45. De volta a casa

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21 de dezembro de 2021

Raquel

Quase quatro meses depois de ter trocado o meu Porto por Manchester, volto a casa para passar uns dias em família e aproveitar o Natal para matar saudades dos meus. Terei de regressar a Manchester no dia vinte e seis, visto que vou trabalhar nos dias seguintes, mas sempre dá para matar as saudades.

- Mamã, quem é que nos vai buscar ao aeroporto? – o Santi pergunta, durante o nosso voo, quando falta menos de meia hora para aterrarmos no aeroporto Sá Carneiro.

- A madrinha e o Tiago. – respondo, sorrindo – O avô e a avó não sabem que vimos hoje, vamos fazer-lhes uma surpresa. – revelo ao meu filho o meu plano. Disse aos meus pais que só viria no dia vinte e três, mas consegui tirar mais dois dias de férias e decidi que não os iria avisar para lhes podermos fazer uma surpresa.

- Eles vão gostar muito. – o Santi comenta e eu assinto, sorrindo – Já tenho saudades da madrinha e do Tiago, também.

- Eu também, filho. – deixo um beijo nos seus caracóis.

A verdade é que, por mais que eu adore a minha nova vida, nunca nada poderá substituir os meus e esses ficaram no Porto. As pessoas com que eu cresci, que eu amo, ficaram no Porto e com elas ficou uma parte grande de mim. Por isso, voltar a casa, aos braços deles, vai ser sempre o meu porto de abrigo.

Embora eu tenha a Tânia (e o Santiago) a viver comigo e me tenha reaproximado do André, o que contribui para que eu não me sinta sozinha, sinto muita falta dos meus pais e de os poder ver quando me apetecia. E sinto muita falta dos almoços com a Mariana, para pormos as conversas e as cusquices em dia, e sinto ainda mais falta dela por saber que não posso acompanhar a sua gravidez da forma que eu gostaria.

Apesar da dificuldade em aterrar, devido ao vento que se faz sentir na cidade do Porto, tudo decorre na normalidade e tranquilamente. Eu e o Santiago recolhemos a nossa mala do porão e encaminhamo-nos, então, para as portas de saída, onde algures estarão a Mariana e o Tiago à nossa espera. Eu confesso que quando os encontro e vejo a Mariana com um barrigão enorme à nossa espera, eu não consigo controlar as lágrimas. As saudades parecem tornar-se ainda maiores e mais reais agora que os vejo e eu nem sequer impeço as lágrimas de caírem. O Santiago corre a abraçá-los e eu vou logo atrás dele. Mal me vê, a Mariana começa também a chorar, abraçando-me com força.

- Oh miúda, as saudades que eu tinha! – ela murmura ao meu ouvido.

- E eu tuas, Mariana! E essa barriga? Estás tão bonita! – elogio, afastando-me para poder olhar bem para ela.

- Bonita? Estou uma bola! – ela brinca, limpando as suas lágrimas e as minhas – Tu é que estás linda! Com um brilho especial, de quem está feliz.

- E de quem está a morrer de saudades. – completo, gargalhando, e de seguida cumprimento o Tiago, abraçando-o também – Juro, tinha tantas saudades vossas!

- E nós também já estávamos a morrer de saudades vossas. – o Tiago sorri, despenteando o Santiago – Puto, a Mariana não me dá luta na playstation, já tenho saudades de jogar com alguém que percebe.

- É quando quiseres! – o Santiago exclama, animado.

- Bem, vamos andando? – o Tiago pergunta e todos assentimos, dirigindo-nos até ao lugar onde o carro deles ficou estacionado.

- Madrinha, sabias que a mãe e o André são amigos outra vez? – o Santiago pergunta à Mariana.

- Saber, até sabia. – a Mariana responde. Como é óbvio, eu contei-lhe – Mas quero saber o que é que achas disso. – eu gargalho, mas deixo que os dois continuem a conversa. Até porque quero ouvir o que o Santiago vai responder.

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