67. Tentar e esperar

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Um mês e meio depois

Raquel

A gravidez do Santiago não foi planeada, foi totalmente inesperada e, inicialmente, indesejada. Tinha 16 anos, estava grávida por acidente e o pai nem sequer quis assumir ou apoiar-me. Dizer que me senti desamparada é um eufemismo. Achei que a minha vida tinha ido pelo cano abaixo e que ia ser uma pessoa miserável para o resto da vida. Felizmente, tive ao meu lado toda a minha família, que nunca me julgou e que me apoiou quando eu mais precisei. Se não tivesse tido todo o apoio dos meus pais, eu sei que nunca tinha seguido em frente com a gravidez. Mas, felizmente, eu tive o apoio deles, segui com a gravidez e hoje tenho um filho incrível que é a melhor coisa da minha vida.

Desta vez, as coisas vão ser diferentes. Eu e o André decidimos que queremos ter um filho e, por isso, desta vez tudo é desejado e planeado. Temos tentado engravidar e estamos ambos tão entusiasmados com a ideia de ser pais que só queremos que chegue o momento. Passar por todo o processo de uma gravidez, desta vez, muito desejada com alguém ao meu lado que é o pai do bebé e o amor da minha vida será toda uma nova experiência (para os dois) e tenho a certeza que será uma caminhada linda. Sei que será sempre uma gravidez muito diferente da do Santiago, devido a toda a diferença no contexto da situação.

Bem, depois de mais de um mês a tentar, hoje vou fazer o primeiro teste de gravidez. Quando o meu turno acabar e sair do hospital, vou passar pela farmácia, comprar 3 testes (porque é melhor experimentar mais que uma vez) e fazê-los. Estou com um atraso de alguns dias da menstruação, o que não faz muito sentido visto que nunca tive este tipo de problemas. Não quero elevar demasiado as minhas esperanças, nem criar ilusões, nem a mim nem ao André, por isso não lhe disse que ia fazer o teste hoje. Pode ser um falso alarme. Isto pode ser a minha vontade e o meu sistema nervoso a influenciarem o meu corpo, por isso não quero criar demasiadas expetativas.

No fim do turno, eu passo pela farmácia que fica mais perto do meu local de trabalho e compro três testes de gravidez diferentes, para poder comparar os resultados. Como sei que vou estar sozinha quando chegar a casa, porque o André vai buscar o Santiago à escola e depois vai deixá-lo ao treino, sigo direta para lá. Durante todo o caminho, ponho o rádio bem alto para não poder pensar demasiado nem ficar demasiado ansiosa com tudo isto e a verdade é que o caminho até casa nunca me pareceu tão longo e penoso. Ao chegar, apenas pouso as minhas coisas em cima da mesa e vou até à casa de banho realizar os testes.

O meu coração bate descompassadamente e eu estou tão ansiosa que as minhas mãos tremem por todo o lado. Contudo, desta vez, é uma ansiedade boa, não aquela que senti quando descobri que estava grávida do Santiago. Realizo os três testes seguidos e depois espero. Aqueles segundos parecem infinitos.

Negativo. Os três. Negativo.

Eu sinto um grande aperto no peito, pelo desgosto, a desilusão. Eu devia saber que o meu estado emocional me estava a enganar, que isto era o meu sistema nervoso a reagir e o meu corpo a reagir ao facto de ter parado de tomar a pilula. Contudo, não deixo de me sentir triste porque queria muito, muito mesmo, estar grávida.

Uma parte de mim quer evitar que o André passe por esta mesma desilusão e, por isso, penso não lhe contar sobre os testes de gravidez. Contudo, a nossa relação e o nosso casamento são baseados na comunicação e na sinceridade, por isso tenho de lhe contar. Além disso, ele não vai criar tantas ilusões como eu, visto que vai saber a realidade toda de uma só vez.

Só toco no assunto quando estamos ambos prestes a deitar-nos e o Santiago também já está a dormir. Não quis falar à frente do Santiago, porque isto pode ser confuso para ele, e também não quis contar ao André enquanto não pudéssemos conversar os dois calmamente sobre isto.

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