38. Dia de Derby

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23 de outubro de 2021

Raquel

Duas semanas volvidas e, finalmente, o Santiago vai poder juntar-se a mim nesta nova aventura. Após mais uma data de burocracias para conseguirmos autorização para que ele viajasse sozinho, acompanhado por uma das hospedeiras de bordo, finalmente estou à espera que o avião aterre para o ter de volta nos meus braços.

Estas duas semanas foram... Atribuladas. Temos imenso trabalho na clínica, não há mãos a medir, mas eu estou a adorar. Nunca fui uma pessoa de estar parada e gosto da adrenalina que me dá trabalhar na clínica, sempre com coisas para fazer. Obviamente, ainda estou a ser acompanhada e orientada por uma das enfermeiras mais velhas, mas ela confia muito em mim e deixa-me fazer as coisas, o que me motiva imenso. Esta está a revelar-se a melhor decisão que podia ter tomado e não tenho qualquer arrependimento relativamente a ela.

Manchester é uma cidade calma e a zona em que estamos a viver é o reflexo disso. É uma vizinhança muito simpática e prestável, tudo sempre tranquilo. Acho que já me habituei à vida por aqui e estou a gostar muito. É claro que ter a Tânia a partilhar comigo esta experiência tem ajudado e tornado tudo mais fácil, por isso sinto-me mesmo grata por termos tido a sorte de poder partilhar esta experiência e entrar juntas nesta aventura.

Além de tudo isto, há um outro ponto que tem tornado esta experiência e esta mudança em algo positivo. A minha reaproximação do André. É claro que as coisas estão longe de ser o que eram, mas eu gosto do acordo que fizemos; da decisão que tomámos em começar do zero. Criarmos uma amizade do zero, como se nada do que ocorreu no passado tivesse existido, faz com que ambos nos sintamos mais abertos a ser nós mesmos. É claro que não conseguimos efetivamente esquecer o que aconteceu, mas sinto que esta ideia de construirmos algo do zero nos deixa mais livres e nos permite ser mais genuínos. Apesar de os meus horários por turnos e da rigidez dos horários do André, nós temos tentado conversar por mensagens ou assim. Não temos estado propriamente juntos, tirando um dia em que fomos casualmente tomar café e conversar sobre tudo e nada (como nos velhos tempos), mas temos mantido o contacto e isso tem sido fundamental para podermos avançar com isto.

Os grandes placards eletrónicos do aeroporto dão conta de que o avião proveniente do Porto acabou de aterrar, portanto resta-me esperar onde combinado que o meu filho chegue, acompanhado de uma hospedeira de bordo. Estou super ansiosa por voltar a abraçá-lo, porque foi realmente doloroso passar estas duas semanas sem o ver. Estou tão habituada a tê-lo sempre comigo, que estas duas semanas foram uma verdadeira tortura.

- Mãe! – eu poderia reconhecer a sua voz em qualquer lado, por isso quando eu viro o rosto na direção do chamamento, eu encontro o Santiago a correr na minha direção.

Eu pego-o ao colo, abraçando-o com todas as forças que tenho numa tentativa de matar todas as saudades acumuladas ao longo de duas semanas. Sou obrigada a larga-lo quando a hospedeira de bordo se aproxima de nós, para se certificar que o Santiago tem a sua bagagem e está bem entregue.

- Muito obrigada por ter acompanhado o meu filho. – eu agradeço à simpática jovem.

- É o meu trabalho, não tem nada que agradecer. Além disso, tem um filho fantástico. – ela elogia, sorrindo e mexendo nos caracóis do Santiago – Bem, agora tenho de ir embora. Espero que fiques bem, Santiago.

- Obrigado. Boa viagem, Elsa. – ele despede-se da hospedeira de bordo que, após mais um simpático sorriso, vai embora.

- A viagem correu bem? – questiono-o, enquanto caminhamos até à zona dos táxis.

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