Segredo revelado

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As aulas no colégio técnico se iniciam, os lobos estão ansiosos por isso, menos Hiure, o colégio tinha como horário de entrada 7:20 da manhã, ele precisaria acordar as 6:00 da manhã para pegar dois ônibus, mas seu pai o acordava todo o dia as 5:00 para seu rigoroso treinamento.
Wellington: tá na hora, vamos. Diz na porta do quarto.
Hiure: tá certo.
Eles vão até o campo de treino que ficava na própria casa dele, lá havia de tudo quanto era equipamento.
Wellington: vamos, kata.
O jovem lobo começa a fazer movimentos de karate sozinho, como treino sombra do boxe.
Wellington: olha a postura, está abaixando muito o braço, ajuste a linha do quadril!!
As exigências eram perturbadoras, não importava o quanto se esforçasse ele não alcançava os padrões do pai.
E foi assim, flexões com pesos extras, abdominais, agachamento com peso, karate, reflexos e por fim corrida de 5 quilômetros e meio até o ponto de ônibus, toda essa cobrança deixava Hiure muito cansado e tenso.
O dia de aula começa, os lobos estavam com tudo, as aulas em maioria eram o que eles esperavam, eram os poucos lobisomens da escola.
Rodolpho: é como estar em outro mundo, não tem quase nenhum outro lobo aqui, não dá nem pra conversar direito.
Hiure: o velho nos mandou nos comportamos, mas tem umas garotas aqui que só os Ancestrais.
Kaique: verdade, viu aquela ruivinha de enfermagem?
Hiure: a morena de administração é...
Enquanto falava o inesperado ocorre, Maria Júlia aparece na escola, vestia o uniforme, o que significava que era aluna ali, uma deusa em meio a humanos.
Rodolpho: quer dar uma volta com a gente?
Maria: seus irmãos estão ali, melhor não, eu tô indo pra aula de anatomia, nos fala...
Hiure: oi Maria, que surpresa.
Maria: oi... nossa, você apareceu do nada...
Hiure: te vi aqui e quis dar um oi.
Maria: oi... Dolpho eu vou indo.
Ela se vai e o lobo pelo hábito dá uma espiada e leva um cascudo do irmão mais velho.
Hiure: ei, que idéia é essa?
Rodolpho: eu que digo isso? Você usou a velocidade em público, tá louco!?
Hiure: eu manerei, além do mais não tinha ninguém aqui e valeu a pena, ele tem uma bela...
Rodolpho: Hiure!
Hiure: bela voz, eu gosto.
Rodolpho: você não vale nada.
O dia foi longo, mas ficaria pior, o treino noturno deles seria diretamente com o Alpha.
Renato: prontas meninas?
Ryan: um dia você sabe que vai pagar por isso não é?
Renato: não se vocês continuarem a me ameaçar ao invés de atacar.
O mais velho pegou um bastão de metal, Ryan sacou as garras, Kaique uma espada e o caçula serrou os punhos, todos brilham os olhos, o mais velho e o caçula tinham olhos rubros de alphas, os do meio eram os azuis de betas.
Renato: que medo. Brinca.
Os quatro atacam com tudo, apesar da diferença de estilos, era muito bom o trabalho em equipe, Ryan se aproxima com um golpe de garra que ia no rosto do Alpha, este simplesmente deu um passo para trás, em seguida veio um soco na direção das costelas, mas ele segura e joga Hiure por cima do ombro, mas esse cai de pé, Rodolpho então surge dando um golpe horizontal com o bastão, o Alpha segura e puxa, mas ele faz força contra, Kaique vem pela direita e tenta um golpe de espada, o Loiro segura a lâmina com a mão sem se cortar, puxou e segurou as mãos do rapaz, Ryan veio por trás e tenta um golpe, mas o Alpha lhe acerta com um pontapé no estômago, mas este segura sua perna, por cima vinha o caçula tentando um golpe com a palma da mão no rosto, mas ele desvia a cabeça para o lado e morde o antebraço do rapaz e o joga, nesse mesmo instante ele para de puxar o bastão e empurra com força, Rodolpho perde o equilíbrio para trás, mas aproveita para dar um mortal, assim que põe os pés no chão o caçula vem voando contra ele o jogando no chão, Kaique teve seu braço torcido, Ryan que segurava a perna do Alpha foi jogado por um chute, os dois nem se levantaram quando Ryan caiu por cima deles, seguido de Kaique, a luta continuou sem nenhum sucesso por parte dos rapazes, o objetivo do treino era simples, cada um deles tinha que ou sobreviver 45 min contra ele ou o acertar com pelo menos um soco, não chegaram nem perto disso, no fim ele saiu gargalhando.
Wellington: é isso? Só isso?
Renato: o que?
Wellington: você mais brincou do que lutou com eles!
Renato: vou parar de brincar quando não for mais possível fazer isso.
Wellington: ou seja, mais trabalho pra mim.
Renato: você dá conta, é o Bravo no fim das contas. Diz pondo a mão no ombro do Vice.
Os meninos se levantam doloridos e zonzos.
Rodolpho: vocês viram o último golpe?
Ryan: último? Não vi nem o primeiro!
Kaique: achei que minha técnica de espada tinha melhorado, mas não deu nem para o cheiro.
Hiure: eu treino feito um condenado pra passar essa vergonha!?
Ryan: calma, podia ser pior, podia ter sido com tio Wellington.
Rodolpho: nem me fale, eu estaria fraturado ao invés de zonzo.
Ryan: pior que é amanhã, tamo fodido.
Hiure: vamos, temos que tomar um banho e por gelo nesses machucados.
Marcas roxas, contusões e leves ferimentos aos ossos, mal se recuperaram da surra dada pelos lobos do Leste e já estavam machucados de novo.
Kaique: droga de cura, demora muito.
Rodolpho: não reclama, humanos levam meses pra curar fraturas, vocês levam menos de uma semana.
Kaique: é, mas você e Hiure levam no máximo dois dias.
Ryan: ele são alphas né.
Hiure: eu não pedi por isso!!
Rodolpho: ele só quis dizer que a cura é diferente, não leva pro coração não.
Hiure: foi mal, topam um lanche?
Ryan: durmam lá em casa, podemos pedir uma pizza.
Hiure: duas pra cada?
Kaique: duas de dez né?
Rodolpho: fechou, vamos.
Hiure: vou avisar ao velho.
Ryan: beleza.
Os três saem e aguardavam na porta da academia, já Hiure foi falar com o pai.
Hiure: velho, eu vou pra casa de Ryan e Kaique comer uma pizza, beleza?
Wellington: não. Responde enquanto tecla no computador.
Hiure: o que?
Wellington: tem treino amanhã cedo, você sabe.
Hiure: pensei que pudesse faltar pelo menos amanhã.
Wellington: não, nada de faltas, você não vai.
Hiure: podia ao menos me olhar nos olhos.
O lobo fecha a guia e olha nos olhos do filho.
Wellington: você não vai, satisfeito agora? Posso voltar ao trabalho?
Hiure: volta então!! Vociferou.
O rapaz deu um soco num saco de pancadas de metal e feriu o punho, por pouco não quebrou, mas o sangue não deixou de escorrer.
Ryan: bora?
Huure: eu não vou, treino amanhã.
Rodolpho: seu pai não deixou tu faltar?
Hiure: eu me iludi pensando que deixaria, vão lá, se divirtam.
Eles vão para casa e logo pedem as pizzas.
Kaique: titio não dá uma folga.
Ryan: ele as vezes pega pesado demais.
Rodolpho: querendo ou não é para o bem dele, Hiure tem um legado a herdar.
Kaique: eu sei, mas tudo tem limite.
Ryan: mas se lembrarmos que titio o fez alpha aos onze...
Rodolpho: exato, ele sempre foi assim, mas bem que ele podia afrouxar um pouco que fosse.
Esse tipo de situação era bem recorrente, ele passou uma semana brigando com o pai pra poder tirar uma folga.
Hiure: vai rolar ou não?
Wellington: você vai fazer o que nessa "folga"?
Hiure: viver, é o que eu vou tentar fazer, tio Felipe me deu um cartão para visitar a academia dele.
Wellington: você vai tirar folga dos treinos pra ir pra outra academia.
Hiure: é mais por sair, ir em outro lugar, até treinar com outras pessoas.
Wellington: quer saber, vai, só não quero mais gritaria dentro dessa casa.
Hiure: posso pegar o hellcat? Pergunta provocativo.
Wellington: pega o mustang. Responde a provocação.
Hiure pega um uber e vai ao leste, a academia era enorme, quatro andares, o primeiro era repleto das melhores máquinas do mercado, ele ia entrando quando ele dá de cara com Maria saindo com uma mochila nas costas, ele engole a vergonha e fala com ela.
Hiure: oi Maria, não tá meio longe de casa?
Maria: oi, você também, espera, você está me seguindo garoto?
Hiure: não, eu vim treinar. Responde rindo.
Maria: eu tô de saída já.
Hiure: nem dá pra chamar isso de treino. Fala rindo.
Maria: se eu for fazer supino metade daqueles marombeiros vai sair chorando daqui.
Hiure: só no segundo andar que rola o treino de verdade.
Maria: o acordo do Oeste e Leste se limita ao primeiro andar, só membros daqui que podem subir.
Hiure: há controvérsia. Diz puxando um cartão.
Maria: isso é o cartão Platinum daqui?
Hiure: é.
Maria: como você...
Hiure: o dono é meu tio.
Maria: tio?
Hiure: quer subir? Eu tô vindo pela primeira vez.
Maria: pode ser.
Eles passam pela catraca usando o cartão e ambos sobem, na entrada tinha um rapaz loiro na porta.
Hiure: fala aí Diogo, como que tá?
Diogo: e aí maninho, tô bem, como é que tá essa for... Se interrompe ao notar a loba.
Hiure: viemos treinar.
Diogo: velho, tu até pode, mas ela não, é loba do Oeste, ela não tem permissão pra entrar.
Hiure: cara, faz isso não.
Maria: eu vou indo, sabia que não ia rolar, valeu garoto. Diz dando as costas.
Hiure: não, pera... ei Diogo, quebra essa.
Diogo: cara, ela não pode, você é a exceção, mas ela tá fora disso, papai vai me dar um sacode se eu deixar essa loba entrar.
Hiure: eu assumo a responsabilidade, me ajuda com isso.
Diogo: tá, mas fica me devendo.
Hiure: um fardo de Colmeia?
Diogo: dois e vocês podem passar.
Hiure: covarde, tá certo, a loba!!
Ele desce correndo pelas escadas, pula a catraca e sai pela porta automática, ela já ia entrando num carro quando ele a segura pelo braço, ela segura de volta e o joga contra o carro e pressionando seu cotovelo contra o pescoço dele, o olhar dela era feroz e contrastava com o de surpreso dele.
Hiure: eita, calma garota, vamos?
Maria: ele disse que não vou entrar.
Hiure: confia, vamos?
Maria: tá certo.
Hiure: preciso do meu pescoço livre, o braço também.
Maria: desculpa.
Eles retornam e finalmente adentram o segundo andar, havia de tudo, equipamentos modificados, feitos sob medida para um lobisomem, vários lobos e lobas olham os dois com estranheza, alguns até com certa agressividade no olhar.
Hiure: e então, o que quer fazer?
Maria: eu já malhei, trouxe o kimono, mas nem pude usar.
Hiure: kimono? Você luta?
Maria: faixa preta em jiu-jitsu.
Hiure: preta em kiokushin.
Maria: por um momento achei que lutasse uma arte marcial de verdade.
Hiure: como é?
Maria: por favor, karate só serve pra filmes da seção da tarde.
Hiure: eu ouvi um desafio?
Maria: quer sair na porrada comigo?
Hiure: óbvio que não, uma disputa, quem nocauteia mais em menos tempo.
Maria: aqui mesmo?
Hiure: ali é um dojo. Aponta para uma porta.
Os dois partem pra lá e encontram uma sala repleta de alunos, um lobo comandava o treino.
Hiure: Rodrigo, Rodrigo. O chama baixo.
O lobo procurou a origem do chamado até que encontrou a dupla, ele pediu licença e saiu furioso.
Rodrigo: o que você tá fazendo aqui e com ela!?
Hiure: calma, eu tenho um cartão, seu pai me deu, ela tá comigo.
Rodrigo: ela?
Maria: não nesse sentido, só estou acompanhando.
Hiure: eu queria te pedir um favor.
Rodrigo: eu tô ouvindo. Responde desconfiado.
Ele explicou a situação para o lobo que demorou a responder.
Rodrigo: ver você tomando na cara vai valer a pena.
O jovem mestre divide os alunos por sexo, haviam dois tatames, ali seriam feitas as disputas, cada um com um juiz, o lobo então vai se trocar e volta com seu kimono branco e ela com um azul, ambos amarravam as faixas.
Hiure: tem certeza que ainda quer essa competição? Pode desistir se quiser.
Maria: eu não perco a chance de te fazer engolir esse orgulho por nada.
Hiure: quem perder paga um açaí.
Maria: fechado.
Ambos dão um soquinho e seguem para seus respectivos lugares, uma garota adentra o tatame, sua postura e roupas indicavam kickboxe, a loba então se põe em guarda e é atacada, a adversária veio num jeb, mas a loba esquiva, depois veio um gancho, esse ela segurou e com as pernas ela se prendeu na rival e a levou pro chão numa chave de braço, fim da disputa, nesse mesmo tempo era Hiure quem era atacado, o oponente usava vestes que indicavam muay thai, pro azar deste, o pai de Hiure era especialista nessa arte, o lobo do Leste veio num trabalho rápido dos pés, ia soltar um cruzado, mas reverte num soco no estômago, ele até acertou, mas o lobo segurou seu braço e lhe aplicou uma cabeçada no nariz, em seguida um golpe rasteiro e finalizou com um chute circular na cabeça, ambos terminaram ao mesmo tempo e se olham competitivos, uma, duas, três, dez lutas, algumas longas, outras rápidas, por fim a loba durou quinze lutas até ser vencida com um pontapé no peito que a tirou do tatame, o lobo estava numa peleja crítica, mas foi derrubado por um golpe atrás da nuca.
Maria: que porrada, espero que esteja com dinheiro para o açaí.
Hiure: tá doidona, bebeu? Tu caiu bem antes.
Maria: na decima quinta luta, você caiu na décima terceira, a aposta era quem vencia mais, não quem durava mais tempo.
Hiure: quem criou essas regras!?
Maria: foi você.
Hiure: fui eu!? Então tá. Diz rindo.
Os dois se trocam e descem para ele quitar essa dívida.
Ela pediu o maior disponível com tudo o que tinha direito.
Hiure: não quer botar bacon e fritas não?
Maria: me deixa, você perdeu, agora aguenta.
Hiure: nunca mais caio na besteira de fazer uma aposta com você.
Maria: cai sim, por favor.
Hiure: tu entupiu isso aí.
Maria: granola, amendoim, Nutella, aqui tem de tudo.
Hiure: me dá um pouco, bateu vontade.
Maria: compra o seu.
Hiure: me dá logo. Diz tentando roubar uma colherada.
Ela dá um tapa nas costas da mão do lobo o fazendo soltar a colher.
