41. Pôr a Conversa em Dia

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4 de novembro de 2021

André

Durante todo o caminho desde o prédio onde a Raquel e o Santiago estão a viver até ao restaurante, eu e o Santiago pomos a conversa em dia. Já não nos víamos desde o verão e eu já estava cheio de saudades deste miúdo. Ele conta-me sobre a nova escola, sobre os novos amigos e sobre como está a gostar de estar num país novo.

- Chegámos. – anuncio, estacionando à porta do Canto Restaurant, um restaurante português que descobri mal aqui cheguei, porque o Bernardo fez questão de me trazer cá. Como ele diz, é um sítio onde podemos estar em casa mesmo estando longe de casa.

Nós entramos e eu digo o meu nome à rececionista, para que ela nos guie até à mesa que reservei para nós. Pedi propositadamente que fosse uma mesa num canto mais discreto, para que o nosso jantar não seja interrompido. Eu gosto que as pessoas reconheçam o meu trabalho e queiram falar comigo ou tirar fotos comigo, não me entendam mal; mas também gosto de poder ter os meus momentos de privacidade, sem ser incomodado, e este é um deles, sobretudo porque quero proteger a Raquel e o Santiago.

- André, um dia podes-me apresentar aos teus amigos do City? – o Santiago pergunta – Gostava muito de conhecer o Bernardo, o Ederson, o Mendy e... Bem, todos. – ele conclui e eu gargalho.

- Claro que sim, campeão. Um dia destes, vais assistir a um treino e conheces toda a gente. – afirmo, com intenções de realmente o levar – Eles vão adorar-te.

- Fixe! – ele exclama – Mamã, preciso de ir à casa de banho.

- É ali, estás a ver? – a Raquel indica, apontando o sinal colocado numa parede – Vais sozinho?

- Claro que sim. – ele responde, levantando-se da mesa.

- Isto vai parecer parvo, porque fiquei apenas dois meses e pouco sem o ver, mas ele está super crescido. – comento para a Raquel – Mesmo em termos de maturidade.

- Acho que esta mudança não me fez bem só a mim. É claro que ele ainda se está a adaptar a toda a mudança, que é muito recente para ele, mas o facto de ele ter ganho mais autonomia porque, bem, não tenho cá os meus pais para estarem com ele quando eu não posso ou para o protegerem. Ele tem aprendido a desenrascar-se sozinho e isso tem-no feito crescer. – a Raquel observa – Custa-me um pouco que ele tenha de fazer tantas coisas sozinho e que eu não consiga passar tanto tempo com ele como gostaria, porque ele tem apenas nove anos, mas eu sei que ele sempre foi super maduro para a idade que tem e muito independente, por isso eu confio nele.

- Ele é um miúdo inteligente, perspicaz, maduro e independente, tenho a certeza que ele se desenvencilha bem sozinho. Além disso, tu tens de trabalhar, por isso não tens outra opção. – comento – Sempre que precisares que ele fique com alguém por algum motivo, podes sempre dar-me uma apitadela. Tenho todo o gosto em passar algum tempo com ele, quando precisares. – afirmo.

- Obrigada, André. Também não quero incomodar-te, tens o teu trabalho. – ela diz.

- O Santiago não incomoda absolutamente nada. Tu sabes que nós nos damos bem. – respondo – Além disso, agora que voltámos a viver na mesma cidade eu pensei que... Eu e o Santiago pudéssemos passar mais tempo juntos, como antes. E contigo também, claro. – continuo, tentando não gaguejar e não parecer tão hesitante nas minhas palavras como efetivamente estou.

Não quero que a Raquel pense que me estou a infiltrar na vida deles ou a impor a minha presença. É claro que quero poder passar mais tempo com ambos, mas quero que seja vontade de ambas as partes.

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