33. Voar

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28 de setembro de 2021

Raquel

Passaram mais de duas semanas desde que fui à entrevista em Manchester e desde então que estou à espera de uma resposta que (ainda) não chegou. Confesso que, inicialmente, ia todos os dias verificar o meu e-mail, ansiosa e convicta de que o "sim" haveria de chegar. Porém, depois deste tempo todo, já me mentalizei de que foi uma boa experiência, mas que não passou disso e que, portanto, vou ter de continuar a procurar emprego por aqui.

A minha súbita vontade e motivação para ir para Manchester também se deveu muito a eu ter descoberto que o André está lá. Quero dizer, nunca o iria dizer em voz alta ou admiti-lo para outra pessoa, mas houve algo em mim que despertou, que acordou e ganhou forças para correr atrás dele, lutar por ele e por tudo o que nós ainda podemos viver. Contudo, também essa vontade já se dissipou. Foi uma ilusão parva e, mais uma vez, eu fui relembrada de que entre nós já não há nada e nunca mais vai haver.

- Raquel? – Ana Maria, uma das minhas colegas de trabalho do restaurante, chama-me.

- Sim? Precisas de alguma coisa? – pergunto.

- Acabaram de ligar aqui para o restaurante e pediram para falar contigo. – ela informa-me – Pusemos a chamada em espera e dissemos que ias já. Vai lá que estão à tua espera.

- Okay, muito obrigada. – eu sorrio, deslocando-me então até às traseiras do restaurante, para atender a chamada – Sim?

- Amiga! – a estridente voz da Tânia soa do outro lado – Fartei-me de te ligar e não atendeste, por isso tive de ligar para o restaurante.

- Eu não costumo ter o telemóvel comigo durante o meu horário de trabalho. – respondo no tom mais óbvio do mundo – Mas passa-se alguma coisa? Por que é que tinhas tanta urgência em falar comigo?

- Não foste ao computador hoje? – ela pergunta-me.

- Nem hoje nem nos últimos dias. Tenho andado super cansada, sem vontade de fazer nada quando chego a casa. Mas o que se passa? Desembucha! – exclamo, ansiosa com o seu discurso.

- Eu recebi um e-mail da clínica em Manchester. Fui aceite! Eles querem que eu assine um contrato já na próxima semana! – ela conta, transbordando felicidade e entusiasmo.

- Uau! Parabéns! Tu mereces, miúda. – eu sorrio, embora me sinta triste por ter perdido esta oportunidade.

- Raquel... Se eu entrei, tu também entraste de certeza! Vai ver o teu e-mail agora! Já! É uma ordem! – ela quase grita comigo e eu reviro os olhos, mesmo que ela não me consiga ver.

- Espera dez segundos. Vou buscar o meu telemóvel. – respondo. Eu corro até aos cacifos, pegando o meu telemóvel e voltando para junto do telefone. Com o nervosismo e a atrapalhação, eu demoro o dobro do tempo até conseguir aceder ao meu e-mail – Oh meu Deus! Tânia, eles também querem que eu assine contrato com eles! – exclamo, praticamente gritando tal é o entusiasmo – Eu não acredito! Eu já tinha perdido a esperança... Eu, eu... Juro que não estou em mim! – eu estou tão emocionada com isto que até a minha voz está trémula.

- Eu disse-te, miúda. Eu disse que nós íamos para Manchester! – ela afirma, convencida – Sabes o que tens a fazer agora?

- Contar a toda a gente, responder ao e-mail, organizar a minha vida toda... - começo a enumerar todas as coisas de que preciso de tratar com urgência.

Segundas Oportunidades | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora