Capitulo 44 - Mauricio

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 Você sabe o que é um otário?  Não?  Então prazer, sou ele!

Marcela tinha me dado a melhor noite de sexo, bêbado de muitos anos, ela era a mulher da minha vida, caralho, tava no mesmo barco que meu brother, tava amando a melhor foda que tinha tido, só que a minha melhor foda era sem duvida nenhuma a maior louca desse mundo.

Agora eu to aqui, sem saber o que fazer, parecendo um peso morto, depois de ter tido a discussão mais sem sentido da minha vida com Marcela, e vê-la se desmanchar de dor e agonia na minha frente foi como se alguém me enfiasse a faca no peito e torcesse ela só pra me ver agonizando junto com ela.

Claro que se Amanda não tivesse me empurrado e me jogado longe, eu a teria pego no colo, e eu mesmo levado ao hospital, porra, sabe o que é se partir no meio quando vê alguém que ama sofrendo e não saber se é por você ou sei lá por quê?

Mas ela tinha me dito coisas que tinham me tirado do sério, me feito perder a cabeça, ela estava mais fria do que de costume, estava me punindo por não ter contado sobre a viagem, tinha certeza disso, eu nunca quis contar a ela desse jeito. Jamais.

Mas ela me pegou falando com a Fernanda, e afinal de contas, ela tinha deixado claro que isso tudo era apenas uma diversão, mas que caralho, eu tinha algum tipo de radar que só atrai problemas ou o quê?  Eu estava fazendo o jogo dela, e quando ela começou a dizer aquelas coisas pra mim no corredor eu quase tive um treco, porra, ela era importante sim, sempre foi cacete, ela tinha se tornado a coisa mais importante na minha vida, ate mesmo quando eu decidi ir pra China, porque assim, pensava que ela teria espaço pra ficar com que a fizesse feliz e eu ia sair do caminho dela.

- Mas que a coisa tá mais agitada que novela das oito!!! – disse Marina, parando ao meu lado, enquanto via o carro de Thiago partir com tudo pela estrada. – Ei, e você vai ficar aí parado que nem um dois de paus?  - ela disse virando pra mim com indignação.

- O quê?  - disse voltando à realidade.

- É Mauricio, vai ficar aí olhando com essa cara de tonto, vai atrás dela, caralho nessa casa todo mundo precisa de um empurrão ou o que?  O que te impede de ficar com ela afinal?  

Olhei pra Marina, que estava me encarando como se eu fosse um bicho bizarro e esquisito, porra o que me impedia?  TUDO... Não era?  Ou não?  

Corri pro quarto e peguei a chave do carro e os documentos, e voltei correndo pra frente da casa.

- Onde é o hospital que eles foram?  

Ela me indicou o caminho e sai correndo pro carro.

- Corre, quem sabe não teremos dois casamentos de uma vez, adoro bolo de casamento... – a ouvi falar enquanto entrava no carro.

Nunca corri tanto, devo ter infringido umas dez leis de transito, mas que se foda, eu tinha que estar com a Marcela, ia fazer o possível pra tê-la, nem que isso significasse leva-la comigo pra China.

Cheguei ao hospital lotado e vi Thiago e Amanda de longe, perto da recepção do pronto socorro.

- Cadê ela?  - disse, esperando que Amanda me aliviasse a tensão.

Mas ela simplesmente estava me socando, estapeando em menos de um segundo, eita mulher com a mão pesada, ia ficar a marca no rosto com certeza, porra. Dizia um monte de coisas sem sentido, eu não tinha feito mal a ela, tinha?  

- Ai... – ela era rápida, até que Thiago a segurou quando o guarda do hospital interveio. Graças a Deus, se não eu ia ter que receber atendimento medico também.

- Amanda... – tentei falar quando ela finalmente se acalmou, mas ela não me permitiu falar. Simplesmente se afastou e me deixou ali, sem ter chance de entender ou apenas me desculpar, seja lá pelo que.

Vi ela indo ao balcão irritado, ao ponto de poder espancar a atendente que estava de má vontade com ela.

- Isso vai ficar marcado... – disse Thiago com um sorriso amarelo, me olhando alisar o rosto onde o tapa que sua mulher tinha me dado.

- Obrigado, que mão pesada essa sua namorada tem hein?  - ele sorriu novamente.

- Noiva, na verdade. – ele parecia triste em dizer isso.

- Noiva?  Uau, mas você não parece feliz...

- É que algumas coisas mudaram essa manhã e não sei se o novo status vai continuar...

- Nem me fale em coisas que mudam... – disse a ele -... Eu praticamente estou dormindo com uma metamorfose ambulante!

Ele colocou seu braço em meus ombros enquanto controlava meus nervos a ponto de explodir.

- É... Algumas duram mais ou menos nove meses brother...

Olhei pra ele tentando entender o que tinha dito, quando o carinha de roupa verde chamou pelos parentes de Marcela, sai correndo deixando pra lá o que tinha ouvido de Thiago, e em segundos estava ao lado de Amanda.

Claro que ela não ia querer me ver, mas tinha que saber como ela estava, a dor que tinha visto em seu olhar, tinha me feito sentir um bosta, um bosta gigante e sem utilidade nem pra adubo.

Mas quando o carinha disse que ela queria me ver, eu quase não pude acreditar, POR DEUS, sabe aquelas cenas de filme que o paciente chama uma pessoa, no momento de despedida, antes de morrer?  Foi à primeira coisa que veio na minha mente, ai caralho, eu não sei lhe dar com isso, não com ela, não com a mulher da minha vida!

Ele dispensou Thiago e Amanda, que tinha ficado enfurecida de novo, e me levou pelo corredor, onde havia muitas pessoas, algumas em cadeiras de roda, outras em bancos, e várias em macas pelo corredor. Tinha gente gemendo, chorando, gente quase sem vida, era um misto de dor e desesperança. Aquilo só me deixou mais tenso e nervoso, porra ela tinha que estar bem, se não, nunca me perdoaria.

- Olha senhor, ela perdeu sangue, e esta debilitada, então a visita vai ser breve. – o carinha de uniforme disse me tirando dos pensamentos.

- Sangue?  - falei assustado.

- É, ela já esta estável agora, no estado que ela estava não devia passar por tantas emoções. Mas lembre-se, ela ainda precisa de repouso. – ele disse parando em frente a uma porta – Você tem dez minutos. Ela esta na ultima maca, à direita.

Ele saiu com alguns papeis na mão e me deixou lá, sozinho, ótimo atendimento esse hein?  Saúde pública isso sim é bom.

De repente tudo caiu em mim como um tapa na cara. Estado... Sangue... Lembrei-me da frase de Thiago na recepção... “Algumas duram mais ou menos nove meses brother...”. Claro, ela estava grávida. Eu me senti a pior pessoa do mundo, por tudo o que tinha acontecido, por minhas palavras, por como a tratei, por tudo... Se pudesse me socava até desmaiar.

Ok, mas o que eu tinha que fazer era concertar algumas coisas, eu tinha que dizer a ela o que eu sentia, eu tinha que me certificar que eu podia fazê-la sorrir. Todos os dias da sua vida.

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