Capítulo 36- Marcela

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Ai que saco. Alem de ter deixado parte do teste ensopar na privada, Amanda me deixou aqui sozinha, graças ao Thiago.

Que falta de sorte a minha não é? Peguei o teste e sequei-o com o papel higiênico. Ok, eu trabalho na área da saúde e sei que isso é muito anti-higiênico, mas não é o que dizem, casa de ferreiro, espeto é de pau! Que ditadinho mais fuleiro, graças a um “PAU” e algumas doses de tequila eu to nessa situação de merda.

- Tá, você consegue fazer isso... – falei olhando no espelho. – Larga de ser jegue, pra quem já deu o furico, isso é fichinha, vai larga de ser fraca...

Abri a torneira e comecei a mentalizar, mentalizar, MEN-TA-LI-ZAR e aí pronto, senti que queria fazer xixi. Corri pra privada com o “bastão do azar” como chamávamos no hospital.

A corrente quente saiu e eu tava banhando o palitinho de plástico, porra é difícil mirar nessa coisa. Tá, acho que já ta bom. Levantei, coloquei encima da pia e fiquei lá, andando de um lado pro outro, esperando, tentando criar coragem pra ver o resultado, eu tava quase tendo um surto, caralho. Eu tinha que criar coragem, porra eu tava tendo um momento de cão com Mauricio.

Ai que merda, se as coisas não tivessem mudado da água pro vinho, talvez não estivesse tão enlouquecida, se ao menos ele continuasse a ser aquele o cara que comecei a confiar, aquele que achei que podia amar e ser amada.

Senti as lagrimas subirem, me queimando os olhos, saco, a ultima vez que chorei foi quando Lucas simplesmente me dispensou.

Caralho, porque eu só me fodo quando o coração resolve escolher? Tá, nem sempre fui fria e calculista, eu já tive as minhas paixões, e quando deixei de pensar, me deixei levar por alguém que não pensou duas vezes em me destruir, um ex-noivo cheio de promessas furadas e falsas moralidades, no final tive que ouvir dele que não era boa o suficiente pra ele, que eu era fria não era?

Agora eu tinha a obrigação de ser fria. De me manter segura porra! Se eu não fizesse isso por mim quem faria? Minha mãe? Que casou pela vigésima vez na quinta Igreja da Salvação de Não Sei Das Quantas em menos de dois meses? Meu pai que de caminhoneiro virou caixeiro viajante, pois só lembrava-se de mim e da minha irmã a cada dez anos? Ao menos ainda tinha minha irmã, mesmo com ela morando em Minas, eu sei que ainda tinha ela. Só que nesse momento eu só tinha a mim e a mim, pois ela tinha sua família e seus B.O’s pra resolver.

Eu era de total e inteira responsabilidade minha, e como tal tinha que construir a porra dos meus muros. Ainda mais agora que Mauricio se mostrou quem era. Isso ia acabar esse fim de semana. Com ou sem teste. Com ou sem criança.

- Marcela, você ta aí mulher? - Era a voz de Marina. CACETE. Nessa casa não tem como usar a porra do banheiro em paz, se tivesse cagando, já tinha cortado meu ritual pela segunda vez.

- Tô, perai... – gritei de volta pegando o teste sem olhar o resultado e coloquei dentro do sutiã. Ela não podia ver, do jeito que era faladeira ia dar com as línguas nos dentes.

Limpei meus olhos marejados e lavei o rosto, tinha que disfarça afinal eu tinha ficado tempo demais no banheiro.

- Oie... – falei pra ela abrindo a porta.

- Tá tudo bem gata? - Ixi, já tava louquinha.

- Tô sim, agora to... – fiz sinal de fedor com o nariz -... Só evitaria o banheiro por uns dez minutos...

O que você queria que eu falasse? Que eu estava tendo uma sessão de “ser não ser mãe, eis a questão” no banheiro? Foi o melhor que pude dizer.

- Ok, mas eu não vim usar o banheiro... – ela disse rindo.

- Não?

- Não, vim te pedir um favor gata. Olha o Thiago vai fazer uma surpresa pra minha irmã essa noite, e tem que ser no quarto dela, então imaginei que, já que ta com seu boymagia aí... Podia trocar de quarto com ele. Eu e o Marcos estamos em um, Claudia e Luiz estão em outro e os demais convidados vão dormir na sala e onde der, e como ele... É Mauricio né? - confirmei com a cabeça – Isso, Mauricio e Thiago estão em um, achei que não seria problema dividir o quarto com ele essa noite não é...

Ela piscou e riu. Porra, agora isso! Tá eu sentia falta do corpo de Mauricio, mas com toda essa loucura eu queria distancia ate a certeza do que eu queria e conseguir finalmente ver a porra do teste que tava encantada. Bom, logo vi que isso ia ser impossível essa noite, claro.

- Surpresa? - disse afinal.

- É, ai que eu to radiante, adoro essas coisas românticas, porque no final sempre vira uma trepada sacana né?

Eu bem sabia disso, a minha tinha sido inesquecível.

-É. Verdade... – disse me sentindo ainda mais desanimada.

- Então?

- O quê? – disse pra ela saindo dos meus devaneios.

- Vai trocar ou não amore? - ela estava com uma sacola na mão. E toda elétrica, não ia empatar a vida da minha amiga, só porque a minha estava empacada.

- Sem problema! – concordei afinal.

- Maravilhaaaa... Vem que você vai me ajudar.

Fui arrastada por ela até o quarto e, a ajudei a pregar umas coisas no teto, depois peguei todas as coisas que eram de uso essencial, enquanto ela espalhava algumas coisas pelo quarto.  Ela estava distraída e faladeira. Eu só pensava no palito de plástico nos meus peitos. Porra. Tinha que terminar com esse drama maluco e insano. Enquanto Marina estava de costa pra mim, espalhando algumas coisas pelo quarto, peguei o teste e vi o resultado.

- Meu Deus... – sussurrei, não sabia se ria ou chorava.

- O que disse Má? - Marina voltou pra mim. Enfiei o teste dentro da mochila de Amanda que estava perto, antes que ela visse e virei pra ela tomando ar.

- Vamos que hoje a noite promete e eu preciso de ar fresco!

Sai de lá me sentindo mais perdida do que imaginei que me sentiria.


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