora, agora!!
Os invasores se vão pela noite deixando o questionamento na mente dos irmãos.
Rodolpho: por que reter as armas?
Ryan: fora não deixar o inimigo armado?
Hiure: tá além disso, bora, fala.
Kaique: olha quanta arma, tem de tudo aqui e a maior parte está num bom estado, podemos vender.
Hiure: tá maluco? Isso tudo aí nem registro deve ter, quem iria comp... não, nem vem.
Kaique: qual é? Você pode fazer a ponte.
Hiure: nem fudendo, não vou fazer essa merda, pode ir parando.
Ryan: do que vocês estão falando?
Hiure: ele quer que eu fale com Helmar sob essas merdas aí, não vou.
Kaique: Hiure, pensa, devemos conseguir vinte, vinte dois mil nisso tudo, dá cinco e quinhentos pra cada um, é uma boa ajuda, todo mundo aqui tem contas pra pagar.
Hiure: não, isso... isso é verdade, comecei um negócio novo, vou precisar de quarenta mil pra pagar só a minha parte inicial.
Kaique: viu só?
Rodolpho: Kaique tem razão, ter meu bolso cinco mil mais gordo não é nada mal.
Hiure: eu falo com ele, mas não garanto que a transação vai ser feita.
No Oeste o rapaz chegava batendo na porta, Vaneska o atendia.
Vaneska: Hiure!! Que bom te ver, meu filho, faz tempo.
Hiure: oi Vane, tava com saudade também, vida corrida, nem aqui tenho vindo, desculpa.
Vaneska: desculpa nada, por sorte tem um bolo de banana na geladeira.
Hiure: com canela da padaria da esquina?
Vaneska: esse mesmo, aceita? Deve ter metade ainda, é todo seu.
Hiure: eu amaria comer, eu juro, mas eu não vim numa visita social, tenho negócios a tratar. Diz pegando a mão dela e balançando uma enorme mala que carregava.
Vaneska: negócios, você?
Hiure: é necessidade.
Vaneska: meu filho...
Hiure: desculpa, mas pode avisar a ele?
Vaneska: aviso sim, espera aqui na sala.
A Alpha vai até o escritório, Helmar se recostava na cadeira de couri e de costas para porta, fumava um charuto e falava ao telefone rindo alto.
Vaneska: Helmar, você tem visita.
O lobo para a ligação e se vira ainda rindo e pergunta com a cabeça de quem se tratava.
Vaneska: seu genro.
O riso desapareceu imediatamente do semblante de Helmar.
Helmar: retorno depois, tenho um assunto à tratar.
Ele joga o celular de qualquer forma sob a mesa.
Helmar: o que ele quer?
Vaneska: chegou com uma mala grande, acho que são negócios.
Helmar: e esse moleque lá tem negócios!?
Vaneska: ele pediu pra falar com você, só vim avisar, vai receber?
Helmar: manda ele vir.
O recado foi passado e o rapaz sobe para o escritório, era a segunda vez na vida que ia para aquele cômodo, ele bate na porta e adentra em seguida.
Helmar: Vaneska me falou que você tem negócios a tratar comigo, o que é? Pergunta em pé de costas olhando a janela.
Hiure: acabei com uns invasores e fiquei com espólios, queria saber se te interessa.
Helmar: que tipo de espólios?
Hiure: armas, pistolas, espingardas, até algumas sub metralhadoras. Diz abrindo a mala.
Helmar: veio me vender armas? Pareço precisar do seu lixo?
Hiure: você consegue vender isso pra outro, sei disso, minha proposta é vinte mil por tudo.
Helmar: tem doze armas aí, numeração raspada em todas, fora algumas estarem um pouco avariadas, faço a dez.
Hiure: tá brincando? Dezoito é justo.
Helmar: dez.
Hiure: abaixo pra dezesseis, já é covardia.
Helmar: doze.
Hiure: quinze.
Helmar: dez.
Hiure: não brinque comigo, Helmar, eu pego tudo e vou embora!!
Helmar: e pra quem vai vender isso? Sou o único que mexe com esse tipo de sujeira, seu pai ou seus tios ficam longe desse tipo de coisa, então, como vai ser?
Hiure: eu fico com os dez.
Helmar: por ter sido, mesmo que tardiamente, inteligente, vou te deixar sair com doze.
O Alpha se senta e puxa uma gaveta a sua direita, logo depois colocou maços de dinheiro.
Helmar: doze mil, bem aqui, conta aí.
O rapaz começa a contar nota por nota, o Alpha entra em ligação.
Helmar: Jonas, como é que tá? Escuta, tô com oito armas aqui, cinco pistolas beretta 9mm, uma espingarda cano serrado e duas SMGs calibre 45, tem munição em todas, mas não completas, mando até uns canivetes borboleta de brinde, faço tudo a vinte e seis pra você, te entrego na porta de casa com lacinho rosa e tudo.
Ao ouvir aquilo o rapaz o olha incrédulo e revoltado.
Helmar: fechado então, forte abraço.
Ele desliga a ligação e encara o rapaz sem entender.
Helmar: dificuldades pra somar?
Hiure: vendeu a vinte seis mil o que me comprou a doze!? Acha que eu sou algum palhaço!?
Helmar: não, eu acho que você é um ninguém, por isso paguei barato.
Hiure: eu sou um Eduardo?
Helmar: seu sobrenome não tem peso nesse mundo, garoto, você nunca fez isso antes, logo não tem experiência, não tinha outro comprador, o que me faz sua única opção e o maior agravante, você não tem nome ou título.
Hiure: sou um Novo Astro, como sua filha, sou um Capitão de elite.
Helmar: isso tinha valor enquanto estávamos sob regime, sem uma guerra esses titulos e cargos não valem nada, nem mesmo uma alcunha tem, paguei barato porquê você é você e vendi a esse preço porquê sou eu, conseguiria até uns trinta e dois com um pouco de jogo, mas eu queria mostrar pra você a diferença entre nós, você é só um moleque com um pouco de talento e eu...
Hiure: é um Alpha.
Helmar: não, isso não é coisa de Dominante.
O rapaz engole seco, estava humilhado e furioso, ele apanha o dinheiro e a mala e sai do escritório apressado, na escada encontrou com o cunhado.
Heitor: Hiure, tá vindo do escritório?
Hiure: me deixa, Heitor, me deixa quieto. Responde grosseiramente.
Heitor: pera aí, queria falar com você.
Hiure: que parte de "me deixa" você não entendeu!!? Rosna furioso.
Heitor: eu só...
Hiure: só me deixa quieto por hora, tá?
O rapaz deixa a casa e se encontra com os irmãos.
Ryan: achamos que ia levar um dia lá dentro, como foi?
O caçula nem respondeu, só seguiu reto esbarrando nos irmãos.
Kaique: que porra é essa? O que houve?
Hiure: o que houve!? O que houve!? Tá de putaria!?
Rodolpho: fala direito com seu irmão.
Hiure: não me vem com essa!! Vocês não ouviram o que eu ouvi!
Ryan: explica logo.
Hiure: eu fui lá, consegui o dinheiro.
Rodolpho: quanto conseguiu pra geral?
Hiure: doze.
Kaique: caralho, doze pra cada!?
Hiure: não, doze no total, três mil pra cada.
Ryan: como assim? era pra ser vinte, deveria render cinco pra cada.
Hiure: eu pedi, tive sorte de sair com doze, quase sai com dez, ele pisou em mim, me tratou feito um nada, nunca fui tão humilhado e pior, antes de sair ele vendeu tudo por vinte oito e me disse que teria feito mais, disse que era coisa de Dominante.
Kaique: te dizer, seu sogro é um tremendo...
Rodolpho: vai mesmo insultar um Alpha na fronteira?
Kaique: vamos embora.
Hiure: aqui estão suas partes, eu vou pra casa.
O jovem lobo segue pra casa de seu pai, ele entra e põe o dinheiro diante dele na mesa de centro da sala.
Wellington: que isso?
Hiure: três mil da minha parte, agora resta quarenta e sete, eu vou indo.
Wellington: espera aí, de onde veio esse dinheiro? Achei que ia começar a pagar depois.
Hiure: eu dei um jeito, só abate.
Wellington: não, espera aí, que dinheiro é esse? Seu cheiro, veio do Oeste?
Hiure: eu vendi algumas coisas pra ele, tá tudo bem.
Wellington: fez negócios com aquela besta?
Hiure: já foi, tá feito.
Wellington: o que você fez?
Hiure: nem adianta insistir, só pega o dinheiro e acabou.
O Vice pega o dinheiro e rasga de uma única vez.
Hiure: o que você tá fazendo!? Você não sabe o que eu tive que tolerar por esse dinheiro!!! Grita pegando os pedaços.
Wellington: nem quero imaginar, não me venha aqui de novo com o dinheiro sujo dele.
O rapaz se levanta, encara o pai e sai da casa dele rumo a própria; Kaique foi encontrar uns primos por parte de Felipe, Ryan foi para casa e Rodolpho foi ver a mãe, assim que chegou foi recebido pelo pai que estava na varanda.
Jocimar: olha só, lembrou que tem pais?
Rodolpho: tá ficando um velho dramático?
Jocimar: olha o respeito.
Rodolpho: cadê mamãe?
Jocimar: nem um "boa noite"?
Rodolpho: eu mesmo procuro, valeu por nada.
O lobo adentra a casa e acha a mãe preparando a janta.
Rosana: vocês dois, querem dar um tempo?
Rodolpho: mãe, queria falar com a senhora.
Rosana: que foi? Pega um prato.
Rodolpho: tá, me escuta.
Rosana: tem strogonoff na panela grande.
Rodolpho: obrigado, mas eu queria falar sobre Pablo.
A loba teve uma leve paralisia, mas seguiu mexendo nas panelas.
Rosana: pega arroz, tá fresquinho.
Rodolpho: mãe!
Rosana: eu ouvi, mas não concordo, então esquece isso.
Rodolpho: dessa vez é diferente.
Rosana: não deveriam brigar.
Rodolpho: não é briga, é disputa.
Rosana: o avô de vocês não iria gostar de ver netos brigando.
Rodolpho: vai ligar pra ele ou não?
A loba para de mexer na comida, suspira e encara o filho.
Rosana: ele deve estar na Argentina agora.
Rodolpho: liga pra ele, nem que eu mesmo vá pra lá.
Rosana: tá certo, só tome cuidado dessa vez, não quero que acabe como o último encontro de vocês dois.
Rodolpho: vai ficar tudo bem.
O caçador chega em casa, mas assim que fecha a porta do carro ele se depara com uma figura sentada na frente de sua porta.
Ryan: agora invade minha casa?
Laura: eu vim aqui por um ponto final nessa história.
Ryan: tá bem... responde sem entender.
Laura: é simples, fique longe de mim.
Ryan: como é que é?
Laura: você ouviu, foi no meu trabalho, na minha escola, me vigiou numa noite, já chega, eu não tenho tempo pra perder com um lobo feito você.
Ryan: então deixa eu ver se entendi, você veio do Norte até o Sul, me esperou na porta da minha casa só pra me dizer pra ficar longe? Desculpa se interpreto diferente.
Laura: não tem outra interpretação, é o que eu falei.
Ryan: não vou no Sul tem um tempinho, acho que sentiu a minha falta e arrumou uma desculpa pra vir me ver. Diz convencido se aproximando dela.
Laura: não dessa vez, caçador, não vim aqui ser seu pedaço de carne. Impõe com a mão no peito dele.
Ryan: então tá bom, já disse tudo, o portão de saída é bem ali, serventia da casa.
Laura: e você vai aceitar assim?
Ryan: ainda está aqui?
A resposta grosseira faz a loba dar as costas e sair irritada, até que é puxada e beijada.
Ryan: fala a verdade, veio aqui pra isso, fala. Diz segurando a cintura dela.
Laura: já teve o que quis? Pode me soltar agora?
Ryan: vai me dizer que não quer? Vamos, Laura, não adianta mentir.
Laura: eu não quero você.
O caçador a solta e a encara estranhando um pouco.
Ryan: não pode mentir pra mim, sou um caçador, sinto a mentira, vai, diz, em alto e bom som, anda.
Laura: eu não quero saber de você, agradeceria se sumisse.
Absolutamente nada, nenhum vacilo ou dúvida.
Ryan: eu não sei que truque você tá usando, mas eu sei que é mentira, é mentira!!
Laura: só porquê você quer que seja? Não ganhou essa, Capitão, sinto muito, perdeu essa caçada.
A loba dá as costas e calmamente deixa a casa do rapaz, este serrou os punhos e entrou furioso em casa.
No silêncio da casa de Hiure surge um som, um toque de telefone muito específico.
Hiure: oi amor.
Maria: tô saindo agora, topa uma comida italiana?
Hiure: pode ser, mó preguiça de fazer alguma coisa.
Maria: pode ser por aqui mesmo?
Hiure: vamos no Leste, tem tempo.
Maria: tá bom, vou passar em casa, daqui ums hora eu te ligo.
Hiure: amo você.
Maria: também te amo.
O lobo tomou um banho, uma calça preta, com as botas casuais cor de café e uma camisa cinza chumbo com as mangas dobradas, o anel no dedo e chave no bolso, foi quando seu celular tocou.
Maria: tô de saída.
Hiure: que rápida, tá com fome mesmo ou é saudade?
Maria: todas as alternativas anteriores, tô saindo.
O lobo entra no carro e sai rumo ao Leste, no caminho cumprimentou alguns amigos e conhecidos de lá até parar numa vaga do restaurante, saiu do carro, trancou e entrou.
Hiure: Lorena, boa noite.
Lorena: Hiure? Não tem reserva no seu nome.
Hiure: foi de última hora, diz que tem uma mesa disponível, esqueci de ligar.
Lorena: tem aquela ali perto do palco.
Hiure: ninguém reservou aquela?
Lorena: na verdade estou falando com um cliente que quer uma mesa.
Hiure: você confirmou?
Lorena: não.
Hiure: é minha.
Lorena: vai lá, daqui a pouco o show começa.
Em alguns minutos a loba chegou, um vestido azul fendado na perna direita, saltos pretos, cabelo preso no alto, um batom vermelho e brincos dourados, o lobo abre um sorriso arrogante e se levanta para puxar a cadeira.
Maria: muito obrigada, senhor Eduardo.
Hiure: de nada, senhorita, como foi a aula?
Maria: estressante, aquele professor de hematologia é um porre!!
Hiure: é aquele que não me deixava ficar na sua sala?
Maria: esse mesmo.
Hiure: tinha vontade de dar um sacode nele pelos deboches.
Maria: nem vale a pena, mas e você?
Hiure: hoje foi um bom dia, falei com os mecânicos a respeito do projeto.
Maria: e aí?
Hiure: alguns foram contra, mas uns caras que serviram na minha divisão aceitaram, já achamos o local, as obras começam amanhã.
Maria: amor, isso é ótimo!! Vai acontecer mesmo!!
Hiure: tô ansioso, um negócio desse não vai ser brinquedo não, mas não vai mesmo.
Maria: e você queria moleza?
Hiure: claro que não, mas administrar não era o que eu queria.
Maria: é inevitável pra você, seu objetivo é o topo, não basta ter força, sabe disso.
Hiure: eu sei, mas e você, tem alguma coisa pra mim, ou o restaurante foi do nada mesmo?
Maria: vamos pedir?
Hiure: tá... vamos.
O casal fez seu pedido individual e pediram um vinho recomendado pelo chef da casa, logo veio um tinto italiano de 68, ao terem seus pedidos servidos as cortinas do palco se abrem, som de salto alto na madeira do palco, das sombras surge uma figura familiar a todos, longo vestido vermelho, maquiagem clara e cabelos escovados num penteado retrô, e um sorriso contagiante Lorena estava quase irreconhecível.
Lorena: a casa agradece a todos os presentes e desejamos que tenham uma excelente experiência, apresentamos a noite dos pares.
As luzes diminuem, o palco brilhava como um sol, um silêncio total se rompe com as primeiras notas do piano sendo tocado por um rapaz e a loba enfim solta a voz na letra da música Amore Scusami.
Maria: amo essa música.
Hiure: você entende?
Maria: meu italiano já foi melhor, mas ouço ela tem muito tempo, sei toda.
Hiure: tanto tempo juntos e ainda tenho o que aprender de você.
Maria: amor, esse jantar tem um motivo sim.
Hiure: sabia.
