Um golpe devastador atingiu o casal, eles dois sofriam e o pior era se verem o dia todo, isso impedia a ferida de fechar, o rendimento de Hiure na escola despencou de maneira irreversível e ele sabia, já não fazia sentido insistir em tentar, aquele ano letivo já havia desmoronado sob sua cabeça, até que ele simplesmente deixou de ir pra escola, seu pai discordava totalmente.
Wellington: essa vai ser a sua vida agora? Jogado nesse quarto o dia todo?
Hiure: eu tô indo treinar, não tô?
Wellington: é o que basta pra você?
Hiure: de momento...
Wellington: não vai mesmo para o curso?
Hiire: não, achei que não gostasse do meu curso.
Wellington: e não gosto, mas prefiro você num curso daqueles do que jogado aqui em casa sem estudar.
Hiure: e então o que eu tenho que fazer pra você ficar feliz?
Wellington: estudar, pega. Fala arremessando um box de livros.
Hiure: A arte da guerra e o Livro dos cinco anéis?
Wellington: ensinamentos antigos sobre a guerra e a evolução marcial e mental, vai gostar.
Hiure: e você conhece meus gostos pessoais?
Wellington: ainda sou seu pai, não sou?
O lobo deixa o filho com os livros os quais ele nem se deu o trabalho de abrir, só os jogou numa gaveta qualquer; os dias foram se passando e o jovem alpha não se sentia melhor com o decorrer do tempo e tão pouco Maria, seu relacionamento com o pai não melhorou em nada, pelo contrário, piorou devido as visitas mais frequentes do irmão caçula.
Helmar: aquele moleque vai vir aqui hoje?
Vaneska: nosso filho vai vir visitar a irmã, a filha que você se esqueceu que tem.
Helmar: não me venha com drama Vaneska, sabe que eu não tenho saco pra esse tipo de besteira.
Vaneska: o estado emocional da sua única filha é uma besteira agora?
Helmar: desde que esse maldito namoro acabou vocês parecem ter declarado guerra contra mim.
Vaneska: talvez seja porquê você é o único que parece não se importar com ela, não é gostar ou não gostar do namoro deles é cuidar dos seus, como um Alpha faria. Diz lhe dando as costas.
Mesmo a muralha que era o Alpha se abalou com aquelas palavras, passou horas pensando nisso e nem se quer deu atenção aos sócios que recebeu em seu escritório, o Alpha logo acabou com aquele reunião, andou de um lado para o outro no escritório até que tomou uma decisão, no quarto da loba estava na companhia do irmão, ele acariciava os cabelos da irmã mais velha até que a maçaneta gira e Helmar abre a porta, Heitor contraiu seu maxilar em tensão pela presença do Alpha.
Helmar: trate de nos dar licença, eu quero falar com a minha filha.
Heitor: sua filha é minha irmã, Grande Alpha, eu só saio se ela pedir.
Helmar: você não tente me desafiar outra vez não, eu tenho tolerado você por conta delas duas, mas paciência tem limites.
Maria: vai Tor, nos vemos depois.
Heitor: tá certo, eu vou indo, mana, amo você.
Maria: também te amo.
O beta deixa o cômodo sem nem olhar no rosto do pai.
Helmar: moleque abusado.
Maria: o que o senhor quer?
Helmar: quero conversar sobre uma coisa.
Maria: o que?
O Alpha se senta numa poltrona de frente para sua filha.
Maria: eu não quero outra briga, pai, por favor, já me basta.
Helmar: eu não vim brigar, não tô com cabeça e se duvidar nem com idade pra isso mais.
Maria: então o que é?
Helmar: eu só quero saber como você está.
Maria: essa pergunta tá muito atrasada meu pai.
Helmar: antes tarde do que nunca, mas me diga, como você está?
Maria: eu tô quebrada, eu... eu destruí tudo o que nós tínhamos.
Helmar: "tudo o que contruiram". Repete rindo.
O Alpha se levanta batendo palma e rindo alto, o que irritou muito a filha.
Helmar: minha menina, você só tem dezesseis anos, nem idade pra construir algo você tem, você tá em idade de beber, fazer compras e brigar com os pais, bom, essa parte você faz. Diz com humor.
Maria: eu não queria nada disso, compras sozinhas, beber todas, eu só queria viver minha vida com ele.
Helmar: não é o fim do mundo, você vai ver. Diz de saída.
O Grande Alpha põe a mão na maçaneta, mas se interrompe, vai até a filha e a beija no topo da cabeça, ao sair ele se depara com Heitor no corredor olhando para o andar debaixo.
