15. Retrospetiva

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31 de dezembro de 2017

André

Depois daquele que foi um Natal recheado de conversas, gritarias, gargalhadas, comida e presentes – um Natal tão típico da minha família -, seguiram-se alguns dias em que eu, o meu irmão e os meus primos resolvemos ir dar uma volta pelo nosso país, numa pequena roadtrip. Alugámos uma carrinha pão de forma e visitámos juntos algumas cidades do belo Portugal, o que se revelou uma bela terapia para mim. Durante os cinco dias que passámos juntos, a descobrir verdadeiros paraísos escondidos no nosso pais, eu pude realmente espairecer e aliviar um pouco a minha cabeça. Estas férias em Portugal têm-se revelado mais complicadas do que eu esperava, em vários níveis, e poder escapar por uns dias foi realmente ótimo. Ajudou-me a esquecer tudo e a divertir-me com aqueles que são os meus melhores amigos desde que me lembro.

Agora, já de regresso ao Porto, é tempo de prepararmos a passagem de ano. Uma vez que os meus pais e os meus tios vão ficar cá por casa, eu, o Afonso e os nossos primos resolvemos fazer a nossa festa de final de ano em casa do Tiago e do Zé, com a devida autorização dos meus tios. Vamos preparar uma jantarada para nós e alguns amigos próximos cá em casa e, provavelmente, perto da meia-noite iremos até aos Aliados.

- É para terem juízo, meninos! – a minha mãe repete, pela quinta vez, ao almoço, enquanto eu e o Afonso falamos animados sobre a nossa noite – E tu, André Miguel, não te esqueças que tens de ter cuidados.

- Mãe, eu não tenho dez anos. – relembro-a – Sei perfeitamente cuidar de mim. Além disso, um dia não são dias.

- Neste caso, uma noite não são noites. – Afonso acrescenta, gargalhando – Nós vamo-nos portar lindamente, mãezinha.

- Não partam nada aos vossos tios, por favor. – o meu pai pede, embora num evidente tom de gozo.

- Se partirmos, o Zé e o Tiago dão conta do assunto. – o Afonso declara, encolhendo os ombros.

- Nem quero imaginar a rebaldaria que vai ser... - a minha mãe observa, levando à mão à cabeça, enquanto a abana negativamente – É melhor nem pensar!

- Somos todos crescidinhos, mãe, não te preocupes. O Diogo toma conta de nós. – afirmo.

- Ele é mais novo! – a minha mãe exclama.

- Por isso mesmo, é o único que ainda tem os pirolitos todos no sítio! – Afonso constata, despoletando uma sonora gargalhada em mim e no meu pai, à qual a minha mãe acaba por se juntar.

- Vocês não têm juízo nenhum... - ela observa, ainda entre gargalhadas.

O resto do almoço é também muito divertido, uma vez que eu e o Afonso partilhamos com os nossos pais algumas das peripécias dos nossos dias de férias – nomeadamente, o facto de o Hugo se ter perdido quando decidiu ir fazer necessidades ao ar livre em pleno Gerês e ter demorado quase duas horas a voltar para junto a nós quando, na verdade, estava a pouco mais de três metros de distância.

Terminada a refeição, eu e o Afonso tratamos de arrumar a cozinha, uma vez que a minha mãe está de volta dos doces para a noite do réveillon. Depois da cozinha arrumada, nós subimos até aos nossos quartos para preparar as coisas que temos de levar para logo à noite, incluindo alguns jogos de tabuleiro, jogos de consola, algumas coisas que comprámos e roupa. Falta só mesmo o bolo que, gentilmente, a nossa mãe decidiu cozinhar para nós levarmos.

- André, tenho de te dizer uma cena. – o Afonso diz, entrando no meu quarto.

- O que é que foi, puto? – pergunto, sentando-me na cama a olhar para o meu irmão mais novo.

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