Capítulo 13 - Amanda

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Odeio quando a Marcela faz essas coisas, me arranja um encontro às cegas, e o pior que odeio não cumprir com uma promessa.

- Espero que ele não seja caolho, vesgo ou banguela viu Marcela... – estávamos sentadas em um novo bar de gafieira, na Lapa esperando o rolo dela e seu amigo, a principio não me importei, afinal, todos na minha família sabiam dançar, era quase uma obrigação, e a gafieira me deixava um pouco mais relaxada.

Todas as festas, churrascos, e comemorações era fato, tinha roda de samba e gafieira e elas eram nosso enredo familiar. Claudia e Marina faziam aulas com seus respectivos marido e noivo, já eu aprendi com meu pai, que era um dançarino incrível, e me aguava a boca ver ele com minha mãe, rodando e sorrindo, dançando e encantando a todos com os passos marcados, fáceis e elegantes, era a felicidade ao vivo e a cores, enquanto se tocavam e sorriam ao dançar.

Minhas irmãs ficavam possessas, pois morriam de ciúmes do paparico de meu pai. Ta, eu era mimada pra caramba, mas era a mais nova, e a mais próxima dele. Elas já estavam em outra fase nessa época, viviam de baladas e festas e homens e tudo que se quer quando se é jovem.

Eu também vivia isso, menos que elas, mas tinha uma ligação tão profunda e intensa com meu pai, que é difícil explicar, perde-los quase me fez perder a vontade de viver também. Mas graças a minhas irmãs e amigas, acabei aceitando o que a vida nos deu, até porque nada os traria de volta.

Mas o foda era que Thiago era um puta de um dançarino também, sabia me levar muito fácil, e nas poucas vezes que dançava com ele nas festas, me sentia quase flutuando, era como se estivesse fazendo amor com ele, o toque suave de suas mãos, os olhares, os sorrisos, a mão firme na minha cintura, em cada passo era a transformação do movimento em arte.

Eram poucas as vezes que dançávamos nas festas em família, porque no final o tesão era tanto que nos arrastávamos pra algum canto sorrateiramente e acabávamos perdendo a cabeça em nossos desejos.

- Amanda, porra, to falando com você... Para de pensar no pau do seu primo! – olhei pra ela e ri sem graça, por ser a mais pura verdade. – Olha o Junior é legal, já o vi e sei que você vai gostar.

- Junior? Junior de que Marcela?? - isso não era bom.

- De Junior, ora. Porque tem que ser ruim Amanda?

- Porque Junior geralmente é de algum nome de pai sem noção, tipo, Ariosvaldo, Cleubernison, Ribamar, Janiscleiton, Theosmar e eu posso ficar a noite toda falando aqui vários nomes possíveis e imagináveis.

Rimos e matamos mais uma cerveja até eles chegarem. Hoje não ia abusar, pois eu que dirigia, e essa porra de Lei Seca me matava, não, não era uma alcoólatra descontrolada, mas o mínimo de álcool no meu organismo me daria de presente uma bela de uma multa e pontos na carteira.

E tinha certeza que se o tal Junior não fosse como Marcela pintava, ia ser mais fácil dar no pé e deixa-lo lá. Marcela logo ia se arranjar com o Fábio, que era o seu rolo garantido.

- Olha lá, eles vem vindo, vai coloca um sorriso nesse rosto, porque ruga só se for de risada sua chata.

Sorri e graças a Deus o tal Junior superava as expectativas. Era alto, magro, tinha uma tatuagem no braço esquerdo, algo parecido com um tribal, cabelos raspados, olhos verdes, quase um gato, se não fosse à voz, porra, na hora achei que ela estava me apresentando ao Anderson Silva.

-Oi Marcela. – a noite ia ser longa, segurei a risada quando Junior a cumprimentou.

- Oi, esse é o Junior, Junior essa é minha amiga...

- Prazer Carmem. – Marcela me olhou com uma cara estranha, e repetiu o nome.

-... Carmem e esse é o Fabio. – Fabio me cumprimentou com um beijo no rosto e sentou ao lado dela, já o Junior sentou ao meu lado já colocando a mão sobre minha cadeira e eu quase não consegui segurar a risada, ele tinha a voz fina, quase infantil.

- Então, Marcela me disse que vocês são enfermeiras? - caraca, sabe o quanto é difícil não rir nessas horas.

- S-sim... Hum, quer dizer Sim. Somos.

- Legal. Acho isso massa, e sou instrutor físico. – Ah não, pra piorar o cara era marombeiro. Fudeu de vez. Sentia a risada fazer cócegas na minha garganta. Mal conseguia prestar atenção nele.

Sabe quando a pessoa fica falando e você só consegue se concentrar pra não rir da cara dela? Estava ate doendo o queixo do tanto que eu segurava a risada. Puta que pariu, essas coisas só acontecem comigo.

 Eu só conseguia pegar algumas palavras que ele falava, “proteínas”, “peso”, “massa”, “série”, e a minha imaginação fértil começou a divagar, droga, ele parecia um desenho animado.

- Hum... – falava com frequência para ele, sorrindo, tentando não gargalhar.

Marcela percebendo meu apuro, me deu um chute debaixo da mesa.

- Ai...- olhei pra ela de cara feia.

- Vamos ao banheiro? - ela me encarou com a cara feia de quem tinha chupado limão.

- É... Vamos. Já volto Junior.

- Ok, vai lá gata.

Porra, ele estava tentando me matar, “vai lá gata”, com aquela vozinha de Felícia do Looney Tunes. Chegando ao banheiro não aguentei, comecei a rir de me dobrar. Senti as lágrimas escorrerem e a barriga doer.

- Para com isso sua retardada, e que historia é essa de Carmem. Porra o cara ia perceber... – ela também segurava a risada.

- Quem, o Jonnhy Bravo? Duvido, acho que se tivesse um orgasmo na frente dele nem perceberia... Alem do mais, não queria que ele me chamasse pelo nome com aquela voz de gralha, é... Broxante! – voltei a rir e dessa vez ela me acompanhou.

- Tá bom maluca, o cara não é um poço de sabedoria... – ela enxugava as lagrimas que escorriam enquanto tentava parar de rir.

- Bem, se for pra falar de fitness, acho que o cara ganha nessa categoria, alem do mais, sabe o que dizem dos caras que tomam bomba, o pau não sobe e aí minha filha, só com o santo Viagra.

- Tá, vamos voltar, acho que dançar pelo menos ele sabe... Espero. – Marcela arrumou a maquiagem.

- Antes de arriscar vou precisar de algo mais forte, acho que uma tequila vai ajudar.

Voltamos para a mesa. Os dois pareciam estranhos, diria até nervosos, mas duas doses de tequila depois e algumas cervejas, o Taz Mania estava mais para Patolino, então tive que puxá-lo pra dançar. O foda é que ele tinha dois pés esquerdos também, cacete tava cada vez mais cômico. Ok,  estava na hora de ir embora.

- É, não sou bom em danças... – ele tentava me rodar achando que eu era um peão.

- Mas eu sou... Posso? – ok, ou álcool estava subindo ou era mesmo Thiago ali?

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