Maria: recebemos uma visita de um dos cabeças da organização.
Hiure: um italiano.
Maria: sim, é uma visita comum, a princípio, recentemente um dos cabeças morreu, logo alguém tem que assumir o lugar, convidaram meu pai?
Hiure: seu pai vai embora para a Itália!? Isso sim vale um jantar. Diz alto e sendo contido pela loba.
Maria: fala baixo, tá doido!?
Hiure: foi mal, a notícia é muito boa.
Maria: você não entendeu, mesmo sendo uma máfia, a Cosa ainda é de certo modo um negócio de família, não é só ele, caso ele aceite, todos do Oeste vão, isso inclui minha mãe, meu irmão e a mim.
Hiure: como é que é?
Maria: vamos fazer uma visita depois de amanhã, só nós quatro, caso todos estejam de acordo nos mudamos.
Hiure: e você quer isso?
Maria: é claro que não, Lupina é minha casa, minha mãe também não deve querer, mas papai e Heitor querem, fica num impasse.
Hiure: vou falar com seu irmão.
Maria: nada disso, deixa Heitor na dele, a Itália tem a faculdade que ele quer.
Hiure: e não tem na Avanço?
Maria: não, é sobrenatural, a minha também.
Hiure: fisiologia sobrenatural.
Maria: sim, a Itália é outro mundo, a Cecilia então nem se fala, é um sonho, dá pra tirar muito proveito de lá.
Hiure: é só uma visita, né?
Maria: é.
Hiure: tudo bem então, vamos comer?
Maria: agora.
No Norte a amazona chega em casa, jogou a chave no sofá e foi ver a irmã, estava na varanda, varias garrafas vazias e um cinzeiro no chão.
Laura: como foi o dia?
Érica: o mesmo que ontem.
Laura: cheguei tarde, desculpa não avisar, eu liguei, mas acho que não viu.
Érica: eu vi... não queria falar com ninguém.
Laura: poxa Érica, eu ia pedir pra tirar a carne do congelador, eu ia temperar agora.
A jovem vai até a geladeira, ao abrir o congelador ela vê tudo vazio, estava cheio de manhã.
Laura: você tirou a carne? Pergunta na cozinha.
Érica nada respondeu, apenas tragou o cigarro e bebeu, até que a irmã vai até a varanda.
Laura: falei contigo, você tirou?
Érica: é...
Laura: e cadê?
Érica: eu...
Laura: Érica, cadê a carne do congelador? Tá vazio, eu fiz compras ontem.
Érica: que saco, Laura! Eu lá te devo satisfação!? Eu sou a mais velha!!
Laura: mas sou eu que tô trabalhando.
Érica: você não manda aqui! Impõe irritada e saindo.
Laura: eu moro aqui, onde tá a carne!? Eu fiz compra pra um mês inteiro, eu juntei um tempão pra poder fazer uma compra daquelas.
Érica: eu faço o que eu... o que eu quiser nessa merda de casa, porra! Grita tragando.
Laura: você não fez isso, eu te deixo dinheiro, você... vendeu as carnes? Vendeu a nossa comida?
Érica: minha erva ia acabar e aquela esmola que você deixa não dá pra nada, eu ia comer, mas ai eu pensei melhor, me deram cenzinho embalado pra presente.
Laura: cem!? Eu coloquei trezentos reais naquele congelador!! Eu levei dois meses juntando pra você trocar por bebida e drogas, por essa merda!? Grita tirando o cigarro da boca dela.
Érica: me devolve, agora, não estou brincando.
Laura: e acha que su estou, eu vou jogar essa merda no lixo e o restante tamb... Diz sendo interrompida por um soco no rosto.
A jovem cai no chão na hora, sua irmã pegou o cigarro e levou a boca.
Érica: falei que não estava brincando, a culpa é sua.
A caçula tinha sangue escorrendo da boca, ela limpa com o braço.
Laura: me machucou.
Érica: machucou nada, isso ai some já, já.
Laura: a mamãe proibiu você, Luíza e eu de brigamos assim.
A mais velha escuta aquilo e solta a fumaça.
Érica: e as duas abandonaram a gente aqui.
Laura: elas não nos abandonaram, elas morreram!!
Érica: dá no mesmo, a mamãe me deixou com vocês duas e a Luíza me deixou sozinha pra cuidar de você.
Laura: cuidar de mim!? Eu sustento essa casa, você e seus vícios desde que você perdeu seu braço, quem tá cuidando de quem!?
Érica: me respeita, garota, ainda sou a mais velha aqui, trate de me respeitar.
Laura: tá bem, deixa assim, eu errei mesmo, tá tudo bem. Diz se respirando fundo e limpando o sangue.
A caçula vai pro quarto, fechou a porta com força e se apoiou nela por dentro, lágrimas escorrem pelo rosto e pingam no tapete, ela só se jogou na cama, cobriu o rosto com o travesseiro e gritou o mais forte que pôde com todo o fôlego que tinha.
Os dias se passam e a família do Dominante embarca rumo a Sicília, um vôo longo e muito tedioso para o Alpha; assim que chegam são recebidos no aeroporto, um carro de luxo os aguardava, um grande o bastante para o Don dividir com sua família, desceram de encontro com Salvatore e seu neto.
Helmar: é um prazer estar aqui.
Salvatore: e pela primeira vez sem um péssimo motivo, venham, lhes mostrarei onde ficarão, Gael, ajude com as malas, por favor.
Gael: si, nono.
Era um jovem de 23 anos, 1,87 m, cabelo baixo e bigode enrolado, vestia um terno elegante e de corte fino, este olha a loba nos olhos, sorri e sai com as malas.
Helmar: um empregado podia fazer isso.
Salvatore: humildade, Helmar, humildade, sem contar que ele é prestativo.
Helmar: o lugar está lindo, bem cuidado.
Salvatore: nostra casa.
Vaneska: está bem diferente.
Salvatore: nós fizemos um acordo com os Cosa humanos, trocamos alguns favores e ficamos com a cidade pra nós.
Helmar: não soube disso.
Salvatore: foi durante o julgamento da Tavola, muitos realmente não sabem.
Helmar: é bom estar de volta, tanto tempo sem respirar esse ar com a brisa marítima, me sinto em casa.
Vaneska: vamos devagar.
Helmar: é o que eu sinto.
Salvatore: tenha calma, acabou de chegar, vamos fazer assim, as crianças vão com Gael visitar as faculdades, você vem comigo falar de negócios e Vaneska...
Vaneska: vou andar pela cidade, já tem tanto tempo, tenho lugares pra ir.
Todos seguem seus próprios objetivos; o dia foi ótimo para todos, a faculdade era um paraíso, uma estrutura muito semelhante à Avanço, Vaneska visitou velhos amigos e falaram sobre a vida, Helmar se reuniu com os demais Dons que lideravam a Cosa Nostra, assim o tempo se passa, na noite anterior ao regresso o Dominante se reunia com os Dons.
Helmar: essa oportunidade não será desperdiçada, eu garanto a vocês.
Salvatore: você nos honra.
As mãos são apertadas com um largo sorriso mútuo, assim a família do Oeste retorna ao Brasil, no aeroporto estava o jovem lobo a espera da namorada sorrindo alegre.
Helmar: esse desgraçado tinha mesmo que vir?
Hiure: meu interesse aqui se restringe a elas duas, não se sinta incluído.
Helmar: moleque de merda, agradeço aos Ancestrais por não ter que te ver mais!!
As palavras do Alpha martelaram e ecoaram na cabeça do rapaz.
Hiure: Maria...
Maria: precisamos conversar, é sério.
A viagem para a Itália jamais seria simples ou esquecível, a conversa deverá ser longa e muito ponderada; ao mesmo tempo o vício da irmã e o conflito emocional circula o caçador e a amazona, Kaique enfrenta o dilema de não ser aceito pela nova família e Rodolpho tem assuntos pendentes com seu primo, os Novos Astros seguem seus próprios passos, desafios e enfrentando as consequências de suas escolhas.
Continua...
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Presas e Garras
WerwolfEm uma cidade do Rio de Janeiro chamada Lupina existem quatro alcatéia dominantes, a cidade foi dividida pelos antigos Alphas, na alcatéia do Sul vivem os quatro jovens principais, Rodolpho, Ryan, Kaique e Hiure eram mais do que amigos, verdadeiros...