31. A Entrevista

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6 de setembro de 2021

Raquel

Os meus pais e o Santiago acabaram de chegar dos seus dias de férias na Nazaré, por isso eu estou, neste momento, a conduzir até casa dos meus pais para matar as saudades todas do meu filho (e deles também) e saborear um maravilhoso jantar cozinhado pela minha mãe, após um longo dia de trabalho. Vou aproveitar o jantar de hoje para comunicar aos meus pais que decidi seguir em frente com a ideia de me candidatar ao anúncio de trabalho em Inglaterra. A candidatura está feita, o currículo enviado, por isso agora não há como voltar atrás. Resta-me esperar. Explicar ao Santiago será também uma tarefa complicada, mas eu acho que ele vai ficar entusiasmado com esta possibilidade.

- Mãe!! - o Santiago exclama, mal me vê a entrar pela porta principal da casa dos avós. Apesar de bem mais crescido, ele continua a correr para mim e a saltar para o meu colo como se ainda fosse uma criança pequena e, mesmo estando ele bem mais pesado, eu adoro isso - Tive saudades tuas. - ele assume.

- E eu tuas, Santi. - sorrio, depositando um beijo na sua testa - Conta-me lá como foram as férias com os avós. - peço, enquanto caminhamos até à cozinha, onde os meus pais estão.

O Santiago começa a contar detalhadamente o que fez em cada um dos dias de férias, os sítios que visitou e sobre o amiguinho que fez na Nazaré. Ele mostra-me ainda algumas coisas que os meus pais lhe compraram e algumas fotografias tiradas no telemóvel do meu pai.

- Divirtiste-te, portanto? - eu concluo.

- Sim, muito. - ele assente, freneticamente - Avó, ainda falta muito para irmos jantar?

- Não, meu querido. Já está tudo pronto, falta só arranjarmos a mesa. - a minha mãe responde, retirando o bacalhau espiritual do forno.

Nós os quatro pomos rapidamente a mesa, ocupando os nossos lugares à volta dela logo depois, para podermos começar a refeição. Eu deixo que as conversas fluam normalmente antes de introduzir o tema mais importante. Na verdade, sinto-me um pouco nervosa sobre esta novidade, porque sei que vai ser uma bomba para os meus pais imaginar-me a sair, definitivamente, debaixo da sua asa.

- Hum... Tenho uma coisa para vos contar. - anuncio, num momento mais calmo do jantar, num tom algo nervoso e pouco confiante.

- Então, querida? - o meu pai pergunta, curioso.

- Eu candidatei-me a um emprego na minha área. - revelo e logo recebo sorrisos orgulhosos dos meus pais - Porém, há um ligeiro pormenor importante, que não é nada ligeiro.

- Que é? - é a vez da minha mãe demonstrar a sua curiosidade.

- O trabalho é fora de Portugal. - largo a bomba - É uma clínica em Manchester, Inglaterra, que está a recrutar enfermeiros portugueses. Uma amiga minha concorreu e disse que eu devia concorrer também. - explico - Eu demorei algum tempo até decidir se enviava a minha candidatura ou não, mas acabei por decidir arriscar e enviei esta manhã o meu currículo. - conto.

Os olhares dos meus pais têm tanto de perplexo como de orgulhoso - eles estão, claramente, a experienciar um grande misto de sentimentos. Por outro lado, o Santiago parece um pouco confuso.

- Isso quer dizer o quê, mamã? Vamos mudar-nos? - ele pergunta.

- Ainda não sei, Santi. Se eu for aceite, nós teremos de ir viver para outro país. Tu vais ter de ir para a escola lá, temos de arranjar uma casa lá... E vamos ficar longe dos avós, da madrinha, dos tios... - tento explicar.

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