44.

713 42 13
                                    

21 de novembro de 2021

André

Para a maioria das pessoas, domingo é dia para descansar ou passear, contudo na minha profissão o domingo é, muitas vezes, um dia de trabalho como outro qualquer e hoje há treino para o jogo de terça-feira. Por isso, eu tenho de acordar cedo para me dirigir até ao centro de treinos.

- Uau, uau, uau. André Miguel, vens muito bem-disposto! – o Bernardo exclama, assim que entro no balneário, apanhando-me de surpresa. Só, então, me apercebo que estava a cantarolar a música que ouvi no carro.

- Bom dia também para ti. – cumprimento-o – E só a minha mãe é que me pode chamar André Miguel. – bem e a Raquel, acrescento mentalmente – E, sim, por acaso estou bem-disposto.

Aproveito para cumprimentar rapidamente os meus colegas de equipa, visto que nem tive tempo com a abordagem do Bernardo, e para ocupar o meu lugar.

- Então, isso significa que tens novidades para me contar. – o Bernardo afirma, fazendo-me olhá-lo de lado – Puto, não te via assim há montes de tempo. Isso só pode significar que aconteceu alguma coisa e se aconteceu alguma coisa, tens de contar aqui ao teu mano.

- Não posso, simplesmente, ter acordado bem-disposto? Tem, obrigatoriamente, de ter acontecido alguma coisa? – atiro, não lhe respondendo e contornando o assunto.

- Ouve, não precisas de me contar se for algo que prefiras guardar para ti, mas eu conheço-te e eu sei que aconteceu alguma coisa. E o que quer que seja que tenha mudado, fico feliz por te ver assim. – o Bernardo diz, agora num tom mais sério.

- Bem, isso foi tão simpático que agora me fazes sentir mal se não te contar. – gozo, revirando os olhos.

- Ah, então sempre há alguma coisa para contar! – ele exclama, dando-me um murro no ombro – Desembucha!

Há alguns olhares curiosos dos nossos colegas que nos vão sendo dirigidos, visto que eu e o Bernardo estamos a falar em português, mas ninguém faz perguntas, por isso nós continuarmos a nossa conversa.

- Ontem fui jantar com a Raquel. – admito, sorrindo – Não estava nada planeado, mas a colega dela foi trabalhar e o Santi foi dormir a casa de um amigo, por isso ela estava sozinha em casa e ligou-me a perguntar se queria ir lá jantar a casa. – explico – Cada vez acredito mais naquele cliché que diz que as coisas boas vêm quando menos esperamos.

- Vais desenvolver isso, certo? Não me vais deixar aqui a morrer de curiosidade, pois não? – o Bernardo continua com as perguntas, parecendo um miúdo de oito anos a tentar descobrir qual a sua prenda de Natal.

- Honestamente, não há muito para desenvolver. – respondo, mas depois adiciono – Quero dizer... Nós tivemos uma conversa séria e importante sobre o que realmente sentimos.

- Como assim?

- Tu sabes que nós tínhamos chegado a um acordo que íamos por tudo o que aconteceu entre nós completamente para trás das costas e começar do zero. Criar uma amizade forte do zero, com quem somos agora e não baseando-nos no que fomos antes ou naquilo que já vivemos. – relembro-o – Mas isso não tem sido nada fácil para mim. Eu vejo a Raquel e tudo o que quero fazer é beijá-la. Três anos não apagaram os meus sentimentos e agora a nossa reaproximação só parece ter intensificado tudo ainda mais. Se há alguma coisa de que eu tenho certeza na vida é de que é com ela que eu quero estar. – afirmo, suspirando – E basicamente eu acabei por lhe dizer isso ontem; não consegui guardar mais para mim. Quero estar com ela. Não quero fingir que nada aconteceu. O que aconteceu foi importante para fazer de nós quem somos hoje e para nos trazer até aqui. Foi graças aos erros que cometemos antes que agora podemos tentar novamente, sabendo que não cometeremos os mesmos erros. Cometeremos outros, é certo, mas acho que agora estamos muito mais preparados para lidar com eles. Neste momento, tudo nos leva para os braços um do outro... Por que havemos de continuar a ignorar isso, sobretudo tendo em conta que queremos estar juntos? E o melhor é que eu sei que não sou o único a sentir-me assim, ela sente o mesmo. Estamos os dois na mesma página, sabes? Pela primeira vez em muito tempo, ou talvez desde que nos conhecemos, estamos na mesma página e prontos a trilhar um caminho juntos. Não quer isto dizer que estamos oficialmente juntos, porque nós ainda queremos levar as coisas com calma. Mas simplesmente não vamos fingir que não nos amamos. Vamos ser sempre sinceros um com o outro, sobre o que estamos a sentir e a pensar. Só assim podemos fazer isto funcionar e acho, sinceramente, que estamos os dois empenhados nisto. – conto – Ouvindo isto assim eu sei que provavelmente parece que nada mudou, mas eu sinto realmente que tudo mudou. Que estamos muito mais perto de estar juntos, de sermos felizes, de... termos a nossa família. E eu nunca pensei tanto nisto como agora, mas eu sei que é com a Raquel que eu quero construir uma família.

Segundas Oportunidades | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora