24. Novo Rumo

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12 de abril de 2018

Raquel

Há muito tempo que não me sentia como me tenho sentido nos últimos dias. Desde o meu aniversário e daquela conversa com o André que não tenho conseguido pensar em mais nada a não ser nele e em nós. Na decisão que tomei há uns meses acerca de nós, do nosso futuro. Continuo a rever aquela conversa na minha cabeça, a repensar a minha decisão, a tentar descobrir se tomei ou não a decisão certa. Tenho pesado prós e contras incessantemente. Tenho posto em questão todas as minhas decisões, tudo o que tenho feito da minha vida nos últimos meses. Tenho revivido as nossas conversas e as nossas discussões. Acho que tenho posto tudo em causa, sinceramente, e isso tem-me deitado muito abaixo. Não me sentia tão triste há muitos meses.

No dia em que descobri que o André iria para Milão, eu não só decidi que não iria com ele, porque não queria, como decidi que não queria continuar numa relação com ele. Não foi culpa dele, não foi culpa minha, foram apenas as circunstâncias que mudaram. As nossas vidas iam mudar drasticamente - aliás, mudaram drasticamente – e ambos sabíamos que a nossa relação acabaria por chegar a um ponto em que se tornaria insustentável. Naquele dia, eu decidi que me ia pôr em primeiro lugar, que eu ia ser a minha própria prioridade. É isso que tenho feito desde então. Tenho cuidado do meu filho, é óbvio, mas nunca pondo de parte aquilo que agora são os meus objetivos e aquilo que eu quero da minha vida. Eu tenho cumprido aquilo que decidi naquele dia e as minhas convicções não mudaram um bocadinho, se quer.

Tal como afirmei naquele dia, em Santorini, eu amo o André, mas eu também me amo a mim e amo-me o suficiente para saber quando desistir de alguma coisa que me vai trazer sofrimento. Uma relação à distância com o André iria fazer-me sofrer, e muito. Iria sofrer todos os dias com a distância, com as ausências, com as dores dele... E isso não é algo que eu queira ou possa suportar nesta fase da minha vida. Estou num momento da minha vida em quero ser egoísta, em que quero fazer aquilo que acho melhor para mim e que não me vai magoar. Talvez um dia me vá arrepender das decisões que estou a tomar, das escolhas que estou a fazer. Talvez um dia olhe para trás e considere que tudo isto foi uma tremenda estupidez minha, mas isso são consequências com as quais eu vou ter de arcar. Agora, isto é o melhor para mim e a minha postura não mudou.

Por isso, depois de ter passado estes dias embrenhada nos meus pensamentos, a decidir exaustivamente o que queria ou não queria, o que fazer ou não, eu decidi que está na altura de eu e o André termos uma conversa muito, muito séria. Como não quero adiar mais este assunto e quero falar pessoalmente com ele, eu aproveito que este é último dia dele em Portugal, antes de regressar a Milão, para que possamos ter a conversa. Pedi aos meus pais que ficassem com o Santiago durante este tempo, para que eu e o André possamos conversar calmamente, e a sós, cá em casa. 

 São seis da tarde quando a campainha toca, anunciando a chegada do André. Arrumo todos os meus apontamentos da mesa da cozinha e depois vou abrir a porta. Eu e o André cumprimentamo-nos de forma algo fria e distante, como se isto fosse já um presságio do que aí vem.

- Deduzo que o motivo que te levou a chamar-me aqui para conversarmos seja sério. E tenha a ver com a nossa última conversa. – ele afirma, sentando-se ao meu lado no sofá.

Estamos sentados lado a lado, mas virados de frente um para o outro, de modo a podermos encarar-nos. O olhar do André é tão triste que eu quase me arrependo de o ter chamado aqui para termos esta conversa, mas não vou voltar atrás agora. A atmosfera entre nós é tão densa que quase custa respirar. A tensão é palpável e é como estivéssemos ambos à beira do colapso.

- Tens razão. – digo – Os últimos dias têm servido para eu pensar muito, André.

- Sobre quê?

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