37. Começar do Zero

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9 de outubro de 2021

André

Depois do treino da manhã, eu volto a casa para preparar o meu almoço e almoçar. Aproveito o tempo em que estou a almoçar para mandar à Raquel as indicações do local onde nos vamos encontrar mais logo. Segundo o que ela me disse, apenas ontem chegou a Manchester, por isso decidimos encontrarmo-nos esta tarde para podermos ter uma conversa.

Encontro-me bastante nervoso e não sou capaz de, sequer, disfarçar que me sinto assim. É estranho pensar que, depois de três anos, vamos estar sentados frente a frente, para termos uma conversa. Eu sei que estivemos juntos no casamento do Hugo e inclusive conversámos, mas hoje é diferente. Naquele dia pouco mais foi do que uma cordial conversa de circunstância; hoje vamos ter uma conversa séria, honesta, crua e eu tenho medo do que dela possa resultar. Não sei bem do que tenho medo – de encontrar uma Raquel diferente, de que possamos acabar a conversa em discussão ou de que esta conversa venha abrir feridas antigas que estão mal curadas -, mas sei que esta foi a decisão mais correta e adulta que ambos tomámos. As coisas só se resolvem conversando e acho que ambos já temos o distanciamento suficiente da situação para podermos refletir sobre ela.

O tempo entre a hora de almoço e a hora combinada para eu e a Raquel nos encontrarmos passa demasiado lentamente; aliás, eu acho mesmo que o tempo para durante alguns momentos. Felizmente, as três da tarde chegam e eu saio de casa, conduzindo até ao local escolhido por mim para a nossa conversa – um café super vintage, sossegado e simpático, escondido numa das ruas de Manchester e que se tem tornado um dos meus locais favoritos aqui. Tem sempre música ambiente, mas baixa o suficiente para as pessoas poderem conversar calmamente e nunca está demasiado cheio – perfeito, na minha opinião.

Como é de esperar, eu sou o primeiro a chegar, visto que a Raquel tem de se deslocar de metro até aqui e vive mais longe. Assim, eu escolho uma mesa afastada das que estão ocupadas e num canto da sala, junto a uma das janelas. Peço um café com caramelo e natas para mim, enquanto espero pela Raquel.

- Olá, André. – eu estou distraído no telemóvel quando a sua voz chama por mim e eu reconheço-a imediatamente. O meu coração acelera repentinamente e eu preciso de me concentrar para não deixar transparecer todo o meu nervosismo.

- Olá, Raquel. – eu levanto-me para a cumprimentar, encarando-a.

Mentiria se dissesse que a Raquel está igual há três anos. Não está. Está ainda mais bonita. Um pouco mais magra, mas não muito, pois as suas curvas que eu sempre adorei continuam lá; ao contrário do que eu estava habituado, há uma maquilhagem simples e bastante natural no seu rosto. Os seus caracóis mantêm-se, mas agora um pouco mais curtos. Ela continua a ser a mulher mais bonita que eu alguma vez conheci. Os seus olhos e o seu sorriso sempre me fizeram derreter e não é agora que isso vai mudar.

- Como estás? – apresso-me a perguntar, quando ocupamos os nossos lugares, frente a frente.

- Bem. E tu? – ela pergunta, sorrindo. Há qualquer coisa nela que me relaxa. Não sei se é o sorriso ou a aura brilhante que ela carrega ou o facto de eu olhar para ela e sentir-me em casa. Não sei, mas todos os músculos do meu corpo relaxaram e o meu coração voltou a acalmar.

- Também. Foi difícil chegares até aqui? – eu questiono, fazendo um pouco de conversa de circunstância numa tentativa de aligeirar o ambiente antes de entrarmos em temas mais sensíveis.

- Bem, o metro não é propriamente a coisa mais fácil de decifrar, mas eu cheguei aqui, por isso acho que me safo bem. – ela brinca – Manchester City, huh? Estou orgulhosa. – muda o assunto.

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