65. O dia do sim

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20 de maio de 2023

Raquel

Quando o André me pediu em casamento, uma coisa que ambos concordámos foi que não teríamos de casar imediatamente, que seria algo que decidiríamos com o tempo. Mas foi também com o passar do tempo que percebemos que não queríamos realmente esperar. Por isso, logo nos primeiros dias de janeiro, começámos a planear todo o casamento: uma coisa pequena, discreta, apenas com os familiares e amigos mais próximos, num lugar simples e bonito. Encontrámos o sítio perfeito para casarmos, O Campo, um sítio calmo, não muito grande, com um espaço verde imenso e uma decoração muito simplista e vintage, e logo marcámos uma data: 20 de maio do mesmo ano – o que implicou que nos desdobrássemos entre os nossos trabalhos e os preparativos para o casamento, assim como que delegássemos tarefas aos nossos pais para que tudo estivesse pronto a tempo e decorresse tal como o imaginámos.

Tenho de admitir que os cinco meses que separam a nossa decisão e o dia de hoje foram muito cansativos e stressantes. Estar a viver em Manchester, a trabalhar e, em simultâneo, a planear um casamento no Porto não foi propriamente fácil. Muitas vezes, eu tive de viajar até ao Porto sozinha ou o André teve de viajar sozinho porque tínhamos assuntos para tratar pessoalmente e tínhamos de coordenar os nossos horários para fazer tudo funcionar. Os nossos pais foram uma ajuda mesmo fundamental para que todos os nossos planos se realizassem e tudo corresse bem. Para que o dia de hoje pudesse chegar.

É verdade. O dia chegou. E eu achei que não ia estar minimamente nervosa, porque tenho 100% de certeza de que quero muito casar com o André, porque todos os preparativos estão feitos e não há mais nada com que nos preocupar. Contudo, são cinco da manhã e eu já estou totalmente desperta, embora o meu despertador só toque daqui a duas horas.

Apesar de me esforçar bastante para voltar a adormecer, eu não consigo muito mais do que passar por um sono muito leve até que o meu despertador toque. Nesse momento, eu levanto-me imediatamente da cama, cheia de energia, e vou até à casa de banho para tomar duche. Daqui a meia hora, a cabeleireira vai chegar cá a casa para começar a tratar de mim e logo depois da minha mãe e da Mariana, a minha madrinha de casamento.

Como manda a tradição, fiquei esta noite na casa dos meus pais e a o André ficou na dos seus e, por isso, tento fazer pouco barulho quando vou até à cozinha para tomar o pequeno-almoço, visto que eles ainda estão a dormir, tal como o meu filho. Contudo, a minha previsão demonstra-se errada quando encontro a minha mãe já de pé.

- Já estás acordada? – pergunto, deixando-lhe um beijo na bochecha antes de começar a preparar o meu pequeno-almoço.

- Sim, acordei mais cedo que o despertador. – ela responde e eu sorrio.

- Também sei o que é isso. – comento, soltando uma gargalhada – Mas já tomei duche e daqui a pouco deve chegar a cabeleireira.

- Sim. Agora alimenta-te bem. – ela diz e eu assinto, sorrindo – A tua prima também deve vir cá ter daqui a pouco. Como te sentes?

- Nem sei... Ansiosa? Nervosa? Entusiasmada? Acho que é um misto. – gargalho novamente, dando um gole na minha chávena de café com leite – Isto nem parece real... Aconteceu tanta coisa, tudo tão rápido.

- Agora, finalmente, tudo está como deveria estar, filha. Tu estás feliz, tal como mereces, e o André é o homem certo para ti, tenho a certeza. Eu e o teu pai estamos muito felizes por vocês e muito orgulhosos da mulher incrível que criámos. – a minha mãe afirma, visivelmente emocionada, o que me faz sorrir, tentando afastar as lágrimas que se tentam acumular no canto dos meus olhos. Ando especialmente sensível e carente, então vai ser complicado para mim aguentar o dia de hoje sem me desmanchar a chorar sempre que alguém diz algo bonito – Vocês percorreram um longo caminho para chegarem aqui...

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