16. Caminhos Perigosos

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31 de dezembro de 2017

Raquel

O jantar foi extremamente agradável e eu diverti-me como já não me divertia há algum tempo. Ri-me imenso e senti-me realmente em casa, no meio de tantas pessoas que fazem parte da minha vida há tão pouco tempo, mas que já desempenham um papel muito especial nela. Depois do jantar, que estava bastante bom, por sinal, e das sobremesas, nós vamos todos para a sala conversar e jogar alguns jogos. Os rapazes perdem-se entre os jogos de playstation, alternando entre os lugares disponíveis para o Party & Co.

Como a meia-noite se aproxima, nós decidimos ir até aos Aliados para festejarmos a entrada no ano novo e vermos o espetáculo de fogo de artificio. Como sabemos que será impossível estacionar por lá, nós dividimo-nos por alguns táxis e vamos então até ao nosso destino, chegando lá quando faltam dez minutos para a meia-noite. Todos nos servimos com o espumante que está a ser distribuído pelas ruas, aguardando pela chegada de 2018.

Pensar na forma como este ano começou e na forma como está a acabar faz-me viajar numa montanha russa de emoções absolutamente alucinante. Tudo passou tão rápido e foi vivido com tanta intensidade que me é impossível não ficar emocionada ao pensar neste ano – que foi, diga-se de passagem, magnífico, mesmo apesar das coisas que não foram tão boas. Acho que aquilo que foi bom suplanta aquilo que foi mau e é nas coisas que me fizeram feliz que tenho de me focar.

Comecei o ano de 2017 no IPO, ao lado do Santiago, como, de resto, passei grande parte do ano anterior. Comecei o ano a desejar que aquela tortura acabasse, que eu deixasse de ver o meu filho constantemente a sofrer dentro das quatro paredes daquele hospital. E, felizmente, os meus desejos concretizaram-se.

Comecei 2017 a conhecer alguém que eu mal sabia o quão importante seria para mim. O André entrou na minha vida pouco antes de 2016 acabar e fez questão de, logo no início de 2017, me mostrar que viera para ficar. E de que maneira! No início, confesso que achava que ele seria só mais uma daquelas pessoas que entra na nossa vida por um período limitado de tempo e que depois sai, sem ter qualquer impacto. Achei que seria assim. Que ele ficaria durante algum tempo nas nossas vidas, para apoiar o Santiago, e que iria embora passado algum tempo. Mas enganei-me redondamente! Com o passar do tempo, ele fazia questão de entrar mais e mais nas nossas vidas, tornando-se mais do que um mero conhecido e passando a ser um verdadeiro amigo e apoio. Lembro-me perfeitamente de como ele esteve do meu lado quando o primeiro dador apareceu para o Santiago, mas ele não pode receber a medula. Não tinha de o fazer, mas ele quis estar lá para mim, a apoiar-me como, de resto, sempre fez. Acho que nesse dia percebi o quão especial ele realmente é e também foi a partir daí que nos aproximámos ainda mais, começando a fazer parte da vida um do outro de uma forma especial. Eu sabia que ele estaria sempre disponível para mim e ele sabia que eu estava sempre pronta a apoiá-lo em tudo.

Mais uma vez, quando o segundo dador para o Santiago apareceu, o André estava comigo. Foi por mera coincidência, é certo, mas ele estava ao meu lado num momento que foi um dos mais felizes do meu ano. Saber que o Santiago tinha ali a sua hipótese de ficar bem, e daquela vez era bem real e tangível, foi uma felicidade tão grande que eu acho que nem soube bem lidar com ela. Foi ele quem me garantiu que tudo estava bem, que aquilo estava efetivamente a acontecer e eu nunca vou esquecer o brilho nos seus olhos naquele dia, enquanto proferia aquelas palavras para mim. E nunca vou esquecer que foi nesse dia o nosso primeiro beijo. Agora, ao lembrar-me de como me senti depois desse beijo só me apetece rir. Agi como uma adolescente, de novo. Estava tão confusa sobre os motivos do nosso beijo, sobre aquilo que se passava entre nós que não conseguia parar de pensar sobre isso. Mas acho que demorei algum tempo até perceber que estava, efetivamente, apaixonada pelo André.

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