6. Aniversário

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6 de novembro de 2017

André

O toque insistente da campainha do meu apartamento faz-me grunhir contra a almofada. É demasiado cedo para alguém estar a tocar à porcaria da campainha! Esta gente não dorme?! Eu tento ignorar o toque, tentando voltar a dormir, mas ele torna-se demasiado insistente para eu o conseguir tolerar. Eu suspiro, soltando alguns grunhidos de desagrado e sono enquanto me levanto da cama e visto uma t-shirt, porque não me apetece ir abrir a porta em tronco nu. Não acredito que nem no meu dia de folga (e também no meu dia de anos) me deixam dormir até tarde, em paz e sossego.

- Chi è? – pergunto, no meu melhor italiano, antes de abrir a porta. Ainda não vieram instalar o pequeno olho na porta conforme o meu pedido, por isso resta-me perguntar quem está do outro lado antes de abrir a porta nesta figura triste e ensonada.

Nenhuma resposta provém do outro lado e eu estou prestes a voltar para a cama quando a campainha toca mais uma vez. Mas estão a gozar comigo ou quê?! Eu suspiro frustrado e decido abrir a porta de uma vez por todas.

- Surpresa! – um coro constituído pelos meus pais e pelo meu irmão soa assim que eu abro a porta e eu não evito ficar, de facto, surpreendido. Eu tinha-lhes explicado que não conseguia ir a Portugal no meu aniversário por causa do trabalho e eles acabaram por dizer que também não tinham conseguido folgas nos seus trabalhos para virem ter comigo. Parece que me enganaram bem!

- O que é que vocês estão aqui a fazer? – pergunto, ainda incrédulo, mas com um enorme sorriso no rosto.

- O que é que te parece, idiota? – o meu irmão atira, entre gargalhadas, aproximando-se depois para me abraçar – Parabéns, mano.

- Obrigado, puto. – agradeço, abraçando depois os meus pais – Obrigado por terem vindo.

- Achas mesmo que éramos capazes de passar o teu aniversário longe de ti? – a minha mãe questiona retoricamente – Nem pensar que eu ia deixar que o meu filho passasse o seu aniversário sozinho!

- Quisemos fazer-te esta surpresa porque sabíamos que ias gostar e que não seria muito agradável passares o teu dia de anos sozinho, pela primeira vez. – o meu pai afirma e eu assinto.

- Obrigado, a sério. Vocês são a melhor família do mundo! – elogio, abraçando-os de novo – Agora entrem, não fiquem aí à porta.

- Acordámos-te? – o Afonso pergunta e eu assinto.

- Confesso que vos amaldiçoei mentalmente por estarem a tocar à minha campainha tão cedo, antes de saber que eram vocês. – conto – Como é o meu dia de folga, tinha planeado dormir até tarde e não fazer absolutamente nada o dia todo. Contudo, já que vieram cá visitar-me, há imensas coisas que podemos fazer. – sorrio.

Confesso que passar o meu aniversário sozinho era uma ideia muito pouco tentadora, por isso eu tinha decidido que ia apenas ignorar que este dia existia e tratá-lo como um dia normal. Percebia os motivos pelos quais, alegadamente, os meus pais e o meu irmão não podiam vir cá e eu próprio não podia ir até ao Porto, portanto tinha simplesmente aceitado o facto de que ia estar sozinho o dia todo e que, portanto, ia procrastinar ao máximo. Sendo que os planos mudaram completamente e os meus pais e o Afonso decidiram fazer-me esta surpresa, vou aproveitar para me divertir e levá-los a conhecer Milão.

- Já tomaram o pequeno-almoço? – pergunto-lhes.

- Comemos qualquer coisa antes de embarcar, mas era muito cedo. – a minha mãe responde. Encaro o relógio na parede da cozinha, que indica que são nove e um quarto da manhã, pelo que eles apanharam o voo lá para as seis da manhã daqui, o que significa que saíram do Porto lá para as cinco da manhã.

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