Alcatéia ou família?

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Lupina é uma cidade no interior do Rio, quarenta anos atrás ela foi dividida por duas grandes alcatéias, mas hoje em dia são quatro, muitos que foram considerados lendas ficaram no passado, mas houve um que não parou, continuou como sempre foi, o Grande Alpha Pelo Branco tinha o maior território dentre os quatro Alphas, possuía mais de dez fazendas gigantescas em seu nome, ia de uma a outra sempre, eram casarões de três andares, mais de três hectares de terra, sua casa principal era toda branca com uma escada de madeira na entrada, piso também de madeira, o interior era diferente, cada andar era único, o primeiro andar era para os mais jovens, tinham instalados artigos de tecnologia de ponta para todos, no segundo era dos filhos, um pouco mais clássico, a sala tinha aparelhos de som e uma televisão de tubo, a cozinha era enorme, o terceiro andar era do próprio Álvaro, um túnel do tempo a sala com lareira e sofás enormes, nas paredes dezenas de troféus de caça e até mesmo animais empalhados estes eram um urso pardo de pé, um tigre siberiano e um crocodilo, vários quadros caros e famosos dividiam espaço com os troféus, uma estante que devia ser do século XIX tinha vários retratos e tinha pendurado nela um sobretudo branco com o símbolo do Pelo Branco no peito, seu território era cerca de 35% do tamanho total da cidade, continha florestas e campos vastos, porém não era apenas pelo poder e espaço que esse lobo detinha tantas posses, era um lugar perfeito para se ter uma família, receptivo pra todas as idades, o mais importante para ele era abrigar sua família no conforto e sossego, está se dividia de maneira bem simples, eram 5 membros bem mais velhos que os outros, os filhos de Pelo Branco, cada filho era responsável por algo e por um determinado número de lobos que por sua vez eram netos de Pelo Branco; Marcos era um deles, ele e seus lobos eram responsáveis por caçar animais exóticos, fosse dentro ou fora do estado, também treinava as transformações e os sentidos, seus filhos junto dos de Felipe e Victor formavam os Sentinelas, Gabriel e seus lobos cozinhavam, ele era sempre visto com seu uniforme de cozinheiro, possuía uma rede de restaurantes por todo o sudeste do país, era um pouco mais baixo que Marcos, usava um penteado simples e não usava barba, apesar de ser cozinheiro lutava ferozmente, um exímio usuário de facas seja lutando, arremessando ou cortando carne para o jantar, media 1,70 m e tinha 46 anos, Felipe usava sempre uma roupa pesada, calças jeans, botas e jaquetas de couro, corte de cabelo militar e barba por fazer, ele era responsável pela vigilância e condicionamento físico dos lobos, tinha 42 anos, Elizabeth era a mais jovem e a mais baixa tendo 37 anos e medindo 1,60 m, tinha cabelos longos e escuros amarrados ou trançados e seus filhos eram do departamento médico e científico da alcatéia e por último Victor, era responsável pelo armamento dos lobos e do próprio Alpha, um engenheiro militar com a maior empresa do ramo em toda a América do Sul, especialista na confecção de armas brancas, detém o título de melhor espadachim do mundo, por isso é sempre desafiado por aspirantes a tomar seu título, cada um desses tinha um poder incrível todos eram respeitados e reconhecidos pelos outros Grandes Alphas e apesar de alguns desses não serem específicos para lutas eram fortes assim como os lobos que lideravam, toda essa estrutura pode parecer a de uma empresa ou de um exército, mas em essência é uma familia como qualquer outra, brigas, festas, Álvaro adorava reunir os filhos e netos numa roda em torno de uma fogueira, sempre contava histórias para seus lobos, duelos antigos com os grandes rivais do seu tempo, mas era só começar a beber que contava histórias pra morrer de rir, esvaziava engradados inteiros de bebidas das mais variadas, sobrava para Felipe e Elizabeth segurar as pontas e colocar o velho lobo na cama, um avô atencioso, pai protetor e um bom Alpha, mas toda essa docilidade podia facilmente se virar num ódio e brutalidade incalculável caso alguém se pusesse em seu caminho, por isso Pelo Branco e sua alcatéia eram lobos que ninguém queria ter como inimigos, sua fama era mundial todos conheciam e temiam o nome dele.
Em uma noite os lobos da vigilância pensaram ter visto algo nos céus, mas não era nada a se relatar para Felipe.
Noites depois eles festejavam o aniversário de Victor ele fazia 48 anos, todos bebiam e comiam a vontade, Marcos e Gabriel tiveram três vezes mais trabalho por conta dessa ocasião, todos estavam na festa.
Álvaro: ao meu primogênito, que completa 48 anos hoje, feliz aniversário filho!!
Felipe: meus parabéns irmão.
Victor: obrigado Felipe.
Elizabeth: e o discurso? Não vai ter?
Victor: eu não preparei nada, não inventa moda Liz.
Marcos: que isso, tem que ter, discurso, discurso...
Todos repetiam e batiam palma para provocar, até Álvaro entrou na brincadeira.
Victor: até o senhor pai?
Álvaro: todos querem te ouvir, diz alguma coisa.
Victor: por onde começar? Acho que gratidão é a palavra certa, cada aspecto meu, empresário, guerreiro, irmão, pai, filho, tudo isso eu devo a um homem, o homem que me tirou das ruas, um moleque brigão e boca suja, lembro como se fosse hoje.
Ele emerge em memórias, trinta e cinco anos no passado, Álvaro jovem, com longos cabelos loiros sua arma em sua mão, Victor no chão todo machucado rosnava para o lobo a sua frente, o olhava feroz mesmo derrotado.
Álvaro: seu espírito não há de dobrar tão fácil não é filhote? Já fazem muitos anos desde que pude ver tamanha vontade, se ainda quiser lutar eu te convido a vir contra mim mais vezes, mas se viver assim, solitário, só vai conseguir a morte.
As palavras cravaram fundo no jovem Victor, ele era órfão de guerra, não tinha nada nem ninguém.
Álvaro: se quiser continuar numa vida de combates dignos e parar de brigar por comida então me siga, venha junto comigo e mostre ao mundo o que você pode vir a ser, se torne meu filho. Diz ajoelhado e lhe estendendo a mão.
Ele retorna da memória, seus irmãos sorriem nostálgicos, suas entradas para essa família foram semelhantes.
Victor: eu não tinha ninguém, nenhum lugar para ir ou voltar, estava perdido, foi o senhor que me deu propósito e acreditou em mim, o maior presente o senhor já me deu, poder te chamar de pai
Lucia: o tio Victor tá quase fazendo o vovô chorar!! Grita rindo.
Marcos: tá ficando velho em pai. Comenta provocativo.
Álvaro: vai trocar as fraldas dos seus moleques seu pivete. Responde rindo.
Lucas: papai também tá quase chorando. Diz olhando para Felipe.
O mesmo teve um estalo, respirou fundo, esfregou o rosto e assumiu uma postura rígida.
Felipe: tô não, o suor da testa escorreu para o meu rosto, é Liz que precisa de uma caixa de lenço.
A irmã estava claramente alcoolizada e nem se preocupava em esconder isso ou o choro.
Elizabeth: me deixa Lipe, a lembrança foi muito linda, feliz aniversário irmão!! Grita com um irmão e abraça o outro.
Victor: manera no whisky Liz, você tem procedimento amanhã.
Liz: eu amo vocês, amo meus irmãos, minhas crianças, meus sobrinhos, também te amo papai!! Chora indo até o pai.
Álvaro: também te amo minha flor, papai também te ama. A abraça carinhosamente.
Gabriel: é um grude com a pirralha dele, você já não tá muito velha pra ser dengosa não?
Elizabeth: cala a boca cozinheiro de merda.
Gabriel: de merda!? Olha aqui sua cientista louca...
Os dois se atracam numa briga com o pai no meio até que este ergue os dois pela roupa e os separa.
Álvaro: nada de briga, é aniversário de irmão de vocês, peçam desculpas.
Elizabeth: desculpa, sua comida é ótima.
Gabriel: você é uma ótima médica.
Ambos se abraçam feito crianças, os demais riem de chorar da cena, foram dois dias de festa, assim que acabou foi uma luta para deixar tudo limpo, todos ajudaram.
No dia seguinte os três irmãos mais novos foram visitar o velho Álvaro, como sempre o Grande Alpha os recebeu muito bem, mas apesar da boa recepção eles sempre sentiam uma tensão forte, era como estar diante de um tsunami gigantesco prestes a serem varridos, nunca entenderam o motivo disso, os três vão chegando.
Álvaro: olha só pra esses filhotes de lobos, até parecem homens feitos.
Ryan: eu sou, afinal sou o mais velho.
Álvaro: tudo na fralda ainda
Kaique: pega leve velho, estamos ouvindo. Fala rindo
Victor: eu também. Fala amolando a espada num canto do salão.
Ryan: calma tio, foi só brincadeira. Fala levantando um pouco as mãos.
Álvaro: pega leve filho, são jovens e eles estão sempre vindo me visitar.
Victor apenas bufa derrotado e continua seu trabalho.
Kaique: e aí coroa, como foi a semana? Diz puxando uma cadeira próxima a do velho lobo.
Álvaro: foi quase igual, tirando a visita do garoto Renato.
Hiure: o tio esteve aqui? Eu nem soube, a visita dele não deveria ser daqui a três dias?
Álvaro: ele veio reclamar que alguns dos meus netos bagunçaram vocês umas noites atrás. Fala rindo abertamente.
O irmão mais novo olhou para os outros dois furioso, mas ambos fingiram não ver.
Logo a porta do salão se abre e outro dos filhos de Álvaro entra, Gabriel vinha com uma um livro nas mãos, ele passava rapidamente por cada página.
Gabriel: pai! O que vai querer pra hoje? Tem javali e búfalo. Fala ainda olhando o livro.
Álvaro: vou de búfalo, Gabriel, diz "oi" aos garotos. Pede notando a distração do filho.
Gabriel: foi mal garotos eu nem prestei atenção em vocês, tô procurando uma receita e não acho nem a pau! Fala nervoso e cansado.
Kaique: notei, tá tudo bem?
Gabriel: foram dias trabalhosos, eu e Marcos trabalhamos pra caralho.
Hiure: por falar nele, onde estão os outros?
Gabriel: estão nos setores deles, Felipe tá checando o treino dos garotos, Marcos está ocupado fazendo mapeamento de zonas de caça, Elizabeth já deve estar na última aula dela na faculdade, é uma professora e tanto.
Álvaro: minha alegria.
Gabriel: só tem olhos para a princesinha dele. Fala fingindo ciúmes.
Álvaro: pirralho ciumento. Fala rindo.
Os garotos riam de faltar ar dessas brincadeiras deles, Álvaro ficava um pouco embaraçado com essas brincadeiras, ele amava e se orgulhava de seus filhos igualmente.
Hiure: vô. O chama carinhosamente.
Álvaro: oi Hiure.
Hiure: tem um tempo pra treinarmos outra vez?
Álvaro: você saiu daqui carregado da última vez.
Hiure: eu me curo.
Álvaro: não rápido o bastante.
Hiure: sem sacrifício, sem vitória, aprendi com meu vô.
Álvaro: se insiste, vamos ver o que tem.
Kaique: depois podemos também Victor? Eu tô melhorando na esgrima.
Victor: vocês não tem um especialista na sua alcatéia, vamos ver o que você aprendeu.
Todos vão até o jardim, o rapaz se posiciona com uma postura rígida, seu avô simplesmente estava de pé diante dele, sem hesitar o jovem ataca, saltou no ar com um mortal e desceu um chute, mas seu calcanhar foi pego e ele jogado, Hiure cai de pé e aplica um chute baixo, ele até acertou, mas isso também o fez quebrar o osso, Álvaro o pega pelo rosto e o bate no chão.
Álvaro: está vindo muito rápido, calcule suas ações.
Kaique: o velho não brinca em serviço.
Ryan: já é demais ficar por perto, mas ver ele lutar é quase medonho.
O rapaz se levanta, seu corpo estava todo dolorido.
Ryan: fica aí, desiste.
Sem pensar duas vezes o jovem lobo ataca, uma sequência de golpes com os punhos e cotovelos, mas eram todos inúteis, Álvaro os defendia brincando, ele captura o pulso do rapaz o tira do chão e o soca no estômago, ele amorteceu com os braços, mas ainda assim isso o fez voar dez metros, Victor via tudo do telhado enquanto afiava uma espada, ele ia descendo quando o rapaz se levantou mais uma vez.
Álvaro: já tá bom.
Hiure: ainda não vô, eu consigo continuar.
Álvaro: vai se machucar.
Hiure: e tem outra forma de aprender?
O velho lobo sorri com a certeza e a vontade do garoto.
Victor: tão corajoso quanto a mãe, ou tão louco quanto o pai.
O lobo ia pular dali quando seus instintos alertaram de perigo e ele se virou para trás, o garoto havia se posicionado numa outra postura, uma mais brutal.
Hiure: ainda não acabou, eu ainda posso continuar!! Grita num rosnado seguido de rugido.
Victor: interessante. Fala baixo.
Álvaro: eu sabia. pensa pra si.
O rapaz teve uma explosão de adrenalina, avançou numa velocidade anormal, atacou feito uma besta fera, Álvaro sorria com o desempenho do rapaz, podia derrubar o garoto facilmente, mas decidiu deixar o jovem por tudo aquilo para fora, foram vinte minutos de ataque desenfreado, o velho já ia terminar, sua mão ia na gola da camisa, mas o rapaz o bloqueia para a surpresa do Alpha e o atinge no tórax cinco vezes com socos diretos, já estava exausto, ele então salta num chute circular que ia no rosto do avô, este segurou seu pé com uma mão, o rosto do garoto com a outra e o chocou direto no chão, ele foi acordado minutos depois, estava bem ferido.
Álvaro: me desculpa, acabei me deixando levar.
Hiure: tá tudo bem, vai curar vô.
Álvaro: você estava em ponto de bala, nunca lutou assim, os treinos com seu pai estão dando bons resultados.
Hiure: ao menos o senhor vê isso.
Álvaro: vem, é a luta do seu irmão agora.
Álvaro o põe sentado em seu ombro e sai andando com ele.
Hiure: não acha que tô velho demais pra isso vô?
Álvaro: sou eu que estou velho demais para perder oportunidades como essa.
Ambos chegam, Kaique segurava uma espada contra Victor que mantinha a dele na cintura, o rapaz avança num grito feroz, três golpes falhos até que ele tenta um corte diagonal, mas sua espada foi capturada por Victor, ele até fez força para lhe cortar a mão, mas foi inútil.
Victor: você entrega seu ataque por ficar gritando feito um filhote chorão, outra vez.
O rapaz ataca, seus golpes eram fortes, mas não alcancavam o lobo a sua frente, Victor o segura pela mão e aperta, pondo o jovem de joelhos.
Victor: está encarando de frente um oponente muito mais poderoso do que você, use a cabeça.
Kaique: eu não vim ter aulas!!! Grita se soltando.
Ele tenta um golpe e erra, respirava fundo.
Kaique: vim te enfrentar pelo título que você carrega!!
Victor: deixa suas emoções te guiaram, isso tira seu foco e concentração.
O garoto ataca de novo, mas o veterano segura a espada entre dois dedos e força para o lado, girando o lobo junto, este estava quase caindo quando o veterano lhe deu um peteleco na testa, mas mais pareceu um soco, o garoto se enfurece e tenta uma estocada, Victor desvia e com o punho da espada ele acerta as costelas pelo flanco esquerdo, em seguida ainda sem sacar ele usa a ponta para passar uma rasteira no rapaz que cai pesadamente de costas, Victor então bate com a ponta da bainha em seu peito o derrotando de vez.
Victor: no estado atual você não tira o meu tédio, que dirá o título, ou você acha um bom mestre na espada, ou você desiste.
O veterano põe a arma na cintura e sai do campo.
Álvaro: pegou mais pesado com as palavras do que com a espada.
Victor: alguém tinha que dizer isso a ele, sem alguém para guiar e lapidar, é só uma tentativa inválida de correr atrás do impossível.
Álvaro: são jovens, sonhadores.
Victor: são adultos, não temos que passar a mão na cabeça deles, se ele quer evoluir precisará de ajuda, caso contrário só terá as costas contra o chão pelo resto da vida.