Helmar: já não deu a sua hora?
Heitor: conselhos paternos? Não sabia que conhecia algum.
Helmar: conheço vários, mas reservo pra quem realmente merece.
Heitor: como seu filho de mentirinha?
Helmar: Mateus não é meu filho de sangue, mas é da família.
Heitor: da sua, não da dela, esse acidente, tem dedo seu, eu não posso provar, mas eu sei que tem.
Helmar: então se não pode provar cale a boca e saia da minha frente.
O jovem beta dá as costas e sai, o Alpha se retira para seu quarto, lá sua esposa lia um livro.
Vaneska: ouvi uma discussão.
Helmar: é aquele moleque me enchendo o saco de novo, não sei onde eu estava com a cabeça quando deixei ele frequentar essa casa.
Vaneska: estava com a cabeça no lugar, pela primeira vez em muito tempo.
Helmar: sei...
Vaneska: falou com ela?
Helmar: conversamos.
Vaneska: e...
Helmar: e o que? Conversamos, ela chorou e aquela coisa toda, já, já ela melhora, você vai ver.
Vaneska: Helmar, nossa filha está sofrendo.
Helmar: ele tem 16 anos, Vaneska, não 6, ela não tá sofrendo, é coisa de adolescente, todos já fomos assim.
Vaneska: eles eram diferentes, eram como nó...
Helmar: nem ouse terminar isso! Aqueles dois não são como nós, eles tiveram um namorinho juvenil, nós, nós temos uma jornada. Diz se aproximando.
Helmar se senta na cama e pega a mão da esposa e beija.
Helmar: uma linda jornada, não dividiria com outra se não você.
Vaneska: tô preocupada com ela.
Helmar: ela é nossa filha, é uma mulher forte, que nem você.
Ele se deita e ela o abraça, o lobo a envolve com seu braço e a beija na testa, seu semblante e tom eram tranquilos, mas sua mente estava em disparada com tantos pensamentos.
Essa situação perdurou por mais algum tempo, o suficiente para alcançar o aniversário do jovem alpha, este não acordou muito animado pelo dia dele, mas é recebido por um forte abraço do pai, por um instante ele pôde sentir o pai que tinha tantas saudades, aquele que desapareceu cinco anos atrás.
Wellington: agora você se torna um adulto, na verdade voce já é um adulto há muito tempo, as coisas estão complicadas, eu sei, mas espero que isso possa trazer um pouco de sorriso. Diz lhe entregando um papel.
Hiure: minha carteira? Só deveria sair daqui um mês!
Wellington: eu dei um jeitinho.
Hiure: valeu pai!! Diz o abraçando forte.
O lobo saiu correndo e se jogou no seu carro, o mustang ainda estava danificado, mas ele nem ligava, saiu correndo para a escola, chegando lá ele deu de cara com os irmãos.
Kaique: você some por um tempão e volta com a banheira batida?
Hiure: me deixa, olhem isso. Diz mostrando o documento.
Ryan: até que enfim.
Kaique: parabéns viu, aliás, feliz aniversário. Diz lhe entregando uma sacola de papel.
Ryan: esse é dos dois.
O jovem alpha pega e abre a sacola, era um kimono preto com a faixa também preta com escritas em japonês na cor branca.
Hiure: tá de sacagem.
Kaique: esse não é um kimono comum, tem muitas camadas de tecido, é bem resistente a corte e rasgos.
Hiure: vocês são os melhores! Diz abraçando os dois.
O momento de alegria logo deu espaço a um semblante pensativo e até triste do irmão caçula.
Ryan: que cara é essa?
Hiure: eu me lembrei de um plano meu.
Kaique: que plano?
Hiure: procurar nosso irmão mais velho.
Kaique: como é?
Hiure: tenho o carro e a carteira, já posso dirigir pra fora de Lupina, quero procurar ele.
Ryan: Hiure, ele se mandou há meses, não dá pra achar mais, fora que é Rodolpho, se ele não quiser ser encontrado ele não será.
Hiure: eu sei dessas coisas, mas...
Kaique: não é só pelo mano, é?
Hiure: não, eu quero me afastar dela, também quero aprender a me controlar, quase matei aquele garoto.
Kaique: ele pediu por aquela surra.
Hiure: mas eu podia ter pego mais leve, agora eu vejo isso, mas na hora, eu não me sinto no controle, não quero ferir ninguém por não saber me controlar.
Ryan: e o que vai fazer quanto a isso?
Hiure: lutar, lutar com quem pode acabar comigo.
Ryan: tem uns lobos figurões que podem fazer isso aí de boa.
Hiure: é diferente, seja como for, eu vou amanhã mesmo.
Kaique: acha que tio Wellington vai deixar?
Hiure: não cabe a ele deixar ou não, é a minha vida.
O jovem alpha retorna para casa no cair da noite, logo contou ao pai sobre seu desejo de sair, Wellington não concordou no começo, mas viu a convicção nos olhos do filho e se rendeu a ela, na manhã seguinte ele desceu com uma mochila nas costas.
Wellington: senta, eu fiz omelete de queijo e um café bem forte.
O rapaz não estava com fome, mas entendeu o gesto, uma despedida.
Hiure: o omelete tá ótimo, colocou pimenta do reino?
Wellington: é aveia também, deu certo no final das contas.
Hiure: tá de parabéns.
Eles sorriram e riram algumas vezes até que o prato se esvaziou e o jovem se levantou.
Hiure: eu vou indo, coroa.
Wellington: tá certo, a pia é minha.
Hiure: você é foda, tchau. Diz beijando a cabeça do pai que ainda estava sentado.
Ele se encaminhou para a porta, mas não conseguiu chegar sem interrupção.
Wellington: pega.
Algo caiu na mão do lobo, era dinheiro enrolado num elástico.
Wellington: não gaste com doces.
Por fim o menino deixa a casa, entra no carro e aperta o volante e arranca para a saída noroeste, já dentro de sua casa seu pai contemplava algo pela primeira vez, a casa vazia, isso lhe traz um olhar pesado e triste; no Oeste o jovem beta entra no quarto da irmã.
Heitor: você soube?
Maria: do que?
Heitor: ele vai embora.
Maria: o que? Por que? Como você soube disso?
Heitor: uns conhecidos do Sul me contaram, ele vai sair da cidade, mas eu não sei pra que.
Maria: Rodolpho... ele vai procurar o irmão dele.
Heitor: não dá pra saber quando ele vai voltar.
Maria: onde quer chegar com isso?
Heitor: se tem alguma coisa pra dizer, a hora é agora, uns lobos daqui viram ele entrar no território com outros dois carros acompanhando ele.
Maria: Kaique e Ryan.
Heitor: é sua última chance.
Os três chegam no ponto de despedida.
Kaique: que lugar você foi escolher, amazonas a direita, os lobos raivosos a esquerda.
Hiure: não conheço o norte, mas é pra essa direção que eu vou, primeiro as cidades pequenas daqui do Rio, depois vou para o Espírito Santo.
Ryan: e depois?
Hiure: não sei, eu volto pra rematrícula, então tenho até novembro, são seis meses de tempo.
Kaique: desculpa não irmos com você.
Hiure: não precisam disso, todos temos responsabilidades, fiquem e cresçam, quero ver olhos vermelhos quando eu voltar.
Kaique: não garanto.
Ryan: mas eu sim, por nós dois, vamos com tudo, traz nosso irmão de volta pra casa.
Hiure: amo vocês.
Os três se abraçam forte, tapas nas costas e lágrimas teimosas marcaram presença, o caçula embarca no carro e segue a estrada, arrancou com o pé no fundo e logo sumiu quando dobrou em outro quarteirão, os dois ficaram olhando para o vazio até que seguiram para seus carros, foi quando outro parou perto deles, Maria desceu correndo, mas ele não estava mais ali.
Kaique: Maria?
Maria: ele já foi?
Ryan: tem um tempinho.
Maria: vou ligar pra ele!
Ela liga e ao primeiro toque é ouvido o som vindo do bolso de Ryan, Hiure havia colocado ali quando os abraçou, ela não pôde acreditar naquilo.
Kaique: ainda da pra seguir ele...
Ryan: sem saber pra onde Hiure tá indo e com ele com o pé no fundo? É impossível achar.
Kaique: sinto muito.
A loba só volta para o carro e volta para casa, era oficial, ele havia ido embora e ela não fazia idéia de quando ou se voltaria a ver aquele lobo.
A busca começou em cidades pequenas, até que teve uma pista que apontava para o Espírito Santo, o lobo seguiu dirigindo por uma noite inteira, mas pela manhã já estava sentindo o peso do cansaço, parou num bar a beira da estrada e dormiu no carro mesmo, dormiu até o cair da noite.
Hiure: que fome, esse pé sujo deve ter alguma coisa que preste.
O jovem alpha desce e entra no bar, se sentou num barco próximo ao balcão.
Hiure: manda o que tiver de mais pesado pra comer.
Dono do bar: tem feijoada.
Hiure: manda duas aí. Diz colocando o dinheiro sob o balcão.
