30. Oportunidade de trabalho

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3 de setembro de 2021

Raquel

Frustração tem sido a palavra de ordem das últimas semanas. Sinto-me constantemente frustrada comigo mesma porque me sinto como uma toxicodependente que teve uma recaída e que tem noção do erro que está a cometer, mas que não é capaz de parar. A diferença aqui é que o meu vicio não são drogas, mas sim pensar no André. Não tenho feito outra coisa desde o casamento do Hugo além de pensar nele. Qualquer coisa que eu faça, que aconteça à minha volta, que eu veja ou que eu diga me lembra dele e isso está a tornar-se exaustivo. Torna-se exaustivo eu estar a regredir em todo o progresso que fiz e é por isso que me sinto tamanhamente frustrada.

Durante três anos, eu construí muros e barreiras para a minha própria defesa. Aprendi a viver sem o André na minha vida, sem estar dependente daquilo que sinto por ele. Contudo, aqui estou eu numa recaída gigante em que só penso no André, em tudo aquilo que ele me faz sentir, na forma como ele sorri e eu me arrepio, na forma como os olhos dele me atravessam como se eu fosse transparente. Achava que tinha aprendido a lidar com o facto de ir amá-lo para sempre, independentemente de tudo, mas que ia seguir com a minha vida. Pelos vistos, acho é que não aprendi absolutamente nada. Continuo a ser perdidamentre apaixonada por ele, a admirá-lo profundamente e a desejá-lo mais a cada dia que passa.

A verdade que se tem vindo a confirmar é que o velho ditado «longe da vista, longe do coração» tem um grande fundo de verdade, porque durante estes três anos em que mal vi o André, eu pensei muito menos nele e naquilo que sentia por ele. Houve momentos em que quase acreditei que tinha deixado de o amor. Mas bastou voltar a vê-lo, voltar a estar e a conversar com ele para que tudo voltasse como uma onda.

Eu grunho perante os meus pensamentos e continuo atarefada nas limpezas da casa. O Santiago foi passar uns dias com os meus pais à Nazaré e, por isso, estou a aproveitar para fazer uma arrumação à séria a esta casa, a limpar cada divisão a fundo no tempo que tenho livre.

O toque do telemóvel, proveniente da sala de estar, faz-me parar as limpezas da cozinha para ir atender a chamada. O nome de Tânia, uma amiga e colega de curso, está no visor e eu sorrio com a sua chamada. Já não nos vemos desde o último dia de aulas e eu confesso que já tenho saudades da Tanocas, como carinhosamente a trato.

- Olá! - exclamo, assim que atendo a chamada.

- Olá, olá! Então, miúda, como é que estás? - do outro lado da linha, Tânia pergunta-me no habitual tom bem disposto.

- Estou bem, e tu? Como andas? Não falamos há algum tempo. - observo.

- Também está tudo bem. Eu sei que tenho sido uma amiga desleixada, mas andei a aproveitar estes meses de verão ao máximo para viajar antes de iniciar uma nova etapa da minha vida. - Tânia responde e eu sorrio, mesmo que ela não me possa ver.

- E só fizeste bem! Já arranjaste trabalho? - questiono, curiosa, sabendo que ela se encontrava na mesma situação que eu.

- Mais ou menos. É justamente por causa disso que te estou a ligar. - ela responde.

- Ui, então? - fico curiosa com o seu tom.

- Bem... Eu tenho uma tia a viver em Inglaterra e ela enviou-me um anúncio de uma clínica em Manchester que está a recrutar enfermeiros portugueses, com ou sem experiência. Eu decidi candidatar-me, Raquel. E acho que tu devias fazer o mesmo. Eu sei perfeitamente que tens o Santiago e que és muito apegada à tua família, mas acredito mesmo que esta seria uma oportunidade incrivel para vocês poderem começar uma vida nova. É a tua oportunidade de realizares todos os teus sonhos, de dares ao Santiago a vida com que sempre sonhaste e de ambos poderem ser muito felizes. - Tânia explica - É claro que não te vou pressionar a nada, mas achei que tinha de te fazer esta proposta para te candidatares também.

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