Dias atuaisAnne acordou mais um dia e estava ficando louca de tanto olhar para o teto branco do quarto.
– Filha, o almoço está pronto. – a mãe falou batendo na porta. As duas passavam o dia quase todo sozinhas, o pai chegava quase sempre pontualmente às três horas da tarde.
Anne buscava forças para dar início ao seu plano. Ela tinha tirado foto dos hematomas que ele fizera e pretendia denunciá-lo, porém, tinha medo de não ser o suficiente e nada acontecer.
Ela desceu e pegou a comida para comer no quarto, mas a mãe pediu para ficar e comer com ela.
– Eu acredito em você, Anne. – ela levantou a cabeça ao ouvir as palavras, não crendo. – eu sei que foi esse monstro que te machucou.
– E porque você mudou de ideia?
– Por causa disso. – falou e com uma certa dificuldade, levantou a blusa.
Marcas três vezes piores do que as de Anne estavam na pele da mãe. Ela então notou os olhos vermelhos e olheiras profundas.
Anne, que estava vazia, foi preenchida de um ódio inexplicável. Ela ficou vermelha e uma súbita tontura a fez se sentar novamente. Ela estava fraca, mas precisava ser forte.
– Ele está desconfiando que estou traindo ele, mas… não estou. Eu juro.
– Eu sei, mãe. Eu sei. Vai ficar tudo bem. – falou e subiu as escadas.
Quando checou o celular, tinha uma mensagem de Mike.
"Anne, eu sei que vocês terminaram, mas sei também que você ainda a ama. E ela está indo embora. O embarque dela é para 13:20, portão de embarque 14.
Vá ao menos se despedir. Boa sorte."
Era exatamente 11:30 quando Anne leu aquela mensagem. Demorou alguns segundos. Linn ia embora. Realmente iria embora. E ela não a veria nunca mais.
– PORRA! – em menos de dez minutos ela saiu do banho e se vestiu rapidamente com uma calça e a blusa de Linn que ela tinha levado junto.
Pela janela do quarto, viu o homem que não saia dali nem um segundo. Tinha que sair sem que ele visse.
– Pensa, Anne. Pensa… – ela falou para si, batendo na testa como se fosse ter algum plano mirabolante. Mas nada.
Fechou cortina por alguns minutos e colocou alguns travesseiros embaixo dos lençóis. Foi tudo que conseguiu pensar. Realmente parecia uma pessoa ali. Abriu e ele ainda permanecia ali, mas a raiva no rosto parecia ter aumentado.
Ela saiu devagar do quarto, e agradeceu aos deuses por não dar para ver a porta do lado de fora. Ela chamou um Uber, mas pediu para ele parar três casas antes. Ela saiu pela porta dos fundos, o homem ficava na frente, então não a veria.
Ela passou pelo quintal dos vizinhos e um dos cachorros, um pequeno e raivoso, saiu correndo atrás dela. Corria olhando para ver se não estava chamando muita atenção. E não viu o homem, então se viu livre.
Chegou ao Corolla prateado e entrou, pedindo para ir o mais rápido possível ao aeroporto.
Era meio dia e meia quando Linn chegou ao aeroporto. Se despediu de Mike na entrada do prédio, com muitas lágrimas do rapaz. Ele queria ir com ela, mas ela negou gentilmente, falando que era mais fácil ir se não tivesse ninguém conhecido.
Ela queria muito saber como Anne estava e o que ela achava de ficarem longe, mas sabia que provavelmente ela não poderia sair de casa. Linn já havia tomado a decisão de ir e não tinha volta. Mas tinha noção de que só estava firme porque não tinha visto Anne ainda.
Ficou sentada esperando dar o horário e ficou lendo um livro de ficção, seu gênero preferido. Não viu o tempo passar, só percebeu que tinha que ir quando seu vôo foi anunciado.
Sentiu um frio na barriga e uma tristeza. Não queria ir. Não sabia porque, mas esperou o vôo ser chamado novamente para então, se levantar e ir para o portão de embarque.
– Linn, espera! – Então ela se virou ao ouvir a voz inconfundível da pessoa que tanto amava.
– Achei que você não podia sair de casa, achei que.... Eu… – Antes que ela pudesse continuar, Anne a interrompe para falar antes que seus quinze segundos de coragem passassem.
– Eu só soube que você iria embora de Londres a algumas horas e não, eu não estou com raiva por não ter me dito, era meio impossível, eu sei, mas eu tinha que vir. Eu sei o quanto você odeia despedidas, mas eu quero que saiba que eu te amo, Somers.
Você tem todo o meu apoio nessa nova jornada da sua vida. E você é o amor da minha vida e como a romântica incorrigível que sou, eu creio que a vida vai fazer com que nos reencontremos, mais maduras e prontas para ficarmos juntas. Você sempre foi e sempre será minha única certeza, então… sei lá, só quero que você seja feliz.
O silêncio de Linn, deixava Anne quase vomitando de nervosismo, mas ela precisava raciocinar as palavras que acabara de ouvir.
– Anne, independente de onde eu esteja, o amor que sinto por você nunca vai acabar. Eu sou sua para sempre. E eu também espero que nos reencontremos, mas eu preciso ir porque quando eu me dei conta de que teria que viver aqui, sabendo que estamos próximas e podendo nos esbarrar em algum lugar, e que eu não poderia te beijar ou abraçar… não consegui me imaginar tendo essa vida. Eu não quero uma Londres sem nós.
A cada palavra uma parte das duas moças era destruída.
Linn aproximou-se de Anne, e uniu seus lábios, e provavelmente foi o beijo mais intenso que o aeroporto de Londres presenciou.
O beijo relembrou cada momento que as duas viveram juntas. Cada briga, cada risada, cada canto que foram.
– Adeus, Linn. – Anne já não aguentava segurar as lágrimas, mas sorriu tentando ficar forte com aquela partida. Sabia que era o melhor para ambas, mas como ficar bem quando a pessoa que você quer passar o resto da vida está indo para quilômetros de você?
– Adeus, meu bem. – A morena foi em direção a porta de embarque, com o pensamento na moça de olhos verdes tristes atrás de si. Não olhou para trás, não queria que a visse chorar.
Anne tentava não chorar, mas já estava ficando sem ar de tanto segurar o choro. Viu Linn desaparecer no corredor e se sentou na cadeira mais próxima. Desabou em lágrimas. Se encolheu e começou a soluçar com a cabeça escondida nas mãos.
Alguns segundos assim, ela sentiu braços em seus ombros, a abraçando e confortando-a.
– Eu não posso ir.
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Nós
RomanceO amor não é algo que você encontre propositalmente. Amor simplesmente chega e te fascina gradativamente. Quando você vê, já não se imagina sem esse sentimento. Linn Somers definitivamente não estava a procura de um amor, mas foi escolhida para enc...