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Linn já estava quase indo embora, havia cansado daquele lugar, quando viu uma moça muito familiar mas estava meio escuro para ver direito, parecia estar passando mal.

Não demorou muito até que ela começasse a vomitar no chão.

No impulso, Linn foi ajudar a mulher que reconhecera assim que viu os sapatos pretos. Pegou em seu ombro e afastou os cabelos dela do rosto, para não sujar.

- É... Anne?

- Merda, me desculpa, eu não sabia que tinha bebido tanto. - Ela falou enquanto se recuperava e bebia água.

Ela olhou para Linn, se esforçando para lembrar dela.

- Espero que os sapatos tenham sido confortáveis o suficiente hoje... - A moça da loja falou, lhe dando um bombom - Melhorar aí o hálito. Você está bem?

- É, os sapatos foram ótimos, quer dizer, são ótimos. Qual o teu nome mesmo? Eu sou péssima com nomes.- Anne deu um sorriso sem graça.

- Linn.

- Você tá aqui sozinha?

- Não, mas praticamente sim... Meu amigo não sai da pista de dança. Mas eu já estava indo
embora, sabe, festas não são para mim. E você?

- An...eu? Pois é, é complicado. Mas é, eu tô aqui sozinha e nem posso ir embora. - Um silêncio
constrangedor pairou entre as duas. Linn não queria perguntar da vida pessoal de Anne.

- Pois é, eu vou indo. Se cuida. - Ela falou se distanciando da loira, e ligando para Mike para avisar, mas como ele não atendeu, ela deixou uma mensagem.

Talvez fosse o álcool, ou o desespero, mas quando Linn saiu da boate, Anne foi atrás dela. Ela parecia ser legal e como não tinha lugar nenhum para ir, resolveu perder o resto de dignidade que ainda tinha.

Linn parecia procurar um táxi quando Anne a viu. Aproximou-se.
- É...oi, de novo.

- Oi, tudo bem? De novo.

- Não, não tá. Eu sei que você não tem que dar a mínima para mim, mas tá tudo uma droga. Eu não tenho para onde ir, nem amigos, nem nada...

- Dorme na minha casa hoje. - Linn a interrompeu. Era óbvio que ela não ia deixar uma mulher desamparada, e bêbada.

- Obrigada, obrigada mesmo. - Anne quase chorou de emoção. Não deveria ter bebido tanto,
pensou.

Elas pegaram um táxi e Anne contou um pouco do que havia acontecido. Ela foi expulsa de casa, pois seus pais tinham descoberto que ela tinha beijado uma garota e era
isso ou ser colocada em uma espécie de instituição de cura gay, na Suécia.

Então tudo que ela tinha era o que estava em sua mochila e um dinheiro que deixava guardado, mas não era muito.

- É pequeno, mas é meu cantinho... - Falou Linn, antes de abrir a porta.

- Sério que você tá falando isso? Pelo menos é um canto!

- Agora, vai tomar um banho. Você não vai deitar na minha cama suja desse jeito, não - Elas rirame Anne foi tomar banho. Tentou não demorar muito, mas precisava colocar a cabeça no lugar e processar a reviravolta que tinha acontecido em sua vida.

Anne estava chegando em casa quando notou um silêncio estranho e apenas os soluços da mãe. Ela ficou confusa ao ver os pais sentados no sofá com uma fotografia nas mãos do pai.

- O que aconteceu? - indagou, preocupada - mãe? - Seu pai, o pastor Jonh, levantou bruscamente e segurou em seu braço e ela pôde entender o motivo.

Uma foto dela beijando uma garota na escola. Sua primeira paixão de verdade, no final do ensino médio.

- Pai, olha, eu posso explicar... - ele riu e lhe deu um tapa na cara, a mãe da garota apenas virou o rosto.

- Não tem o que explicar! Você vai para uma instituição, e só volta quando estiver curada!

- Quer saber? Nem fodendo! - Falou e foi pegar umas roupas e seu dinheiro e saiu de casa sem olhar para trás.

Anne despertou de seus devaneios e percebeu que estava chorando, logo terminou seu longo banho.

Do outro lado, Linn
sentou-se na cama, pensando no porque havia deixado uma estranha entrar em sua casa.

Afinal, ela não era do tipo que se importava com os problemas alheios, mas de alguma forma quis ajudar a moça de olhos verdes.

- Anne, você comeu algo hoje? - Perguntou quando pensou nisso, deveria ter passado mal por não
ter comido nada e apenas bebido.

- Só de manhã. - Falou enquanto saia só de toalha do banheiro. Linn evitou olhar para o corpo da moça. Ela era muito bonita.

- Então eu vou esquentar uns pedaços de pizza. Tô morrendo de fome.

- Uau, quanto tempo eu não como pizza! Vou só colocar uma roupa.
Elas comeram e conversaram. Conversaram sobre tudo. Linn sentia falta de ter uma boa conversa. Adorava Mike, mas era diferente. Anne era uma pessoa incrível. E engraçada. Linn pegou um cobertor e um de seus três travesseiros para Anne ficar mais confortável no sofá e foi
se deitar. Estava quase dormindo, quando começou a ouvir Anne se remexer no sofá.

- Linn?

- Hm?

- Obrigada mais uma vez por me deixar ficar aqui hoje.

- Eu vou te bater se você me agradecer de novo. E pode ficar até se estabilizar. Sem problema.

- Uau, é...

- Não fala.

- Ok, ok - Elas ficaram em silêncio, mas ninguém dormia.

- Anne?

- Hm?

- Quer vir para a cama? O sofá deve ser desconfortável. - Falou e logo sentiu Anne deitar do seu
lado. Ela tinha um cheiro bom. - Boa noite.

- Boa noite. E obrigada.

Linn bufou e dormiu alguns minutos depois. Anne acordou primeiro. Ficou sem saber onde estava e porque estava em uma cama tão macia. Só depois veio a dor de cabeça e só então ela viu que dividia a cama com alguém e alguns flashes da
noite anterior.

Bebida, música, vômito, garota morena. Tirou o cobertor de si e viu que estava
vestida, então não havia transado com a garota ao lado.

O que era uma pena, pois a mulher adormecida ao seu lado era muito bonita.

A dor estava insuportável, então resolveu parar de pensar no que havia acontecido e observou a mulher que estava do seu lado, parecia estar em um sono bom. Anne ficou ali, parada enquanto ia se lembrando da noite passada aos poucos, até que Linn começou a despertar.

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