Segundas Oportunidades | André Silva ✔️

18. A Verdade

4 de janeiro de 2018

André

Depois de ter inventado umas quantas desculpas sobre estar cansado da viagem e ter as malas para desfazer para não estar com a Giovanna ontem, hoje apercebi-me de que não podia continuar a inventar desculpas. Tenho de a enfrentar e levar a cabo a decisão que tomei durante o voo do Porto até Milão.

O toque da campainha indica a chegada da Giovanna, por isso eu deixo o jantar no forno, a gratinar durante mais uns minutos, e vou abrir a porta. A bonita italiana encara-me com um sorriso, apressando-se a puxar-me num abraço e a beijar-me carinhosamente. Definitivamente, eu não a mereço.

- Então, como correu o resto da tua estadia em Portugal? – ela pergunta, interessada, enquanto me ajuda a colocar os pratos na mesa.

- Correu bem. Deu para matar as saudades e divertir-me. – respondo, tentando não entrar em demasiados pormenores – E o teu Natal em família, como foi?

- Foi ótimo. – Gio sorri – A viagem também correu bem?

- Sim, foi tranquila. – declaro – Já estás de volta ao trabalho? – pergunto.

- Recomeço amanhã. – ela responde.

O jantar é envolvido por conversas de circunstância às quais, honestamente, não presto muita atenção. Sei que estou alheado e desatento, sei que ela começa a reparar nisso, mas simplesmente não consigo disfarçar. A minha cabeça está a mil e eu revejo vezes sem conta o discurso que planeei para este momento, contudo não sei quando avançar. Tenho medo da reação que virá da outra parte e do rumo que a conversa pode tomar.

- O que se passa, André? Estás no mundo da lua e não estás a ouvir nada do que te estou a dizer... - a italiana observa, dando depois por terminada a sua refeição.

- Desculpa... Estava perdido nos meus pensamentos. – digo, sem saber o que dizer ou por onde começar.

- E pode saber-se no que é que estavas a pensar? – ela pergunta, olhando-me atentamente.

Respiro fundo. Este é o momento certo. Não vale a pena continuar a adiar, porque isso só vai causar mais problemas. Não posso deixar que isto se torne numa bola de neve, tenho de arrancar o mal pela raiz, de uma só vez.

- Ouve, Gio, na verdade, tenho andado a pensar muito sobre um assunto muito importante... - começo, mexendo nervosamente as minhas mãos, sem saber onde as hei de colocar e tentando manter-me controlado.

- André, estás a preocupar-me. É bom que não comeces com muitos rodeios... - Gio suspira.

- Gio, eu preciso que tu ouças tudo aquilo que eu tenho para te dizer até ao fim. É um assunto delicado, que eu não consigo abordar com facilidade, por isso eu preciso que tenhas paciência e que me deixes falar. Quando eu acabar, tens todo o direito a dizer o que te estiver a passar pela cabeça. – peço.

- Tudo bem, eu ouço tudo o que tens para dizer, mas não continues a enrolar, por favor. Vai simplesmente direito ao assunto, André. – é a vez da italiana me fazer um pedido, ao qual eu assinto.

- Desde que regressei a Portugal que tenho pensado muito acerca da nossa relação. E quando te digo que tenho pensado muito significa que tenho refletido sobre como as coisas começaram e se foram desenrolando. E depois de muito tempo para refletir, eu cheguei à conclusão de que a forma como tudo aconteceu entre nós foi demasiado precipitada. As coisas aconteceram demasiado rápidas e agora é tarde demais para nos apercebermos disso, mas a verdade é que foi um erro muito grande nós termos deixado que a nossa amizade evoluísse para algo mais. – começo o meu discurso, tentando escolher as palavras certas de modo a não magoar ainda mais a Gio – Tu apareceste numa altura da minha vida em que eu precisava de alguém que me amparasse, que me voltasse a indicar o norte e, acima de tudo, que me fizesse sentir bem. Eu ganhei um enorme carinho por ti, uma enorme amizade, e acabei a confundi-la com amor. Nunca devia ter deixado tal coisa acontecer. Tudo isto é extremamente injusto para ti e eu só desejava poder voltar atrás no tempo para fazer as coisas de forma a que tu não acabasses magoada nesta história toda. – declaro, fazendo uma pausa. Suspiro, passando as mãos pelo cabelo a precisar de ser cortado.