A comida foi posta e em poucos minutos ele devorou tudo.
Dono do bar: que fome em garoto.
Hiure: tava mesmo.
Dono do bar: não vai uma branquinha não?
O rapaz nem responde, levanta, pega o troco e volta para o carro e torna a dirigir, só parou no meio do nada em plena madrugada e dormiu de novo, pela manhã ele procurou saber sobre seu irmão, mas não conseguiu nada, daí resolveu ir mais para o interior, parou num posto de combustível para abastecer e foi até o restaurante, pediu comida e aguardou ser servido, até que ouve gargalhadas e alguém esbarra nele.
????: foi mal aí garoto.
Hiure: tá tudo certo.
????: deixa eu te pagar uma pra me desculpar direito.
Hiure: não precisa, é sério.
????: você parece ser um rapaz incomum, bem incomum. Diz brilhando os olhos rubros.
Hiure: que merda.
????: me chamo José, mas pode me chamar de Joe.
O homem parecia ter 55 anos, era baixo, 1,62 m, usava calças rasgadas, botas velhas, uma camisa de flanela desbotada e um chapéu com furos que pareciam ser tiros, uma cicatriz de arranhão ia de um lado ao outro de seu rosto, seu olho direito era cego, usava um bigode grisalho.
Joe: faz tempo que não vejo outro alpha por aqui.
Hiure: não esperava encontrar um lobo assim.
Joe: seu sotaque é estranho, vem de onde?
Hiure: Rio, Lupina.
Joe: aquele inferno? Nossa, só tenho ouvido falar merda daquela cidade, a morte do Pelo Branco é verdade mesmo?
Hiure: é... é verdade.
Joe: cacete, então tá tudo acontecendo mesmo, vampiros, guerra e tudo mais?
Hiure: está sim, eu sou um soldado.
Joe: mas você é tão novo rapaz.
Hiure: tenho idade o suficiente pra lutar!
Joe: então o que está fazendo tão longe de casa?
Hiure: tô procurando uma pessoa, meu irmão mais velho, ele tem 1,84, tipo indigena, forte...
Joe: foi mal, você é o primeiro lobo que eu vejo há meses, mas espera, indigena?
Hiure: é meu irmão de criação.
Joe: entendo.
Hiure: ele sumiu tem uns meses, já tem vinte dias que sai de Lupina para procurar por ele.
Joe: não vai conseguir nada aqui, é uma cidade humana, mas tem um lugar...
Hiure: onde?
Joe: esquece, já tô falando demais.
Hiure: pera aí, você ia dizer um lugar.
Joe: é perigoso demais.
Hiure: tô disposto a correr o risco, perigoso como?
Joe: do jeito que deixa as pessoas bonitas, que nem eu. Diz apontando para sua cicatriz.
Hiure: um lobo fez isso com você, é uma cidade com alcatéia?
Joe: pior, competição, quer saber, chega já falei muito, valeu garoto.
O velho lobo se levanta e sai, mas tem seu braço segurado pelo rapaz.
Hiure: espera, me diz onde é.
Joe: me solta rapaz, agora.
Hiure: você tem que me dizer.
Joe: eu não tenho que dizer nada, não sou responsável por você!!
Hiure: por favor, é o meu irmão.
Joe: não diga que não te avisei.
O rapaz solta o velho lobo, este ajeita a roupa e do nada solta três socos no jovem alpha e em seguida arremessa uma faca, Hiure desvia, mas nesse tempo o velho havia sumido, ele se joga furioso na mesa, mas nota a faca cravada num mapa, indicava uma cidade, Lúpus Agri, uma cidade mais ao noroeste do Espírito Santo, pra lá ele seguiu, seis horas de viagem, chegou perto das 21:00, era uma cidade minúscula, mais parecia um bairro, casas antigas por toda a parte.
Hiure: que fim de mundo do cacete, tem um bar ali, quem sabe.
O lobo entra num bar velho, era grande, mesas e cadeiras de madeira, ele então se senta numa mesa, uma garota veio até sua mesa, tinha cabelos tingidos de vermelho, pele clara, brincos e piercing por toda a orelha esquerda.
Hiure: me trás qualquer coisa pra comer.
Garçonete: alguma bebida, cerveja?
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Presas e Garras
WerewolfEm uma cidade do Rio de Janeiro chamada Lupina existem quatro alcatéia dominantes, a cidade foi dividida pelos antigos Alphas, na alcatéia do Sul vivem os quatro jovens principais, Rodolpho, Ryan, Kaique e Hiure eram mais do que amigos, verdadeiros...