40. Juntos de novo

730 43 3
                                    

4 de novembro de 2021

Raquel

São oito da manhã quando, finalmente, saio da clínica, depois de ter feito dois turnos seguidos devido a uma colega que ficou doente. Exausta é um eufemismo para descrever como me sinto. Enquanto espero pelo metro, e me tento manter acordada, recebo uma mensagem do meu filho a avisar que já chegou à escola, tal como lhe pedi que fizesse.

Esta é a sua segunda semana de aulas aqui e eu acho que ele se está a adaptar bastante bem. Está super entusiasmado com tudo, porque ainda é tudo uma novidade, e todos os dias chega a casa com algo novo para contar ou a falar sobre um novo amigo. Fico feliz por ele se sentir bem aqui e por estarmos aqui juntos. Além disso, como agora trabalho por turnos e nem sempre consigo coordenar os meus horários com os da Tânia, porque trabalhamos muitas vezes juntas, o Santiago foi obrigado a ganhar uma maior autonomia e independência, porque, por vezes, passa algum tempo sozinho e vai muitas vezes sozinho para a escola. Embora, a mim, isso me angustie um pouco, eu sei que ele fica radiante por poder fazer as coisas sozinho, porque sente que é um voto de confiança da minha parte. Fiquei mais descansada quando percebi que há um menino que anda com ele na escola que vive ao fundo da rua e agora eles vão juntos para a escola.

Finalmente, o metro chega e eu entro o mais rápido que consigo para conseguir apanhar um lugar sentada. Sei que é um ato algo egoísta, mas sinto-me tão cansada que mal me aguento em pé.

Eu estou a adorar trabalhar na clínica, é um constante desafio e sinto, realmente, que os quatro anos de estudo não foram em vão. Contudo, é um trabalho muito exigente e cansativo e esta semana, então, tem sido de doidos. Temos duas colegas doentes então temos andado a trabalhar mais do que o habitual para compensar a falta delas. O cansaço está a acumular-se, mas, felizmente, agora tenho três dias de folga para poder descansar e pretendo aproveitar o fim de semana para fazer algo de diferente com o Santiago.

Quando abro a porta do apartamento e entro em casa, até acho que é mentira. Antes de me deitar na cama a dormir, opto por tomar um banho que me ajuda a relaxar antes de me fechar no quarto, de estores fechados e em silêncio total, a repor todas as horas de sono.

(...)

O toque do meu telemóvel acompanhado pelo irritante zumbido que produzia ao vibrar contra a madeira da mesa de cabeceira acorda-me do meu incrível e rejuvenescedor sono de beleza. Estranho ao aperceber-me de que não é o toque do meu despertador, programado para as quatro da tarde, mas sim o toque de chamada. Grunho frustrada. Quem raio me está a ligar agora?

O primeiro pensamento que me ocorre – como deve acontecer a qualquer mãe galinha – é que pode ser da escola do Santiago e pode ter-lhe acontecido algo de grave. Contudo, o nome do André no visor descansa-me e até me faz sorrir – mesmo que ele me tenha acordado.

- Olá!ele diz, num tom bem-disposto, assim que atendo a chamada Achei que ias ignorar a minha chamada.

- Olá. – cumprimentei de volta, fazendo o meu melhor para disfarçar a minha voz de quem acabou de acordar – Desculpa, mas estava a dormir.

- Oh foda-se. – ele deixa escapar, no seu mais notório sotaque nortenho, e eu gargalhoDesculpa, não sabia que tinhas trabalhado de noite. Não te queria acordar, desculpa.

- Não tem mal! Normalmente nunca durmo tanto, mesmo depois de ter feito noite, mas ontem fiz turno duplo e estava mesmo exausta. De qualquer das formas, o meu despertador ia tocar daqui a dez minutos, portanto não há qualquer problema. – afirmo, tentando evitar que ele se sinta mal por me ter acordado.

Segundas Oportunidades | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora