36. No Sítio Certo

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8 de outubro de 2021

Raquel

Olho o meu relógio de pulso pela trigésima vez e percebo, então, que está na hora. Por mais que eu gostasse de adiar ou de parar o tempo, não o posso fazer. Tenho mesmo que me despedir deles, porque o avião não espera e o meu futuro também não.

- Tens de ir, não é? – a minha mãe comenta, observando os meus gestos e expressões. Eu assinto em resposta, respirando fundo para tentar conter as lágrimas – Então olha, filha, vai com garra e com força. Mostra daquilo que és feita e fá-los ter a certeza de que tomaram a decisão correta ao contratarem-te. Tu és o nosso orgulho, Raquel, onde quer que estejas e não imaginas quão felizes nos deixa ao vermos-te seguir os teus sonhos. É claro que nenhum pai gosta de ver os filhos irem embora, emigrarem, mas nós sabemos que é o melhor para ti e isso foi tudo o que sempre quisemos.

- Temos muito orgulho em ti, minha querida. – é a vez do meu pai falar – Na mulher incrível que és, em toda a tua força, dedicação, entrega. És uma inspiração para nós e, por mais que nos custe ver-te partir, é uma felicidade ver-te correr atrás dos teus sonhos e lutar pela tua felicidade. Houve um tempo em que achámos que nunca te veríamos a fazer isso. Mas aqui estás tu, a mostrar que és uma pessoa incrível, maravilhosa, um exemplo de persistência. Nós amamos-te muito, minha filha.

Se antes eu tentei controlar as lágrimas, agora não havia mais forma de as parar. Envolvida nos braços dos meus pais, sentia-me novamente como uma adolescente, agora a voar do ninho e a sair debaixo da asa dos papás. Deixá-los é, sem qualquer dúvida, uma das decisões mais difíceis que alguma vez tomei, mas sei que o estou a fazer por mim e pelo Santiago, para podermos ter uma vida melhor e sermos felizes, e sei que eles me apoiam incondicionalmente.

- Eu vou ligar todos os dias, prometo. – murmuro, ainda no seu abraço.

Uns bracinhos pequeninos rodearam o meu tronco e eu soube logo a quem pertenciam. Um Santiago a lutar contra as lágrimas à beira de cair, para se mostrar forte. Sorri-lhe, abraçando-o agora com toda a força do mundo contra mim. Estas duas semanas sem ele vão ser um inferno, mas em breve ele vai estar comigo para construirmos a nossa nova vida.

- Promete-me que te portas bem e que não dás trabalho aos avós. – afirmo.

- Eu prometo, mamã.

- Quero que faças todos os dias os trabalhos de casa sem refilar, que não resmungues de manhã quando eles te forem acordar e que comas em condições, okay? – relembro-o e ele assente – Eu vou ligar todos os dias para saber as novidades, prometo. E daqui a duas semanas já vamos estar juntos outra vez.

- Mal posso esperar, mamã. – ele confessa, sorrindo e abraçando-me novamente – Adoro-te.

- Eu também te adoro, Santi. – afirmo, deixando um beijo prolongado nos seus caracóis rebeldes.

A Mariana e o Tiago decidiram também vir até ao aeroporto despedir-se de mim, em nome dos meus tios que tinham ficado a trabalhar, por isso são eles os últimos de quem me despeço. Confesso que se torna particularmente difícil ir embora sabendo que a Mariana carrega a minha afilhada na sua barriga e que, tal como ela esteve sempre ao meu lado durante a gravidez do Santiago, eu não posso acompanhá-la nos últimos meses da gravidez.

- Promete que ligas e mandas fotos e contas novidades. E quando entrares em trabalho de parto eu quero saber, para poder apanhar o primeiro avião para o Porto. – peço – Já que não posso estar aqui durante os últimos meses da tua gravidez, quero acompanhar o mais de perto possível, Mariana.

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