12 - Conversa Honesta

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21 de dezembro de 2017

Raquel

Confesso que ontem fiquei bastante surpreendida quando recebi uma mensagem do André a pedir para irmos tomar um café hoje. Inicialmente, achei que devia recusar para bem da minha própria sanidade mental e da amizade que estamos a tentar manter. Contudo, em prol dessa mesma amizade, eu resolvi que devia aceitar. Seja o que for que ele tenha para me dizer, eu quero ouvir e não quero perder a amizade que nós temos.

Assim, depois de deixar o Santiago na escola, hoje um bocadinho mais tarde do que o normal, eu conduzo até ao local onde combinei encontrar-me com o André – a Confeitaria do Bolhão, um local centenário com doces maravilhosos.

No momento em que estaciono o carro e me preparo para sair, eu estou um pouco nervosa. Não tenho sequer motivo para estar assim, mas a última vez que eu estive com o André foi no jogo do Santiago e eu não consegui controlar a forma como reagi à sua presença, por isso tenho um pouco de medo para ver como vou reagir hoje.

Eu saio do carro tentando parecer confiante e calma, afastando o nervoso miudinho de mim, e caminho até à entrada da Confeitaria do Bolhão. Logo eu reconheço a figura do André, de pé à entrada do estabelecimento, de mãos nos bolsos, óculos de sol pretos e olhar perdido no horizonte.

- Olá. – cumprimento-o, envergonhada.

- Oh, olá. – ele cumprimenta-me, tirando dos óculos e sorrindo.

O momento em que ele sorri para mim é o momento em que eu me obrigo a desviar o meu olhar do dele. O sorriso dele... Sempre teve um efeito inexplicável em mim. A forma como o sorriso dele é capaz de me fazer sentir como uma adolescente é assustadora e eu já não devia sentir-me assim, já devia ter ultrapassado tudo isto.

- Vamos entrar? – ele pergunta e eu assinto, seguindo-o até ao interior, evitando que os nossos olhares se voltem a cruzar ou que os meus olhos pousem nos seus lábios.

Depois de ocuparmos uma mesa, logo uma empregada se aproxima de nós para recolher os nossos pedidos. Ambos decidimos pedir um café e um pastel de nata, voltando ao silêncio logo após a senhora se afastar. Ele chamou-me aqui, então eu vou esperar que ele decida começar a falar, até porque eu não sei o que dizer.

- Como é que estás? – ele pergunta e eu não sei se ele está meramente a fazer conversa de circunstância ou se quer genuinamente saber como estou.

- Normal. – respondo, sendo incapaz de lhe dizer que estou bem – E tu?

- Normal. – ele replica a minha resposta e eu tenho vontade de revirar os olhos – Se me deres a tua resposta verdadeira, eu dou-te a minha. – ele adiciona, como se tivesse acabado de ler os meus pensamentos – Como é que estás? – ele repete.

- Queres mesmo saber, André? – eu pergunto, deixando que a minha voz transpareça tudo o que vai dentro de mim – Sinto-me presa num turbilhão de emoções que não sei decifrar e do qual achava que já tinha saído há muito tempo. – respondo, soltando um longo suspiro.

- Estou confuso. – ele responde, em troca, suspirando também – Eu chamei-te aqui por quero que possamos ter uma conversa honesta, sabes? Como sempre fomos capazes de ter. Uma daquelas conversas em que simplesmente somos capazes de abrir o nosso coração um para o outro, sem medos.

- E ainda somos capazes de conversar assim? – pergunto, num tom magoado. Ele vem agora dizer-me que quer uma conversa honesta quando nunca mais falámos desde o seu aniversário e ele nem pensou que seria melhor contar-me que tinha uma namorada antes de a trazer para Portugal?

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