32. Coincidências ou destino?

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10 de setembro de 2021

Raquel

- A parte difícil já está, não é? Agora é só esperar. – Tânia observa, enquanto ambas deixamos o complexo de saúde.

- Sim, tens razão. É esperar para ver o resultado. – assinto – Estou cheia de fome! Temos de tentar encontrar um sítio para almoçar.

- Espera aí, vou procurar aqui na net um sítio bom e razoavelmente barato para podermos almoçar. – a Tânia afirma, tirando logo o seu telemóvel para pesquisar – Está aqui um restaurante de sandes que parece muito bom e que só precisamos de apanhar a linha azul do metro para lá chegar.

- Parece que já decidimos, então. – eu sorrio-lhe.

Nós caminhamos durante cinco minutos até encontrarmos a estação de metro e, após demorarmos algum tempo a orientarmo-nos e a perceber o funcionamento das coisas, nós lá conseguimos encontrar a linha certa, onde esperamos que o metro chegue. Seis minutos de viagem e duas paragens depois, nós saímos em Piccadilly Gardens e caminhamos durante mais uns minutos, até encontrarmos o dito restaurante. O restaurante tem um ar super rústico e descontraído, que torna tudo muito mais familiar e confortável. Nós ocupamos uma das poucas mesas vazias, percorrendo o menu na procura da nossa refeição. Acabamos por nos decidir pela especialidade da casa, que é algo semelhante a uma tosta mista, mas com carne desfiada no seu interior e acompanhada de salada. O aspeto é ótimo e o cheiro é ainda melhor.

- Habituava-me a esta vida... - Tânia comenta e ambas gargalhamos.

Deixo que o meu pensamento disperse por uns minutos e permito-me imaginar uma vida aqui – numa cidade e num país que não me pertencem, a realizar o meu sonho de ser enfermeira e de poder dedicar a minha vida a cuidar dos outros. Imagino-me a educar o Santiago aqui, a vê-lo crescer e tornar-se homem, a vê-lo fazer novos amigos... E imaginar tudo isso, que no início me assustava tanto, faz-me agora sentir entusiasmada e com muita vontade de que tudo isto possa tornar-se realidade.

Quando os meus olhos, por mero acaso, caem na televisão que passa noticias, eu desperto de todos os meus pensamentos e fico completamente surpreendida e sem reação.

- Estás bem, Raquel? Ficaste pálida de repente. – Tânia repara e eu preciso de uns segundos para assimilar tudo na minha cabeça e ser capaz de produzir uma resposta.

- Tu não vais acreditar. – declaro, sabendo que ela está a par de toda a minha história e de tudo o que tem sido a minha vida nos últimos anos e que, por isso, vai ficar tão ou mais surpreendida que eu.

- Desembucha!!

- Acabei de ver nas notícias que o novo reforço do Manchester City já está a dar o ar da sua graça nos relvados. – começo, recebendo um olhar confuso da Tânia – Não queres dar um palpite sobre quem é este reforço?

- Oh Raquel, sabes perfeitamente que eu não percebo nada de futebol! – Tânia lamenta-se, revirando os olhos.

- O André. – respondo e, pela sua expressão, eu consigo perceber que ainda não se fez uma luz na cabeça dela – André Silva. O meu André. – esclareço.

- Oh meu Deus! Tu estás a falar a sério? – ela pergunta e eu assinto, apontando para a televisão, onde a notícia ainda passa – Como é que isto é possível? Quero dizer, se isto não é o destino, não sei o que é.

- Oh Tânia, menos! – exclamo, revirando os olhos.

- Raquel, tens de concordar comigo que isto são muitas coincidências. De repente, ao fim deste tempo todo, vocês reencontram-se lá no casamento do primo dele. Okay, era algo expectável, mas não seria assim tão expectável que vocês resolvessem conversar após durante estes 3 anos se terem ignorado à força toda propositadamente. – Tânia começa – Depois, surge esta oportunidade de trabalho em Manchester, nós vimos até cá para a entrevista e agora tu descobres que ele está a viver e a trabalhar cá. É claro que é o destino!

- Já acreditei mais nessas tretas do que acredito agora. É uma coincidência dos diabos sim, mas não passa disso. Além do mais, eu nem se quer sei se vou ser escolhida para o emprego... Só fiquei surpreendida. – respondo.

- Olha Raquel, eu acho que tu tens de acreditar no que quiseres, mas que isto quer dizer alguma coisa, quer. – Tânia afirma – Eu acho que isto é o universo a conspirar a vosso favor, a mostrar-vos que merecem uma segunda oportunidade.

- Nós já tentámos demasiado, Tânia, e o universo já nos provou que não fomos feitos para estar juntos. – replico, num tom maduro e conformado, ignorando as borboletas que esvoaçam no meu estômago.

- Por favor, Raquel! Eu nunca vos vi juntos, é verdade, mas já ouvi a vossa história e por muitas vezes te ouvi a falar dele. O brilho nos teus olhos quando o nome dele vem à baila, a forma como me contaste a vossa história... É claro que vocês foram feitos um para o outro. Talvez não tenha funcionado à primeira tentativa, mas agora tudo parece estar a conspirar a vosso favor. Se este emprego for teu, promete-me que o vais procurar. – Tânia diz.

- Não sejas parva. – desvalorizo, revirando os olhos.

- Estou a falar a sério, Raquel. Promete-me que vais entrar em contacto com ele se, de facto, vieres viver para Manchester. – Tânia pede – Tu conheces-me e sabes que eu sou uma cética nestas coisas do amor, mas eu estou a torcer por vocês os dois.

- Okay. Se eu vier viver para Manchester, talvez tente entrar em contacto com ele. Porém, isso não significa que nós vamos reatar. – afirmo.

- Vou esperar para ver. – ela declara, piscando-me o olho.

Mentiria se dissesse que esta nova informação não mexeu comigo. Saber que, neste momento, estamos no mesmo país, na mesma cidade; saber que, se eu conseguir este emprego, voltaremos a trabalhar e a viver no mesmo sítio, com alta probabilidade de nos cruzarmos; e saber que ele continua a ser alguém muito importante para mim faz com que esta informação crie um grande rebuliço em mim. Porque, como a Tânia disse, isto não pode ser só uma coincidência. Ou pode? Será que é realmente o destino que está a cumprir o seu trabalho e que se está a encarregar de nos juntar novamente? Será que, de facto, a nossa relação merece uma segunda oportunidade?

***

Para todas as meninas que nos comentários dos últimos dois capítulos diziam que a Raquel não devia ir ou que isso só a ia afastar mais do André... Parece que estavam erradas! Já sabiam que eu nunca dou ponto sem nó ahahahah

Parece que os caminhos da Raquel e o André se podem voltar a cruzar, desta vez em Manchester. O que acham disso? Acham que eles merecem a tal segunda oportunidade ou que isso nunca vai realmente acontecer?

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