Os dois feridos são ajudamos por uns filhos de Liz, esses eram os mais tranquilos e simpáticos, eles então já estavam um pouco melhores.
Álvaro: peço desculpas se exageramos.
Kaique: não me feri muito, tô tranquilo.
Hiure: idem... eita. Resmunga de dor.
Álvaro: querem comer alguma coisa?
Hiure: não vovô, já estamos indo.
Kaique: nós vamos visitar os tios ainda, aí depois vamos para casa.
Álvaro: claro, claro, eu os acompanho até a porta.
Ryan: não precisa não coroa. Fala calmamente.
Álvaro: Ryan, sou velho, mas ainda não estou inválido. Fala rígido.
O velho lobo os acompanhou até as enormes portas de sua mansão.
Álvaro: apareçam com mais frequência, levam meses sem vir aqui.
Ryan: a vida de adulto tá batendo na porta, muita coisa pra fazer e resolver.
Álvaro: tá certo, vocês tem que se esforçar, nunca se esqueçam disso, seu futuro depende do seu planejamento.
Hiure: a benção meu avô. Pede lhe beijando a mão.
Álvaro: que os Ancestrais lhes abençoem meninos
Hiure: amo o senhor.
Álvaro: também te amo, garoto, agora vão correr, vão.
Os três se olham rindo e correm fazenda a fora, gargalhando até sumir da vista, o caçula olha para trás e vê o avô ainda lá, ele acena e o veterano retribuiu, ele sorri e continua a correr , logo encontraram com o Marcos que havia chegado e estava treinando seus filhos mais jovens para caçar.
Ryan: Marcos! Gritou animado.
Marcos: olha eles aí, até que enfim apareceram. Fala os abraçando.
Kaique: dando um treino rígido para a molecada?
Marcos: eles chegaram faz três semanas, são mais novos que Hiure, tenho que treinar eles logo.
Hiure: já se acostumaram com tudo?
Marcos: alguns ainda ficam maravilhados com meus irmãos, a maioria tem um pouco de medo de papai, mas vão melhorar, o que houve com vocês?
Hiure: treino com o vô Branco.
Marcos: eu já acho loucura vocês treinarem com Loiro e o Bravo, mas treinar com papai é quase suicídio, com o Victor então...
Kaique: não treinei, eu duelei e perdi...
Marcos: lamento, mas é o Victor, não tem muitos que possam fazer frente a ele, afinal ele tem um título mundial.
Kaique: melhor espadachim do mundo, é isso que eu quero. Fala convicto.
Hiure: é nosso lance, entende? É coisa nossa.
Marcos: pior que eu entendo.
Ryan: eu ainda acho um absurdo enfrentar um desses dois, uma coisa é o Alpha e tio Wellington, mas Pelo Branco e o Victor é loucura.
Marcos: não são muitos que tem coragem de enfrentar um dos Astros.
Hiure: tá aí, nunca nos contaram a origem desse nome.
Marcos: bom, no princípio houveram muitos filhos de Pelo Branco, mas também houve os Tempos dos Combates, muitos irmãos mortos, só nós cinco que permanecemos e nos destacamos, com pouco mais do que meus vinte nós já éramos chamados assim, hoje é só um nome bonito que remete a um tempo que não deve voltar. Fala num tom um pouco entristecido.
Hiure: o que vocês viveram?
Marcos: infernos, vários deles, foi nesse tempo que eu passei a acreditar que existe um mal a solta nesse mundo.
Kaique: não pode haver algo assim.
Marcos: ficaria surpreso com os monstros que esse mundo pode criar, mas eu já falei muito e vocês tem que ir ver os outros.
Ryan: escutem esse ruivo doido, ele é o melhor no que faz.
Marcos ficava bobo com elogios, principalmente se fosse na frente de seus alunos e filhos.
Hiure: tio, temos que ir ver Felipe e Elizabeth ainda.
Marcos: vão lá, a Eli já deve ter chegado da faculdade.
Eles seguem até o consultório de Elizabeth, era um consultório para todos, sobrenaturais ou não, quem não podia pagar não pagava, todos adoravam a Elizabeth que era sempre bem humorada e simpática.
Kaique: tia, podemos entrar? Diz batendo na porta.
Elizabeth: meninos? Podem sim rapazes, já estou quase indo.
Eles então entram, Elizabeth vestia seu jaleco e arrumava sua bolsa.
Ryan: dia corrido?
Elizabeth: até que não, poucas consultas, o que é ótimo, cheiro de... o que vocês aprontaram garotos? Estão arrebentados.
Todos em uníssono: treino com o Branco e luta com Victor
Elizabeth: papai e Victor não tomam jeito, eu falo pra eles não aceitarem isso, mas aqueles dois não escutam!!
Hiure: e como está a melhor médica do mundo? Diz a abraçando forte.
Elizabeth: bobo, eu tô bem, mas um pouco cansada, vida de médica, pesquisadora e professora de faculdade é foda.
Kaique: mas vale a pena, não é tia?
Elizabeth: totalmente, as crianças vem aqui com dor e eu as curo, alguns dos lobos jovens vem aqui com fraturas e eu ajudo a melhorar mais rápido, é gratificante.
Ryan: dá pra imaginar, como sempre você tem um coração do tamanho da lua.
Elizabeth: só dá marmanjo meloso. Diz rindo.
Ela fecha o consultório e vai em direção ao seu carro, ela até oferece carona, mas eles recusam, ainda tinham que visitar Felipe.
Depois de alguns minutos correndo eles chegam na academia de Felipe, ele ensinava humanos e lobos, porém ele treinava pessoalmente seus lobos e deixava os humanos com algum de seus filhos mais experientes, mas nesse dia ele não estava lá, estava no campo de treino da alcatéia, foram mais alguns minutos, porém valeu a pena, era emocionante ver tantos lobos treinando, Felipe era um gigantesco mestre, comandava um treino rígido, assim que ele viu os meninos ele abriu um largo sorriso, adorava os rapazes.
Felipe: olha só o que os Ancestrais trouxeram, um trio de molengas, com um todo fodido e o outro pior ainda. Fala cruzando os braços.
Hiure: molengas são os seus novatos, treinamos com o Bravo e o Loiro, conhece? Fala arrogante.
Felipe riu do atrevimento do rapaz, o Astro estava sempre provocando dessa forma, gostava de ver a ferocidade nos olhos dele.
Felipe: o velho?
Hiure: sim.
Felipe: ele pega leve com você, quando éramos garotos era bem pior.
Hiure: só queria que ele me levasse mais a sério no treino.
Felipe: ele é o mais forte do mundo, ninguém de nenhuma alcatéia pode com ele e somos veteranos, você é um novato, não se cobre tanto, papai e os outros figurões da época dele não tinham parâmetros lógicos.
Kaique: imagino, mas diz ai vocês estão na época dos novatos é? Pergunta rindo.
Ryan: tá parecendo, só dá pirralho, é você e o Marcos.
Felipe: a alcatéia precisa de lobos jovens e o velho tem um coração maior do que ele mesmo. Fala orgulhoso.
Ryan: aí larga tudo nas suas costas, mas tu é grande, tira de letra.
Hiure: você é o mais forte fisicamente não é tio?
Felipe: errou, sou o segundo, papai é mais forte.
Kaique: quer dizer, ele já foi mais forte, nós sabemos, mas ainda ser mais forte, ele não tá um pouco...
Felipe: velho? Completa sugestivo.
Ryan: ele tem 70 anos, já não é mais um garoto não é?
Felipe: quando jovem ele era capaz de erguer cerca de dez toneladas, hoje em dia sua força deve ser de quatro toneladas, ele diz que é três, mas é mentira, a minha força é de três e meia.
Hiure: assustador, achei que eu era forte erguendo meia tonelada, meu pai levanta duas e meia e já é um monstro.
Felipe: apenas a Eli e o Gabriel tem força inferior a uma tonelada, já eu e os meus outros dois irmãos e todos os outros Grandes Alphas temos força equivalente ou superior a duas toneladas e meia.
Ryan: bando de monstros desproporcionais, vocês todos são insanos.
Hiure: não tem nenhuma história boa não? Sei lá, uma grande luta sua talvez.
Felipe: você andou de orelha em pé, não foi?
Hiure: tenho ouvido falar do Alpha do Oeste, dizem que ele foi uma pedra no sapato de todo mundo.
Felipe: e foi mesmo, aquele desgraçado arrumou briga com todo mundo, com seu pai, o meu, mas até aí era um desafio respeitoso, ele admirava e respeitava os títulos deles, mas a coisa mudava de figura quando éramos Victor, Renato e eu.
Kaique: como assim?
Felipe: era questão de raiva, ele nos detestava, ainda detesta.
Ryan: por que?
Felipe: cada um por um motivo diferente, Victor é espadachim, não dava para o Grande encarar meu irmão de frente, era complicado e o tirava do sério, Renato é um pacifista, mas é um pacifista poderoso, era um irritante que ele não podia derrotar fácil e eu sou um dos poucos que rivaliza com ele de frente, na verdade ele e eu somos bem equiparados, daí surgiu uma rixa, mas tudo isso foi no passado, não nos enfrentamos há mais de dez anos, esse tempo já passou.
Ryan: esse cara parece perigoso, como ele ainda está por aqui?
Felipe: ele é um Grande, com uma alcatéia gigante, territórios, poder bruto... não é alguém simples de lidar, haveriam muitas baixas e ele tem sido muito político nos últimos vinte anos, então só seguimos a vida.
Hiure: e a do Norte, a Filha de Artemis?
Felipe: história para outro dia, já falei muito, vão rápido antes que eu lhes dê uma surra.
O sol já ia se pondo e os três rapazes voltavam para suas casas.
Kaique: se machucou muito?
Hiure: um pouco, vovô não pega leve.
Ryan: machucou a cabeça e as costas?
Hiure: as mãos também.
Kaique: mãos?
Hiure: olha. Diz mostrando as mãos.
Estavam sangrando e inchadas, havia quebrado e deslocado alguns dedos.
Hiure: foi quando eu o soquei no final da luta, achei que por socar árvores eu teria bons resultados, mas foi como socar um muro de rocha, não esperava isso.
Kaique: é velho, o que esperava?
Hiure: mas mudando de assunto, quem foi? Perguntou irritado.
Ryan: quem foi o que? Rebate fingindo desentendimento.
Hiure: vocês sabem o que, quem contou pro tio Loiro?
Kaique: fomos nós e nem vem com essa que fizemos errado, foi preciso!
Hiure: não tinham o direito!
Ryan: tinhamos sim, somos seus irmãos mais velhos e levamos aquela surra também
Hiure: vocês são do caralho! Vivem ignorando minhas decisões! Reclama com raiva.
Kaique: comece a ter boas decisões e nós começaremos a ouvir. Responde rígido.
Hiure: a merda já tá feita, só me resta ficar calmo, apertem o passo, tô com pressa! Impõe irritado.
Não demoraram pra chegar, Hiure foi logo para casa onde encontrou pizza na mesa.
Wellington: tá ferido, de novo.
Hiure: eu tava treinando com o vô branco.
Wellington: você fica tomando o tempo do Álvaro com essas besteiras, eu já não te treino o bastante?
Hiure: com ele é diferente, não sou castigado por colocar o pé 1mm fora do lugar e ele reconhece meu esforço.
Wellington: perto dele até eu pareço uma criança, você não representa desafio algum.
Hiure: não quero vencer, só quero mostrar o quanto eu cresci para alguém que se importa. Diz saindo.
Wellington: a pizza vai esfriar.
Hiure: eu perdi a fome.
Wellington: espera, fica, vamos tentar ter uma refeição em família.
Hiure: família de 2?
Wellington: é o que somos, não é?
Hiure: tá certo.
Wellington: vamos falar de qualquer coisa, tipo... já sei, a garota do Oeste talvez.
O rapaz pondera a idéia e abre um largo sorriso.
Hiure: ela é incrível...
Família é uma palavra simples, casual, dita tantas vezes que chega a perder o peso em certas ocasiões, há diversos tipos, de várias formas e tamanhos, com duas mães, dois pais, uma mãe, um pai, só de irmãos, de sangue, criação ou adotiva, tudo se resume a uma única idéia, família você descobre e cria ao longo da vida, assim será a vida desses quatro rapazes, sempre cercados por quem amam, mas quanto mais se ama, mais dor é possível sentir.

Continua...

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