23. Surpresa

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9 de abril de 2018

Raquel

Depois de um almoço extremamente agradável, o André convence-me a irmos passear pela baixa do Porto e pela ribeira. Gosto da forma descontraída como estamos a lidar um com o outro, como se toda a nossa vida tivéssemos sido amigos e as coisas fossem completamente normais. Não é que as coisas não sejam normais entre nós, mas há sempre aquela tendência de acharmos que o passado pode interferir no presente. A verdade é que quando duas pessoas que já estiveram numa relação querem manter uma amizade conseguem, basta tentarem. Nós somos a prova viva disso – depois de toda a turbulência por que passámos, aqui estamos nós como dois bons amigos.

Confesso que a sua surpresa me apanhou mesmo desprevenida – não estava de todo a contar com a sua visita -, mas foi mesmo uma boa surpresa. Gosto que ele esteja aqui comigo e gosto que ele se tenha lembrado do meu aniversário. O facto de ele se ter dado ao trabalho de viajar só por causa do meu aniversário diz muito sobre ele e sobre os seus valores. O André tem um coração de ouro.

- Tenho imensas saudades disto... - o André confessa, enquanto passeamos por uma das ruas mais movimentadas do Porto.

- Do Porto? – pergunto.

- De tudo... De andar na rua e ouvir todos à minha volta a falarem português, de conhecer a cidade como a palma da minha mão, de encontrar uma boa recordação quase em cada canto. – ele responde, pensativo.

- Imagino que seja difícil estar longe, sendo o único português, ainda por cima. – comento.

- Acho que encaro todos os dias como uma nova batalha. Parece que há sempre uma dificuldade nova que surge. Sejam as saudades, o facto de não estar a obter os resultados que procuro, o sentir-me sozinho... Não consigo nunca sentir-me completamente bem em Milão. Mas deduzo que isso seja normal, não é a minha casa. Será sempre difícil estar numa cidade que não é a minha, longe da minha família e dos meus amigos. – o André afirma, num tom um pouco triste. Obviamente que ele não está feliz em Milão e eu gostava de poder fazer algo para o ajudar, mas não é algo que esteja nas minhas mãos.

- Às vezes, temos de fazer alguns sacrifícios, não é? – eu comento, sorrindo.

- É... Eu acho que, um dia, receberemos a recompensa certa. – André declara, sorrindo também.

- Bem... Eu devia ir buscar o Santiago à escola. – digo, olhando o relógio – Queres vir comigo? Aposto que ele vai ficar doido quando te vir.

- Claro que vou contigo. Não posso perder uma oportunidade para estar com o meu puto favorito. – André responde e eu sorrio.

Nós voltamos ao meu carro e eu conduzo até à pré-escola onde o Santiago anda. Para a surpresa para o meu filho ser maior, nós combinamos que o André fica no carro enquanto eu, como num dia normalíssimo, vou buscar o Santiago lá dentro.

- Olá, meu amor. – eu cumprimento o meu filho, deixando um beijo nos seus caracóis castanhos, tão parecidos com os meus.

- Parabéns, mamã! – ele congratula-me novamente, como fez esta manhã – O teu dia está a ser bom?

- Está, Santi. E o teu dia, correu bem? – pergunto.

- Sim. Toma, fiz um desenho para ti. – ele diz, entregando-me uma folha com um desenho de uma flor e um coração a dizer adoro-te, mamã.

- É muito bonito, filho. Obrigada. – eu agradeço, deixando mais um beijo na sua testa – Vá, vai buscar as tuas coisas para irmos andando.

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