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1 de janeiro de 2018

André

É absolutamente inacreditável a forma como uma situação pode mudar numa mera questão de minutos. Ainda há instantes atrás, eu tinha a Raquel a gemer o meu nome, enquanto partilhávamos um dos momentos mais intensos que tivemos juntos, onde sem precisarmos de usar uma única palavra expusemos todos os nossos sentimentos. Agora, ela está a andar de um lado para o outro na sala, com um ar furioso e eu nem sequer consigo perceber o que se passa.

- Raquel, fala comigo! – eu peço, exasperado com a sua atitude.

- André, cala-te e deixa-me pensar! – ela exclama, deixando-me a mim irritado com a sua atitude.

Estava tudo mais do que bem, mais do que perfeito. Nós tivemos uma noite incrível, em todos os aspetos. Conversámos, divertimo-nos e matámos as saudades um do outro. Estava tudo a correr às mil maravilhas. O que raio mudou de um segundo para o outro? Eu quero e preciso de perceber.

- Foda-se, Raquel, achas que isto é assim? Está tudo bem e, de um momento para o outro, tu passas-te e não me explicas porquê? Acho que tenho o direito de saber! – exclamo.

- É assim tão difícil de entender, André? – ela atira, zangada por um motivo que eu ainda desconheço e como se eu fosse obrigado a ler-lhe a mente – Aquilo que acabou de acontecer entre nós é um tremendo erro!

- Oh por amor de Deus, a sério que depois desta noite, tu queres ter essa conversa agora, neste exato momento? Não podias esperar por amanhã de manhã para te passares? – pergunto, sentindo-me irritado por ela ter estragado o nosso momento por isto.

- Quem devia ter razões para se estar a passar, como tu dizes, aqui eras tu! Tu tens namorada, André! – ela praticamente grita, furiosa – E nós acabámos de ter sexo!

- Foi isso que foi para ti? Só sexo? – pergunto, desta vez, sentindo-me magoado com a frieza das suas palavras.

- Sabes perfeitamente que não foi só sexo para mim, nunca foi. Mas isso só torna as coisas ainda mais graves e complicadas, André! Estamos a brincar com sentimentos e não é só com os nossos! Estão outras pessoas em jogo e eu não quero magoar ninguém. – ela explica-se.

Eu não lhe respondo. Preciso de me sentar e respirar fundo algumas vezes para ser capaz de pôr a cabeça e as ideias em ordem. O álcool que me corria nas veias parece ter-se desvanecido completamente e eu sinto-me lúcido. Demasiado até.

- Não foi um erro. – declaro, calmamente, após alguns segundos de reflexão – Se ambos o quisemos, se foi importante para os dois e se o fizemos com sentimento, então não foi um erro. Teria sido um erro se um de nós não o quisesse ou se tivesse mais significado para um do que para o outro. Mas não é o caso, por isso não foi um erro.

- Oh André, isso é o lado bonito e poético da coisa. Mas a verdade é que nunca devia ter acontecido. Eu não devia ter-me deixado levar... O álcool falou mais alto. – ela afirma, sentando-se na outra ponta da sala, de frente para mim – Eu sabia que o que estávamos a fazer era errado, mas deixei que o álcool me toldasse o pensamento.

- Sinceramente, Raquel, responde-me a uma só questão. Estás arrependida? – pergunto.

- André... - ela tenta desviar o assunto, mas eu envio-lhe um olhar forte, tentando que ela perceba que não pode simplesmente fugir à resposta – Não estou arrependida do que fizemos, mas...

Segundas Oportunidades | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora