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Anne comeu uma farta ceia de Natal, produzida pela sua mãe e algumas tias. A mãe, Claire, estava em êxtase com o fato das brigas em sua casa terem cessado. 

Embora Anne estivesse criando uma mágoa da mãe por sequer ter notado sua tristeza, e apenas a sua magreza, continuava firme e forte no inferno que ela chamava de casa.

Havia emagrecido alguns quilos, pois a fome não se fazia presente em seu dia a dia. Comia por insistência de algum colega de trabalho ou coisa assim. 

Após todos os familiares e algumas pessoas da igreja irem embora, Anne ajudou com a louça e depois foi direto para o quarto. Estava começando a pensar em um plano e queria elaborá-lo melhor. 

No dia seguinte chamou a mãe para ir ao shopping alegando que queria mudar o guarda-roupa para roupas mais parecidas com as dela. Claire logicamente ficou muito feliz. O pai de nada desconfiou. Apenas resmungou que não iria pagar por nada. 

Anne apenas ficou calada, sabia que não adiantava brigar e ela mesma iria pagar por qualquer coisa que comprasse. Trabalhava justamente para se sustentar sem ter que pedir um centavo ao pai.  

– Se tiver qualquer coisa que te agrade é só me falar. – Falou e a mãe assentiu. Ficaram horas entrando e saindo de lojas com Claire – Mãe, posso te fazer uma pergunta?

– Pode sim.

– A senhora já trabalhou? 

– Como babá quando era mais nova, mas nada depois disso. Seu pai quem sempre arcou com as despesas. Porque? 

– Nada. É só que eu acho que a senhora deveria buscar uma independência, sabe? Muitas mulheres da nossa igreja trabalham, sabia? 

– Eu sei, mas porque? Bem, não me falta nada. 

– Seu marido te dá tudo, mas é reclamando, você não se sente humilhada? – A mãe deu de ombros. Já não ligava mais para as grosserias do marido. Estava acostumada com aquela vida. Achava que tinha tirado a sorte grande. – Mãe, fala comigo. Você realmente o ama? 

– Anne, eu realmente não sei onde você quer chegar com essa conversa. 

– Eu posso te contar uma coisa? Mas você tem que me prometer que não vai contar para o seu marido. 

– Eu prometo.

– Você jura por Deus? – a mãe a olhou, Anne sabia que aquela frase era sagrada e que, caso a mãe jurasse, não poderia quebrar. 

– Eu prometo, em nome do senhor. 

Anne respirou fundo e contou das ameaças que recebeu e que o único motivo pelo qual ela ainda permanecia em casa era por causa dela. Por que tinha medo de que ele a fizesse algum mal. 

Claire ouviu aquilo horrorizada, não querendo acreditar que o homem com quem dividiu a vida por anos poderia fazer aquilo. Negava com todas as forças. 

– (...) E eu estou cansada, mãe. E com medo, só a senhora pode me ajudar. Se livrando desse homem. – apelou para o lado materno da mãe. Viu um olhar diferente no rosto da mãe, mas passou rapidamente e logo o olhar impassível voltara para seu rosto

– Anne, eu sou casada com esse homem a mais de vinte anos. Como posso acreditar que ele faria algo do tipo?!

– Não sei, talvez pela forma como ele te trata?! – falou ironicamente. Estava tentando manter a calma, mas era complicado. – mãe, por favor, acredite em mim. Não teria por que eu ficar naquela casa se não fosse por você. Por mim eu ainda estava morando com a pessoa que eu amo e que realmente me faz feliz. A senhora não vê o quão infeliz eu estou? Ou é tão egoísta a ponto de ignorar o que está bem na sua frente porque acha que está tudo bem lá em casa?

– Eu acho melhor irmos para casa. Essa conversa morre aqui. – levantou-se e seguiu rumo a saída com Anne indo atrás.

Ela sabia que seria difícil, mas não iria desistir de seus objetivos. Estava apenas começando o plano.

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