12 de novembro de 2017
Raquel
Estou há três meses a viver no antigo apartamento do André e só hoje é que me apercebi que ainda tenho duas caixas no quarto que está vazio que ficaram por arrumar. Na verdade, não faço ideia do que se possa tratar, por isso, já que hoje decidi que era dia de limpeza geral e arrumações, vou aproveitar para as abrir e arrumar o que quer que seja que lá esteja dentro.
Depois de limpar o meu quarto e o do Santiago, eu dirijo-me então ao terceiro quarto do apartamento, que é o quarto onde eu acumulo toda a tralha possível e imaginária: roupa para passar a ferro, coisas que preciso de arrumar, entre outros. Eu sento-me na cama existente no quarto e coloco as duas caixas em frente a mim. Decido abrir a maior, apercebendo-me, com espanto, que se trata da caixa onde guardei as minhas memórias mais antigas.
Desde miúda que sempre gostei de guardar coisas que simbolizavam memórias e que mais tarde me levariam a determinado momento em determinado local. Guardava bilhetes de comboio, de cinema, de concertos e todo o tipo de coisas que, num determinado momento, tivessem tido algum valor sentimental ou simbolizassem algo que eu queria relembrar mais tarde. Ainda hoje continuo a ser assim, mas sou um pouco mais seletiva do que quando era mais nova.
Começo a retirar algumas coisas da caixa, deparando-me com alguns bilhetes de cinema e de comboio. Encontro também o bilhete do primeiro concerto a que fui com a Mariana, quando tinha catorze anos. Ela convenceu os meus pais a deixarem-nos ir sozinhas e fomos a Lisboa, ao antigo Pavilhão Atlântico, ver os Tokio Hotel – uma banda alemã que, na altura, fazia as nossas delícias. Não consigo evitar sorrir com as memórias desse dia. Quase nos perdemos em Lisboa e íamos perdendo o concerto, mas tudo acabou por correr bem e regressámos ao Porto sãs e salvas.
Eu encontro também um antigo diário onde escrevi muito poucas vezes, porque era algo para o qual não tinha muita paciência, e que se encontra maioritariamente preenchido com frases e letras de canções com as quais me identificava na altura. Há também algumas pulseiras perdidas no meio de todas aquelas coisas, assim como algumas fotografias com amigos da escola.
Todas as memórias da minha infância e adolescência fazem-me sorrir. Foram tempos maravilhosos e tenho memórias incríveis, que nunca vou esquecer. Cada memória dessas representa um momento que contribuiu para eu ser a pessoa que sou hoje – porque eu acredito mesmo que somos o resultado de tudo aquilo por que passamos, mesmo as coisas mais insignificantes. Todas as pessoas com quem nos cruzamos, por um curto ou longo período de tempo, tiveram algum impacto na nossa vida e na nossa personalidade. Eu acredito mesmo nisso e prefiro ver as coisas dessa forma – prefiro acreditar que as coisas menos boas que aconteceram serviram como lição e aprendizagem, em vez de terem servido para me magoar.
Volto a arrumar tudo na caixa, decidindo que a vou guardar no meu quarto e vou tentar arranjar uma mais bonita onde guardar todas estas coisas. Pego então na segunda caixa, um pouco mais pequena. Não faço realmente ideia do que ela possa conter, pois acabei mesmo por me esquecer que estas caixas existiam e o que tinham dentro. Quando abro a segunda caixa, sinto os meus olhos ficarem ligeiramente marejados.
Então foi aqui que guardei tudo isto!
A caixa está cheia de fotografias que imprimi depois de voltar de Santorini – fotos da viagem e do tempo em que eu e o André estivemos juntos. Na caixa há também outras recordações da viagem, coisas que comprei lá e algumas coisas que o André me deu. Eu sinto um nó na garganta ao passar as mãos por cada uma daquelas coisas que carregam tamanhas lembranças. Cada uma daquelas fotos traz-me memórias de uma felicidade que me parece agora longínqua e quase utópica.
Quando dou por mim, eu estou a chorar que nem uma tola mas com um enorme sorriso nos lábios. O que eu e o André vivemos, apesar de já ter terminado, foi a fase mais bonita da minha vida. Nunca me senti tão leve, tão feliz e tão eu. Ele traz o melhor de mim ao de cima e juntos eu sei que nós sempre fomos uma boa dupla. Contudo, porquê continuar a chorar sobre o leite derramado? Não vale a pena. O que passou, passou. Acabou, pronto. Nós sempre fomos bons amigos e eu acho que estamos a conseguir manter isso, o que é muito importante para mim e já me deixa satisfeita. Prefiro dar valor a isso do que continuar a lamentar-me pelo destino da nossa relação.
Lembrando-me de uma conversa que tive com André em Santorini, eu seleciono algumas fotos de todas aquelas que tenho. Seleciono as que me trazem melhores memórias, as que mais me fazem sorrir e aquelas que mais gosto. Depois de ter todas escolhidas, pego em alguma fita cola e dirijo-me até ao meu quarto. Uns segundos de planeamento na minha cabeça são suficientes para que eu decida o que quero fazer e como quero fazer. Eu começo a colar as fotos, uma a uma na parede, desenhando uma forma que pareça bonita. Quando termino, encaro a pequena "obra de arte" e sorrio. Que belas recordações!
Agora, ao olhar para todas estas fotos, em muitas das quais está o André, eu tiro uma conclusão que tem estado na minha mente há muito tempo mas que só agora sou capaz de encarar de forma adulta. Sinto que estou capaz de seguir em frente, mesmo. De viver a minha vida e esquecer a tristeza.
Nem tudo é suposto tornar-se em algo bonito e duradouro. Por vezes, as pessoas entram na nossa vida para nos mostrar o que está certo e o que está errado, para nos mostrar quem podemos ser, para nos ensinarem a amarmo-nos a nós próprios, para nos fazer sentir melhor por um pouco, ou apenas para serem alguém com quem podemos passear à noite e com quem podemos desabafar sobre a nossa vida. Nem toda a gente vai ficar para sempre e nós temos de continuar e agradecer-lhes por aquilo que nos deram.
E eu vou sempre agradecer ao André por tudo o que me deu. Mas está na altura de aceitar que aquilo que aconteceu entre nós foi bonito, sim, mas não era para durar. Prefiro manter uma boa amizade com ele do que estragar tudo com uma relação sem futuro. A partir de agora, quero uma filosofia de vida diferente em que passo a agradecer mais por tudo aquilo que me rodeia e a preocupar-me menos em que tudo seja perfeito e esteja sob o meu controlo.
Sim, eu sei que este foi um capítulo pequenino, mas não me fazia sentido torná-lo mais longo. Quis escrevê-lo para que vocês possam conhecer um pouco mais da forma de pensar e de ser da Raquel. Neste momento, ela acha que uma amizade entre ela e o André é suficiente e que está mais do que capaz de seguir em frente e ser feliz. Será que isso é realmente assim? Daqui a uns capítulos vão descobrir se a Raquel está realmente pronta para seguir em frente ou se está apenas a tentar enganar-se a si mesma.
Em relação aos comentários que têm feito nos capítulos, quero, primeiramente, agradecer por todas as palavras bonitas que têm partilhado comigo e, em segundo lugar, quero dizer-vos que, infelizmente, a Raquel e o André ainda têm um longo caminho a percorrer - por isso, talvez não esteja para breve uma reconciliação. Mas não quero dar spoilers, por isso têm de continuar a acompanhar esta história para descobrir como se vai desenrolar tudo!
Não me querendo alongar muito, quero só agradecer, mais uma vez, pelo incrível feedback que me têm dado, que incluem números de leituras e votos muito superiores àqueles com que eu podia sequer imaginar. OBRIGADA!
P.S. - Talvez hoje haja double update... ;)
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Segundas Oportunidades | André Silva ✔️
Fanfiction«Às vezes, o amor merece uma segunda oportunidade porque o tempo não estava preparado para a primeira oportunidade.» Será que André e Raquel terão uma segunda oportunidade para serem felizes juntos? - 2ª Temporada de "Acasos Felizes" - Data de iníci...