Maria: não mexe no que eu tô comendo!! Ameaça com as presas a mostra.
O lobo ergueu as mãos em rendição e se recostou na cadeira e ficou mexendo no celular, até que ele nota uma falha e dá um golpe, num segundo ele tinha açaí no dedo que ele levou a boca e uma mordida na mão.
Hiure: doeu. Diz rindo.
Maria: a intenção era arrancar seu maldito dedo.
Hiure: delicada feito um tijolo em baixinha.
Maria: cala boca seu lobo velho enjoado.
Eles continuaram as provocações até ela terminar e então ambos chamam um carro, o dela chegou antes, quando ia entrando ele a segura pelo braço, mas de maneira suave.
Hiure: vou ter que perder outra aposta pra sairmos de novo?
Maria: vou pensar no teu caso.
Hiure: então fica com isso aqui, assim pode me contar sua decisão. Diz entregando um papel.
Maria: número num papel? Voltamos aos anos 90 coroa?
Hiure: só salva no telefone, baixinha.
Ela pega o papel, olha e entra no carro, pouco depois o carro dele chega e ele volta para casa, entrou apressado ao ponto de esbarrar no pai.
Wellington: que isso Hiure!? Vai me tirar da forca?
Hiure: o que? Não, eu só tô animado.
Wellington: animado? Você saiu pra treinar e volta assim? Você se engraçou com alguma garota, uma garota do Leste?
Hiure: sim e não, ela não é do Leste.
Wellington: e de onde é?
Hiure: Oeste. Responde correndo para o quarto.
Wellington: o que!?
O jovem lobo joga a mochila num canto e se jogou na cama, já pegou o celular e ligou para os irmãos.
Hiure: manos, vocês não sabem o que acabou de rolar comigo!!
Ryan: tá empolgado demais, não tô gostando.
Kaique: lá vem bosta.
Hiure: valeu pelo apoio fraterno viu?
Ryan: fala logo, eu tô jogando online aqui.
Kaique: eu tô jantando.
Hiure: é uma parada foda, adivinhem com quem eu passei minha folga.
Kaique: porra, vai meter essa mesmo?
Ryan: tá de sacanagem.
Hiure: tentem.
Ryan: com os nossos pais?
Kaique: pesado. Comenta rindo.
Hiure: com Maria.
Kaique: nem fudendo.
Ryan: conta outra moleque.
Hiure: tô falando sério, eu encontrei com ela na academia do tio Felipe aí rolou, fizemos uma aposta, eu perdi, paguei um açaí e dei meu número pra ela.
Ryan: você não consegue dar uma palavra na presença dela.
Hiure: mas hoje consegui, só deixa ela mandar mensagem que eu mando print.
O rapaz tomou um banho gelado, comeu no quarto mesmo e foi jogar online até que algumas horas depois Maria Júlia manda mensagem pra ele,
Hiure: confesso que achei que não me mandaria mensagem nenhuma.
Maria: salva meu número aí, velho, sabe como se faz isso?
Hiure: o que vem de baixo não me atinge, nanica.
Maria: idiota.
Hiure: chegou bem?
Maria: óbvio, você me viu derrubando quatorze lobas? Segurança não é problema.
Hiure: que garota arrogante, mas tá certo, foi uma pergunta besta.
Maria: concordo.
Hiure: topa almoçar comigo amanhã?
Maria: topa apostar o almoço?
Hiure: você é foda.
Maria: é brincadeira, eu topo sim.
Hiure: fechou, eu conheco um lugar legal no centro, perto da escola.
Maria: no Sul?
Hiure: se preocupa não, aqui as coisas são mais tranquilas.
Maria: fechou, te vejo amanhã.
O lobo não podia conter a empolgação mesmo deitado pra dormir, logo o dia veio e ele nem reclamou dos treinos absurdos do pai dele, se agarrou com a idéia de almoçar com a loba, logo chegou na escola e encontra os três irmãos, o mais velho logo vai na direção dele e lhe dá uma gravata.
Rodolpho: me diz que não é mentira, saiu mesmo com Maju?
Hiure: é, foi ontem, solta, foi um treino e um açaí depois, larga. Rosna feroz.
O irmão o solta e ele arruma a roupa que foi amassada.
Ryan: e o lance do seu número?
Hiure: ela mandou mensagem, vamos almoçar juntos.
Kaique: como? O que você tem?
Hiure: sorte, só tô preocupado quando ela acabar.
Na hora do almoço eles todos se sentaram no refeitório e ela se juntou a eles na mesa.
Rodolpho: se não é a Maria academia, olha ela.
A loba solta um olhar violento pra Hiure que engoliu seco e disfarçou olhando para o outro lado.
Maria: parece que uma língua deve ser cortada.
Kaique: se fudeu. Diz rindo.
Maria: e vocês são...
Ryan: os outros irmãos, sou Ryan, o segundo, muito prazer.
Kaique: terceiro, me chamo Kaique.
Maria: por que eu sinto que vocês não são irmãos normais?
Hiure: nós somos.
Ryan: nós somos?
Rodolpho: bora comer? Tô morto de fome, hoje é filé de peixe.
Kaique: o único prato bom daqui.
Hiure: encontro vocês depois. Diz se retirando.
Ele apanha a mochila e estende a mão para a loba que o olha sem entender.
Maria: que foi?
Hiure: se chama cortesia, vamos?
Ela ri balançando a cabeça, mas aceita o gesto, os dois então saem.
Ryan: eles foram mesmo.
Rodolpho: confesso que eu não tava botando fé.
Kaique: nosso menino tá crescendo.
De longe o caçula mostra o dedo do meio para eles que riem com isso, um carro para e eles entram, seguem por poucos minutos até um restaurante, mas parecia estar fechado.
Maria: e agora?
Hiure: nós descemos e entramos.
Maria: mas tá fechado.
Hiure: ainda não aprendeu a confiar em mim?
Maria: e nem vou, você é maluco, nem sei como me convenceu a vir.
Hiure: deve ter sido minha atração magnética, vem.
O lobo bateu na porta de forma rítmica, então alguém abre.
Hiure: oi Lara.
Era uma jovem magra de cabelos loiros ondulados.
Lara: ei H, como você tá? Não aparece tem tempo, não te vejo desde a virada do ano. Fala num tom duvidoso.
Hiure: vida de alpha, sabe como é.
Lara: sei... ela quem é?
Hiure: tá comigo e minha mesa?
Lara: a terceira a esquerda.
Hiure: valeu meu anjo. Agradece lhe dando um beijo na testa.
Os dois se sentam, haviam poucas pessoas ali, a loba olhava em volta curiosa.
Hiure: que foi?
Maria: não entendi esse lugar.
Hiure: é de um lobo do Leste.
Maria: sério?
Hiure: acordo...
Maria: isso explica, não é muito para um simples almoço? Não sei se topo caviar agora. Ironiza.
Hiure: espera o cardápio.
O garçom logo veio e entregou a carta aos dois e nisso ela se surpreende.
Maria: costela, feijoada, risoto, mocoto...
Hiure: só prato típico, não tem nada de extravagante, sinta-se em casa.
Eles pedem e a refeição logo chega, estava tudo muito bom, o lobo até mandou os parabéns ao pessoal da cozinha, logo a hora de almoço acaba e eles vão embora.
Hiure: o que achou?
Maria: incrível! Nem meu pai cozinha assim.
Hiure: tio Gabriel é o melhor cozinheiro que eu conheço, ele abrir restaurantes aqui foi muito bom, tem no Oeste também?
Maria: não, o Alpha tem rixa com todo mundo, não tem boa relação com os demais, só pequenos acordos e olhe lá.
Hiure: não sei muito sobre ele, meu pai e os demais evitam falar.
