Fiquei sentada até a bunda ficar quadrada com Thiago naquela recepção, fritando com tudo que podia estar acontecendo lá dentro, e com tudo que acontecia comigo e com meu noivo, se ele ainda queria ser né.
Ele estava com a aliança dele, linda em seu dedo, nós tínhamos pulado fases, mal tínhamos começado a namorar, tudo bem, quase sete anos de trepadas e brigas praticamente constituíam um relacionamento, mas a merda toda tinha praticamente se degringolado neste final de semana, e tudo parecia meio solto, meio fora do lugar.
Senti a mão de Thiago me puxar e logo minha cabeça encostava-se ao ombro dele, e sua mão me acariciava lentamente as costas, era meu lugar favorito, um deles, o outro, bem não estávamos no clima para o outro lugar, mas digamos que era o encaixe perfeito.
Sua mão desceu por meu braço, até encontrar a aliança que tinha em meu dedo, ele brincava com ela, girando, e aquele simples ato me dava à impressão que ele estava refletindo se havia tomado à decisão certa, será que eu poderia dar a ele, tudo que realmente tinha pensado?
Essa agonia era pior que tortura medieval, porra, Mauricio não sai, não tinha noticias de Marcela e ainda esse clima entre eu e Thiago.
Olhei pra porta do pronto socorro, e vi finalmente Mauricio voltando com o enfermeiro, ele limpava os olhos e já sabia o que isso queria dizer. MERDA!
Levantei e fui de encontro dele, soltando Thiago.
- Ela... – falei sem conseguir soltar o resto.
- Sim, ela... Ela perdeu... – ele falava chorando como nunca tinha o visto chorar, não igual uma criança, claro, mas estava abalado, sentido, derrubado, totalmente destruído. Eu ia ficar assim também, talvez fosse assim que Thiago estaria. Que merda de situação. – Acho que ela está te esperando...
Ele me disse e logo vi que o enfermeiro me olhava, dei um beijo na bochecha de Thiago e sai em disparada para vê-la.
Passamos pelos corredores e já me sentia familiarizada com tudo aquilo, mas queria minha amiga, minha irmã.
Entrei no quarto que ela estava, e logo a vi, deitada de olhos fechados e as lagrimas correndo. Droga, ela estava pior, muito pior que ele.
- Mandinha... – ela disse quase em um sussurro e corri pra abraça-la, me esquecendo do seu estado. Choramos por sei lá uns vinte mil anos ou mais, não parecia acabar as lagrimas que tinha em mim e nela.
- Amiga, eu sinto muito, eu vi Mauricio saindo e...
- Amanda, calma eu ainda estou grávida... – ela falou baixo, mas eu continue falando sem lhe dar atenção.
-... E ele estava arrasado, eu queria ter ficado ao seu lado, mas ai fiquei noiva, e o Thiago pegou seu teste e a minha calcinha com absorvente...
- AMANDA, EU NÃO PERDI... – ela disse alto me interrompendo. E ai finalmente a ouvi. Fiquei parada olhando ela com a boca aberta e as lagrimas ainda caindo. Ela parecia estar falando serio, SERÁ QUE ERA UM SINTOMA DE NEGAÇÃO? Mas como seria verdade isso, se Mauricio tinha saído de lá falando o contrario.
Devia ta sofrendo de estresse pós-trauma, já tinha visto casos como esses no hospital.
- Amiga, eu vou te ajudar, vamos superar essa perda, eu sei que foi horrível, mas não era pra ser... – continuei, tentando a trazer pra realidade.
- PORRA AMANDA, cala a boca e escuta – todos ou demais pacientes e os funcionários nos olharam quando ela gritou e finalmente eu me calei olhando pra ela curiosa e confusa – Eu. Não.Perdi.
- Mas... Mauricio disse... – comecei depois de uns segundos.
- Ele disse a você o que ele precisa saber amiga, eu... Eu tive um pequeno sangramento, mas nada de mais, ainda estou grávida, eu ainda estou com um filho... Um filho dele. – ela falou sem expressão com ambas as mãos sobre a barriga, tremendo – Eu tomei uma decisão por nós.
- Como assim Marcela? - minha voz parecia esguarniçada, me endireitei e comecei a andar de um lado pro outro de novo tentando não surtar com ela naquele estado, me dizendo aquela loucura sem fim.
- Ele tem planos amiga. E eu não estou neles.
- Mas que porra de planos são esses, ele tem que assumir essa responsabilidade, ele tem que fazer a parte dele...
- E ele já fez, ele vai para China Amanda, daqui alguns dias, e vai ficar seis meses lá, pela empresa, foi uma decisão tomada, e eu não fiz parte dessa decisão em nenhum momento.
Eu fiquei paralisada como uma estatua olhando pra ela, tentando encaixar tudo, caralho, tinha como ser mais novela mexicana do que estava nossas vidas, ela tinha um filho, mas não tinha o amor da vida dela. E eu tinha um amor, mas não tinha um filho como ele havia pensado.
- E agora amiga? - disse tomando sua mão – Como vai ser?
- Como sempre foi Mandinha, como eu fui a minha vida inteira, será eu e meu filho, ou filha. E assim vai permanecer, não quero que mais ninguém saiba entendeu? Pelo menos até Mauricio viajar, pois uma hora vou virar um balão de gorda, e ai, bem aí não terá como esconder.
Ela me deu um sorriso quase invisível, um pontinho de felicidade em um mar de tristeza, quando suas mãos seguiram para a barriga, eu sem perceber tocava suas mãos ali.
- Mesmo não concordando com toda essa maluquice, fazer o que né? Vou te ajudar em tudo que precisar. A vida é sua e ainda acho que não esta fazendo o melhor por ela, ou por essa criança, mas amigos são amigos nos piores e nos melhores momentos...
Abracei-a novamente e conversamos sobre como seriam as coisas dali em diante, por Deus, eu tinha que guardar um segredo que podia mudar mais que duas vidas, podia mudar a vida de todos nós, pois Mauricio não me perdoaria se soubesse e Thiago ficará ao lado de seu amigo, me jogando na “fogueira da traição” tanto quanto ele, mas se falasse algo, definitivamente estaria quebrando uma promessa, e sabia como Marcela era quando traída, eu vi isso quando Lucas a destroçou.
Porra eu definitivamente estava no maldito mato sem cachorro, ou como dizia meu pai, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, e de qualquer maneira eu perdia nesse ditado.
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RomantizmThiago Nunca fui chegada em histórias de amor, nem em grandes finais românticos. Mas quando envolvia a minha vida, a coisa era outra. Não sou um cara de meias atitudes, nem de deixar oportunidades passar. Eu sempre a quis, e eu ia ter ela pra mim...