Trinta e cinco

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Minha consciência diz que estou errada e que não deveria estar aqui, frente à frente com Tierre

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Minha consciência diz que estou errada e que não deveria estar aqui, frente à frente com Tierre. Porque eu sei que apesar de todos os últimos acontecimentos ele ainda tem influência sobre mim, e importância também.

Parte de mim diz para que o escute, que me coloque em seu lugar para que possamos voltar a ser como antes, porque todos erram; a outra parte me diz para ficar o mais longe dele possível porque ainda me sinto aterrorizada com a ideia de ver Glória mais uma vez – sinto enjoo. Asco. Medo.

Como alguém que julguei ser a única pessoa que sempre estaria ao meu lado, que supostamente sempre me protegeu e soube de meus traumas, traria meu algoz à minha vida só porque teve medo de me perder? Ou dar um tiro em si mesmo para que tivesse toda minha atenção voltada para ele?

Isso não é normal, é doentio.

Só que preciso enfrentar essa situação de uma vez. Só assim poderei encerrar esse capítulo de minha vida e seguir em frente.

– Pensei que você não aceitaria conversar comigo. – Tierre diz baixo.

Passo a língua por meus lábios, erguendo meus olhos. Um misto de emoções – boas e ruins – tomam conta de mim quando alcanço os seus.

– Você tem vinte minutos. – coloco o guardanapo em meu colo.

Ele abre um sorriso, inclina sua cabeça estreitando os olhos e solta um risinho nasalado.

– Você não é um deles, Clark. – sua voz é séria. – Não importa as roupas que passe a usar ou as joias que te enfeitam. – aponta para meu colar e anel. – Você veio do Bronx, é negra.

Dessa vez sou eu quem estreito meus olhos.

– Você sabe o que os brancos pensam sobre os negros, especialmente mulheres negras. – olha em meus olhos. – Hora ou outra ele vai ter outra mulher com quem estar, caso ainda não tenha. Olhe só para quem aquele cara é, ou você realmente acha que todas as viagens que ele faz são apenas de negócios? – ergue seus lábios.

Não deixe que ele entre em sua cabeça.

– Dezoito minutos. Diga o que tem a dizer, e não tente distorcer ou desmerecer as pessoas que tenho ao meu redor agora.

A raiva faísca em seus olhos, sinto meu estômago se revirar.

– Tudo bem, mas quando isso acontecer – o seu castelo de cartas desmoronar, não diga que eu não avisei. – sua voz é séria. – Eu estarei aqui porque sou eu quem realmente te ama; fui eu que estive ao seu lado no tempo sombrio de sua vida, Luísa. Não se esqueça. – inclina seu tronco em minha direção.

Um bolo se forma em minha garganta, sinto-me frágil e minúscula diante de seu olhar por um instante. Só que eu nunca pude me sentir assim, e não é agora que irei fazê-lo. Tierre não merece isso.

HER | FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora