0 - Mudanças

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11 de setembro de 2017

Raquel

Nunca fui grande adepta de mudanças drásticas, mesmo que a minha vida me tenha proporcionado algumas ao longo dos últimos anos. O meu problema com as mudanças é a insegurança e a incerteza que elas trazem. Quando há algo que muda, isso significa que a nossa rotina vai mudar também e que toda a nossa vida vai ser afetada por essa mudança, de uma forma ou outra. Aquilo que eu não conheço, ao qual não estou habituada, torna-me ainda mais insegura e com medo acerca daquilo que virá. É por esse motivo que eu não gosto de mudanças, porque gosto de ter o meu perímetro de segurança onde tenho tudo sob controlo.

Contudo, nos últimos anos, desde que o Santiago nasceu, a minha vida tem sido feita de mudanças constantes. Ter um filho é estar em constante mudança e progresso e isso é algo a que eu me venho a habituar. Mas não foi só o nascimento do Santiago que alterou a minha vida. O facto de ele ter adoecido revolucionou a minha vida e a minha forma de pensar por completo. Depois de tudo o que passámos, comecei a ver a vida de uma outra forma e a perceber que ser mãe é ser uma figura plástica, moldável e adaptável que não só tem de saber lidar com todas as situações, como tem de as saber ultrapassar sempre protegendo a sua "cria". Tudo aquilo por que eu e o Santiago temos passado tornou-me numa pessoa que pensa de forma diferente, que vê as coisas de forma diferente e que já vai percebendo que a mudança é algo obrigatório e essencial, que nem sempre depende da nossa vontade.

Ainda falando de mudanças, o aparecimento do André na minha vida foi talvez a mudança mais drástica deste ano. Ele mudou tudo na minha vida. Trouxe-me mais felicidade, mais confiança, mais segurança, mais autoestima, mais vontade de fazer as coisas sem pensar tanto e de as deixar fugir ao meu controlo. Para mim, o André é símbolo de uma grande mudança dentro de mim. Não deixei de ser quem eu sempre fui, uma miúda independente de ideias bem definidas, mas tornei-me numa mulher mais confiante, mais segura, que percebe que tem de se amar antes de amar os outros e que tem de fazer mais coisas por si mesma, o que inclui lutar pelos seus sonhos. Ele proporcionou uma enorme mudança em mim, pela qual eu lhe estarei eternamente grata.

Mas também ele teve de mudar e eu nunca o poderia recriminar por isso. Mudou de cidade, de país, de clube e isso trouxe uma grande mudança à minha vida também. O final da nossa relação fez-me perceber algumas coisas importantes e uma delas foi o quão importante ele foi para o meu crescimento enquanto pessoa. Hoje, sinto que sou muito mais confiante e mais determinada graças a ele. Sinto que sou capaz de lutar pelos meus sonhos e objetivos porque ele me deu a segurança que eu precisava e as certezas de que isto é o certo a fazer – mesmo que tenha custado a nossa relação. Nós separámo-nos, eu fiquei com a casa dele, saí de casa dos meus pais, ele foi viver para Milão, eu recebi os resultados das candidaturas e estou a apenas algumas horas de me matricular no curso de Enfermagem, aqui no Porto.

O último mês foi crucial para mim. Foi o mês em que eu e o Santiago nos mudámos para o (antigo) apartamento do André e foi um mês em que eu tive de aprender a lidar com a tristeza e as saudades que sentia. Pensei muito sobre a decisão que tomei em relação ao André, questionei-me muitas vezes sobre se teria feito o que estava correto e acabei por perceber que sim. Porque eu tenho de me por em primeiro lugar na minha vida e é isso que tenho feito nos últimos tempos. Eu estou primeiro e logo depois vem o Santiago. Tenho de estar bem comigo mesma para poder tomar conta dele e é esse o meu único foco. Vou trabalhar muito não só para me sentir realizada e feliz, mas para lhe poder dar tudo o que ele precisa e para o fazer feliz também. Quero muito que ele se orgulhe da mãe que tem e quero muito ter orgulho em mim própria e o no meu percurso.

Hei de sempre amar o André e hei de sempre agradecer tudo o que ele fez por mim, todos os momentos que vivemos. Vou guardar num canto muito especial do meu coração todas as nossas memórias felizes e quero sempre relembrar a forma como ele me fez sentir. Contudo, agora não tenho tempo para estar triste ou para ter saudades ou para sentir arrependimento. Não quero mais ninguém na minha vida, estou perfeitamente bem sozinha. E sem que consigo ficar bem longe dele. Ambos merecemos ser felizes, mas talvez não seja juntos. 


Como prometido, aqui está a segunda temporada de Acasos Felizes, a que eu decidi chamar Segundas Oportunidades. Este capítulo serve como uma espécie de introdução e de contextualização, para que vocês percebam como é que a Raquel encara a sua vida no momento em que esta história vai ter início. Quero fazer apenas uma ressalva: todos os capítulos, à semelhança do que acontecia com a primeira temporada, vão ter data no início e aqui a data vai ser muito importante porque eu vou escrever capítulos saltados, ou seja, eles não vão acontecer todos em dias seguidos - porque se assim fosse nunca mais saíamos daqui. É só importante que tenham isso em atenção para se conseguirem orientar no tempo da história. :)

Espero que tenham gostado deste início e que vos tenha aberto a curiosidade para tudo o que está para vir. Prometo que, do que eu já escrevi, há algumas surpresas inesperadas prestes a acontecer! :) 

Segundas Oportunidades | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora