Juliana Valdés estava cansada. Isso era tudo o que conseguia pensar enquanto terminava de limpar a última mesa do restaurante naquela noite. E que noite merda, disse para si mesma. Mais um babaca tentando passar a mão em sua bunda coberta pela calça jeans. E ela simplesmente não podia perder o emprego. Precisava ajudar a mãe em casa, e juntar dinheiro para pagar seus estudos. Queria ser uma grande designer de roupas. Ou pelo menos começar em algum lugar. Então precisava aguentar um pouco mais naquele inferno. Logo tudo passaria.
Ela estava terminando a última mesa, como sempre sendo a última a deixar o local, e tendo que trancar sozinha antes de fazer a longa caminhada, na chuva intensa, até sua casa, quando o sino indicando que alguém estava entrando chamou sua atenção.
– Estamos fechados. – Foi o que ela disse, sem olhar na direção da porta.
Se fosse um assaltante, ela não poderia fazer nada de qualquer forma. Ela ouviu um barulho que mais parecia choro preso do que o clique de uma arma e virou a tempo de ver uma garota sentada em uma das mesas.
– Mas o que...? – Juliana encarou a garota, confusa. E se aproximou devagar, colocando o pano por cima do ombro. – Oi? Está tudo bem? Moça?
A garota demorou muito para reagir. Muito mesmo. Só chorou por instantes a fio, e então ergueu o par de olhos azuis mais cristalinos e lindos que Juliana já havia visto.
– Perdão. Não queria ter entrado aqui assim... Mas precisava estar em algum lugar.
– Tudo bem. – Completamente sem reação, Juliana sentou de frente para a moça dos olhos cristalinos. – Não parece estar bem.
– Não estou bem, na verdade.
– Gostaria de conversar?
– Eu tive uma briga horrível com o meu namorado. Foi ridículo na verdade, e eu nem sei mais se posso chama–lo de namorado.
– Não parece ser tão ridículo se está te fazendo chorar tanto.
– Foi ridículo. Ele tem sido tão idiota. Só quer saber de festas e diversão... E eu mal consegui me recuperar desde a morte de meu pai. Ah, meu deus. Eu não sei o que fazer.
Enfiando as mãos entre os cabelos castanhos tão claros que eram quase loiros, a garota dos olhos azuis voltou a chorar. Juliana ficou encarando–a em silêncio por um tempo, não era a melhor pessoa do mundo para consolar ninguém, muito menos em relação à pais, quando nem mesmo sabia o que havia acontecido com o seu pai. E tão pouco se importava.
Mas aquela garota parecia estar realmente precisando de ajuda. Instintivamente, Juliana estendeu a mão sobre a mesa e segurou os dedos finos dela, em uma forma de passar conforto e carinho. Ninguém merecia chorar daquele jeito. Ela era branca demais, e estava com a pele toda vermelha e inchada de tanto chorar. Juliana ficou incomodada.
– Sinto muito por seu pai. – Juliana disse e levantou, foi até o balcão e serviu um copo de água bem gelado. Levou de volta até a mesa onde estava sentada, mas escolheu a cadeira ao lado da garota para sentar. – Não consigo imaginar a dor que esteja sentindo. Mas eu sinto muito que esteja sentindo.
– Eu perdi minha mãe. E agora perdi meu pai. Não me sobrou nada. Nada.
– Você não tem irmãos?
A garota dos olhos azuis respirou fundo, e aceitou o copo com água que Juliana lhe ofereceu. Bebeu em goles devagar, até acabar. E viu Juliana voltar para encher o copo novamente.
– Não somos tão próximos, apesar de todos moramos na mesma cidade.
– Você vive sozinha então? – Juliana perguntou do balcão. Começou a mexer no pão com manteiga a fim de fazer torradas. A garota parecia estar com fome também. E não faria mal se atrasar um pouco. Sua mãe e o namorado nem se importariam. – É só você?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Eso És Amor | Juliantina
Любовные романыEram a mistura do oceano e um campo de flores, tão naturalmente ligadas que nem mesmo o destino poderia escrever linhas tão certas. As estrelas interferiram para promover o encontro, mas foi a lua que as manteve juntas. Sob o mesmo céu, tudo começou...