Maria: então deixa assim mesmo, é melhor, já houveram muitas brigas.
Hiure: tá certo. Responde a olhando distraído.
Maria: posso fazer uma pergunta?
Hiure: claro.
Maria: qual é a desse olhar?
Hiure: olhar?
Maria: parece procurar alguma coisa, tem um olhar curioso.
Hiure: eu quero entender você.
Maria: como assim?
Hiure: você me afronta e me desafia sem arredar o pé e eu não sei reagir de volta e olha que eu bato de frente com qualquer um.
Maria: eu sei, Rodolpho já me falou das lutas de você e da relação com o seu pai.
Hiure: não é das melhores, eu e ele somos opostos em absolutamente tudo.
Maria: mas ao mesmo tempo parecidos?
Hiure: é, infelizmente.
Maria: sei como é, também brigo muito com o meu.
Hiure: podíamos formar uma equipe, "os filhos fodidos".
Ela ri, pela primeira vez riu de uma piada dele, o que deixou o lobo todo besta.
As semanas foram se passando, ela por fim se apegou ao grupo, tirava sarro de Kaique, indicava Ryan e Rodolpho para as amigas e sempre se enfurecia com Hiure, mas apesar disso eles conversavam sobre tudo de maneira bem imersiva, menos sobre a família dele, falava do pai bem as vezes, mas logo mudava de assunto, isso foi percebido por ela, assim como um certo estado de abatido dele, não fazia tantas piadas como de costume, até seus irmãos evitavam de provocar ele, ela estranhou, mas não perguntou de cara, o dia se encerrou e ele chegou em casa, sem a correria e a agitação de sempre.
Wellington: tem janta no fogão.
Hiure: tô sem fome.
Wellington: precisa se alimentar bem, caso contrário seu rendimento físico vai decair.
Hiure: eu recupero depois.
Wellington: nada disso, você não pode se abandonar assim.
Hiure: por que não? É só um maldito treino.
Wellington: não é só um treino, é o seu preparo.
Hiure: ou seu experimento.
Wellington: como?
Hiure: eu já tô cansado, eu não paro de treinar há quase cinco anos e só eu treino assim, até minha vida eu deixo de viver por causa disso.
Wellington: não exagera também, uma pizza ou uma festinha não são sua vida.
Hiure: são momentos que eu tô deixando de viver, momentos que você está me privando de viver.
Wellington: faço isso pro seu bem.
Hiure: meu bem, ou seu fanatismo?
Wellington: fanatismo?
Hiure: alpha aos onze, treinos absurdos, pouco descanso, vida social zero, como chama isso!?
Wellington: proteção, você ainda não entende o que é isso, quando tiver o seu filho você saberá como é, eu já errei uma vez, não vou errar de novo, com você não.
Hiure: você já tá errando e tem tempo.
Ele ia subir a escada quando interrompeu seu passo.
Hiure: se ainda estivesse aqui, não ia deixar isso acontecer.
Wellington: é o que eu mais queria, mas não podemos voltar no tempo, só se anda pra frente.
Hiure: então por quê você permanece preso no passado? Por que continua errando?
Wellington: não estou preso, muito menos errando.
Hiure: claro que não, o Bravo não comete erros, sua perfeição o deixa imune a isso!!
A noite terminou por isso mesmo, outra noite, outra briga, mas essa teve um resultado mais triste, com ambos em seus quartos lamentando a situação.
Na manhã seguinte ele chegou mal na escola, olhos baixos, ânimo zero, não respondeu a qualquer piada ou provocação, a loba era única que não sabia de que se tratava.
Maria: vocês estão muito estranhos ultimamente, você então.
Hiure: só não tô muito pra piadas.
Maria: que foi? Brigou com seu pai de novo?
Hiure: não foi só isso.
Maria: foi com a sua mãe, vocês são brigados também?
Todos congelaram na hora, ficaram sem graça e logo olharam para o caçula que ficou meio atônito naquele momento, o rapaz gaguejou e logo saiu da mesa correndo.
Maria: o que que... O que foi isso?
Ryan: eu vou falar com ele.
Rodolpho: não, deixa ele sozinho.
Ryan: deixar nosso irmão sozinho?
Rodolpho: certas dores temos que encarar sozinhos, deixa ele.
Maria: eu vou.
A loba saiu correndo até onde ele estava, o encontrou com o celular na mão vendo a foto de uma mulher, ele deixou o celular cair ao encontrar com ela, a loba pega do chão e o entrega, ele estava limpando as lágrimas e tentando disfarçar o choro, mas não dá certo.
Maria: ei lobo, nunca te vi assim, que foi?
Hiure: nada, não é nada.
Maria: quem é a mulher da foto?
Hiure: não é ninguém.
Maria: ela me lembra você um pouco.
O lobo da as costas e respira fundo, esfrega a mão no rosto.
Hiure: ela é a minha mãe falecida.
Ao ouvir isso dele ela se da conta de muitas coisas que antes ela não entendia.
Maria: eu não imaginava, tem muito tempo?
Hiure: eu tinha acabado de fazer onze anos.
Maria: você se tornou alpha com essa idade não foi?
Hiure: meu pai tem me imposto um treino absurdo desde então.
Maria: por isso brigam tanto, agora faz sentido.
Hiure: ele se fechou como pai e só me mostra o outro lado dele, o empresário, o melhor lutador, o Bravo, desconheço o pai que tenho.
Maria: como ela era?
Hiure: era incrível, uma mulher forte, decidida, não media esforços pra ajudar quem precisasse, ela tinha o lado de guerreira feroz, também era uma mãe muito carinhosa, mas tinha um pavio mais curto que ela. Diz rindo.
Maria: era baixinha?
Hiure: sua altura, um pouco mais ou menos, é disso que mais me lembro.
Maria: como ela...
Hiure: ela era uma guerreira, numa missão ela foi baleada, aconito roxo...
Maria: aconito roxo não mata, ele...
Hiure: nos faz humanos, ela viveu normalmente apesar de ficar resfriada, dores de cabeça e coisas do tipo, era uma humana agora, um ano depois ela teve câncer no estômago, ela definhou aos poucos, a mulher mais forte que eu já conheci foi reduzida a pele e osso, não consegui ir no velório nem no enterro, os três ficaram comigo naquele dia.
Maria: vocês são únicos mesmo.
Hiure: assim se foi a Caçadora da Lua Cheia.
Maria: eu já ouvi esse nome antes, o Alpha comentou sobre isso, lamentou o ocorrido, tinha muito respeito por ela.
Hiure: tá perto de fazer cinco anos, aí me deparei com lembranças, é besteira.
Maria: dores não são besteiras, se quiser conversar pode me chamar viu?
Hiure: valeu baixinha.
Maria: de nada lobo velho.
Hiure: o apelido pegou mesmo?
Maria: combina, vamos indo.
Na mesma noite os quatro rapazes treinam juntos,
Rodolpho: mano, sobre hoje cedo...
Hiure: tá tudo bem.
Kaique: não tá não, nós devíamos ter...
Hiure: mano, tá tudo bem, vocês me deram espaço, tá beleza, estiveram comigo no pior dia, só isso vale por uma vida.
Ryan: nada disso, o que precisar a qualquer hora.
Rodolpho: somos irmãos, pra sempre juntos.
Hiure: certo, vamos treinar, Kaique saca sua espada!!!
O irmão assim o faz, o caçula fica cara a cara com a lâmina, Ryan fica contra Rodolpho e seu bastão e atacam ferozes.
É na adversidade, na hora do aperto, é quando a lágrima cai que laços são testados e estabelecidos, uma irmandade forjada na dor, união e no companheirismo, algo assim dura uma vida.

                     
                       Continua...

Presas e GarrasOnde histórias criam vida. Descubra agora