Presas e Garras

A vergonha de um pai

Os quatro Capitães tinham seus assuntos bem singulares, Hiure foi ao leste junto do afilhado e da namorada falar com Victor, Rodolpho e seus primos se encontraram com o espírito de Antônio, logo em seguida Rodolpho se encontrou com Ryan e Kaique, os três tinham questões a se resolver com Loiro.
No leste Hiure e companhia são recebidos por um lobo do Victor, este se encontrava no terceiro andar, na antiga sala do velho Pelo Branco, Maria e o pequeno Italo esperariam do lado de fora.
Hiure: acho que você sabe o motivo de eu estar aqui.
Victor: Robert.
Hiure: se já sabe, então pode começar sem rodeios.
Victor parecia se cansar, como se fosse uma história longa e trágica.
Victor: Robert Turner, esse é o nome do lobo que um dia Pelo Branco chamou de filho. Fala com pesar.
Hiure: o que!?
Victor: ele fez parte da alcatéia até os anos 90, nesse período nossa alcatéia sofreu um forte golpe devido a primeira grande guerra com os vampiros do Vladimir, de vinte e seis mil passamos para doze mil, precisávamos de mais licantropos, meu pai recebeu uma idéia do Viajante, adotar kriegshunds e assim seria feito.
Hiure: mas não existem krieghunds aqui no sudeste do país.
Victor: antigamente existiam aos milhares, a notícia se espalhou, o maior dos lobos queria adotar cães, para eles, foi o mesmo que dizer que um deus os queria junto de si, no entanto pouco depois da notícia se espalhar ouvimos relatos de mortes brutais de cães pelas redondezas da região, os que queriam se juntar a nós ou morreram ou foram amedrontados, na época Marcos e Felipe despacharam guardas e caçadores para investigar, depois de algumas semanas descobrimos que havia uma organização.
Hiure: isso não consta em registro algum, nunca ouvi falar disso.
Victor: não era algo para se tornar público, poderia incentivar o terrorismo novamente.
Hiure: entendo, mas que organização era essa?
Victor: Lupi de Tenebris, do latim lobo das trevas, era formada por lobisomens que odiavam os krieghunds só por serem cães, os achavam impuros, de sangue sujo e inferiores, eram milhares desses lobos, fomos chegando cada vez mais perto da verdade, era difícil os fazer falar qualquer coisa, mas perante ao meu pai eles falavam tudo, durou cerca de três meses até que pudéssemos chegar no líder, meu pai, eu e mais três lobos fomos em direção a possível toca do Alpha das Trevas, ficava no topo do pico do lobo, em uma encosta na verdade, pelo caminho haviam inúmeras armadilhas, coisa de caçador, quando enfim chegamos não pudemos acreditar em nossos sentidos, era Robert que se sentava numa cadeira de couro atrás de uma mesa, por todo o lado se viam janelas e armas das mais variadas.
O Grande Alpha mergulha em lembrança e volta aquela noite vinte anos atrás.
Pelo branco: Robert!?
Robert: pelo visto aquelas armadilhas que eu montei não foram suficientes, mas eu não o esperava, papai. Fala com desdém.
Pelo Branco: temos investigado os lobos das trevas, foi assim que chegamos aqui.
Lobisomem: tivemos muito trabalho e perdemos muito dos nossos, ômegas, betas até mesmo alphas morreram.
Pelo branco: me diga filho... Me diga o motivo desses massacres tão brutais. Fala abalado.
Robert: a lei é clara, a sobrevivência é o direito do mais forte, estou apenas eliminando o mais fraco, esses sacos de pulgas de sangue sujo não merecem um lugar sob sua sombra. Fala com orgulho abrindo os braços.
Pelo Branco: isso quem decide sou eu, você matou milhares, criou uma organização terrorista e me traiu.
Robert: trai? Nunca, eu apenas fiz o melhor para nossa família.
Pelo Branco: isso é insanidade e preconceito falando, eu ensinei a igualdade e o respeito, à todos vocês.
Robert: você fazia discursos enquanto cães vinham até nós para nos sujar e contaminar! Grita se impondo.
Pelo Branco: você está corrompido, é preconceituoso e um lobo cruel! Fala em tom paternal.
Robert: e você se tornou um velho cego e imbecil!!
Todos se surpreendem com as palavras de Robert.
Pelo Branco: é, realmente, eu fiquei cego... Fala entristecido.
Victor: pai não é culpa sua.
Pelo Branco: as ações de um filho são responsabilidade do pai!!
Os lobos fizeram silêncio total e absoluto, até mesmo Robert não tinha palavras.
Pelo Branco: você traiu seu pai, matou pessoas inocentes, por sua corrupção, cães livres e pacíficos viveram o horror e a devastação de um massacre!!
O Grande Alpha usou sua lança para quebrar tudo naquele recinto, até as paredes ele arrebentou com o golpe.
Pelo Branco: VOCÊ NÃO É DIGNO DE SE CHAMAR MEU FILHO!!! Grita em fúria.
Sem perceber o Grande Alpha é atacado por Robert, este lança Pelo Branco pela porta, seus lobos sabiam que não podiam interferir, o lobo das trevas se transformou em crinos assim como o Grande Alpha, um lobisomem gigante de 3,06 m surgiu, coberto de pelos genuinamente brancos, em sua mão estava sua lança, sob seus ombros seu sobretudo, que agora estava a cair no chão, a luta tem início, Robert atacava sem pudor, Pelo Branco apenas se defendia e recuava, até que acerta o lobo das trevas com o cabo da lança, Pelo Branco o derruba e trata de dilacerar o braço de Robert, ele fez diversos cortes, sua lança era feita de prata por tanto o dano era muito maior, Robert sabia que seu braço ficaria inútil, Pelo Branco então atravessa o mesmo braço com a lança, Robert rugia e rosnava de dor, o velho lobo segura o pescoço do lobo e começa a apertar de tal maneira que seu oponente se afundava no chão, as garras cravaram na nuca do lobo das trevas, ele ia ser morto, Pelo Branco então libera sua intimidação predatória, era como estar na presença de um titã da mitológico, sem saída e com medo, Robert faz uma última tentativa de se salvar.
Robert: você vai mesmo matar seu próprio filho? Vai pai!? Grita em agonia e terror.
Pelo Branco para de apertar e segura firme a lança ainda cravada no braço do lobo maligno, ele se levanta e arremessa Robert do pico, o Grande Alpha pôde ver o lobo que um dia ele protegeu e chamou de filho cair entre as árvores e se chocar em grandes rochas, até ser consumido pela escuridão enquanto gritava, Pelo Branco volta a forma humana aos prantos, Victor cobre os ombros do pai com seu sobretudo.
Pelo Branco: que tipo de pai eu sou? Eu matei meu próprio filho!
Victor: aquele não era meu irmão nem seu filho, era um lobo das trevas, nosso inimigo, sua dor irá passar meu pai, eu prometo.
Victor retorna de sua história, Hiure o olhava assustado.
Hiure: não posso acreditar, tanto ódio a troco de nada.
Victor: eu aconselho você a deixar isso para os lobos mais velhos.
Hiure: por que!? Pergunta indignado.
Victor: porque Robert Turner é um louco, sem consciência ou misericórdia, se ele está remontando sua alcatéia das trevas, que os ancestrais nos ajudem.
Hiure: vamos encontrar o desgraçado e matar ele.
Victor: ele se ocultou por 20 anos se não quiser ser encontrado ele não será, os alphas vão ter que trabalhar noite e dia, se ele puser seus arautos na jogada teremos dificuldades extremas.
Hiure: arautos?
Victor: os quatro arautos do Apocalipse, seus quatro maiores e mais fiéis lobos das trevas.
Hiure: eu vou ficar e eu vou lutar. Fala decidido.
Victor: ele marcou a criança, ela é sua prioridade, você agora tem que cuidar do seu afilhado.
Hiure: FILHO!! Ele é meu filho, como posso proteger ele? Esse infeliz é como uma sombra, eu vou lutar essa guerra e vou vencer, depois disso eu pego meu filho e sumo dessa terra amaldiçoada! Fala irritado e em imposição.
Victor: eu te entendo.
Hiure então toma a direção da porta, põe a mão na maçaneta e fala para Victor.
Hiure: não vou deixar um maníaco chegar perto do meu filho! Se for preciso eu faço a maior chacina que a história vai registrar! Fala irritado e saindo da sala.
Do lado de fora parada próxima a porta estava Maria com Italo no colo.
Maria: agora você decide tudo sozinho?
Hiure: não era pra você ouvir.
Maria: e como era pra ser? Eu ia acordar e notar que você não está na cama, nem suas roupas no armário ou seu carro na garagem?
Hiure: vamos para casa, lá conversaremos melhor, sim?
Maria: tá bom então. Fala séria.
Depois de alguns minutos o jovem casal finalmente chega a casa deles, logo depois de por Ítalo para dormir, o casal começa a conversa.
Maria: você então ia fugir?
Hiure: não, eu iria te convencer aos poucos.
Maria: convencer a largar meu lar e minha família.
Hiure: não! A se distanciar dessa terra maldita! A fugir dessas desgraças daqui.
Maria: esse é o nosso lar, nossa terra.
Hiure: eu nunca me senti em casa aqui! Sabe o que é se sentir deslocado dentro da própria cidade natal, dentro da própria casa!?
Maria: pode não ser o paraíso, mas não é o inferno.
Hiure: pra mim é! Mortes atrás de mortes, perdas atrás de perdas, guerras atrás de guerras, é um ciclo infernal sem fim!
Maria: e você vai pra onde?
Hiure: pra qualquer lugar que me dê distância daqui e segurança ao meu filho.
Maria: ele não é seu filho!
Hiure: ele é meu filho desde que a maldição desse lugar o atingiu!!! Sou o único que pode proteger o garoto!!! Não vou me desviar disso.
Maria: está fazendo isso por você, pelo seu sonho em ser um Grande Alpha!
Hiure: NÃO!!! Eu não estou! Vamos Maria, temos um mundo todo só nosso, vamos fugir daqui, ir para um lugar sem tragédias, fazer nossas próprias histórias.
Maria: onde houver pessoas haverá tragédia, aqui ou do outro lado do mundo não fará diferença.
Hiure: mas pra mim irá fazer. Fala emotivo.
Maria: pra mim também, aqui é o meu chão, meu lugar, eu faço parte daqui.
Hiure: não Maria, não me faça ter que escolher, eu não quero essa maldição também.
Maria: que escolha?
Hiure: entre estar preso aqui e com meu amor, ou livre e com meu filho, eu vou escolher a segunda opção sem pensar duas vezes. Fala já chorando
Maria: você não pode Hiure. Fala em tom triste.
Hiure: eu quero você, mas ele precisa de mim.
Maria: não faz isso.
Hiure: não está me dando escolha Maria, está preferindo um lugar a mim, a única coisa que me restou fazer foi isso!
Maria: por conta disso vai jogar fora tudo o que vivemos e íamos viver!?
Hiure: eu amo você, meu sonho era te ver de vestido branco, ter uma bela casa, você é meu sonho. Fala chorando.
Maria apenas fica em silêncio o olhando.
Hiure: eu lutei demais por você e me orgulho do resultado, você é meu grande amor.
Maria: você diz que vai me deixar e se declara? Indaga confusa.
Hiure: estou te mostrando o tabuleiro todo, você falou das nossas experiências, mas sem meu esforço nenhuma delas teria acontecido.
Maria: o que quer dizer com isso!?
Hiure: quero dizer que em três anos nunca a fiz duvidar que eu a amava! Quero dizer que o único que tem lutado por nós sou eu! Quero dizer que a única vez que te pedi pra lutar você não lutou! Grita em desabafo.
Maria: o que você está me pedindo eu não posso fazer por ninguém, nem mesmo você.
Hiure: digo o mesmo, não posso ir contra meus ideais e responsabilidades, pela última vez, vem comigo, vamos esquecer essa discussão, ou me deixe e seja mais um motivo pra eu querer partir. Fala sério e com clara tristeza nas palavras.
Maria: me perdoe, mas essa estrada você terá que continuar sem mim. Fala recuando.
Hiure: eu vou sofrer e chorar, mas eu sobrevivi a perda da minha mãe, vou sobreviver a sua perda também.
Maria: vou mandar um lobo vir buscar minhas coisas e nada mais, eu já beijei você, já dormi com você, mas eu não vou abandonar tudo por você, vou lutar por essa terra.
Hiure: essa terra traga tudo, foi o Viajante, minha mãe, Pelo Branco e agora nosso amor, eu espero que não duvide de sua decisão. Fala com profunda tristeza.
Horas depois um lobo do oeste chega numa L200, as malas de Maria são postas no carro, ela entra e passa o cinto, o carro liga e começa a se mover, com o ganho de distância, Maria olhava para o retrovisor e via o lobo que ela ama aos choros de joelhos, ela não suporta a cena e cai em choro também.
O jovem alpha manda um de seus lobos levarem Italo para a casa de Wellington, ele vai até o carro, prende o menino a cadeirinha.
Italo: bibi, passeio. Grita animado.
Hiure: é pequeno, você vai ver o vovô.
Italo: vovô?
Hiure: é, o vovô. Fala papai, fala. Pede emotivo.
Italo: papai? Pergunta confuso.
Hiure: é meu pequeno, papai. Fala batendo no próprio peito.
Italo: papai!!! Grita feliz.
O carro leva o menino, Hiure entra em sua casa e vai até a cozinha, quebra o vidro do bar e pega as maiores garrafas, bebe o conteúdo de cada uma muito rápido, eram bebidas de lobo, ele já embriagado começa a quebrar tudo, se foram, fogão, pratos, pia, geladeira entre outras coisas, entre golpes de quebrar e choros estavam também gritos de dor e sofrimento.
Dois jovens, um amor incomparável, um futuro maravilhoso, tudo interrompido por único lobo, a tristeza e o sofrimento vão rondar esses dois, claramente será um período difícil para eles.

Continua...

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