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– Hoje eu liguei para uma colega, Lídia, para ver se já deram falta de mim. Foi tão estranho. – Estavam só conversando e Anne decidiu contar como foi ligar para Lídia. Lídia fazia parte de um grupo de leitura da escola. E era diferente das outras participantes, pois entrou no clube apenas porque era obrigatório fazer parte de algo, mas depois que acabou, há um mês, uma não tinha paradeiro da outra.

Sentia falta, pois ela era o mais próximo que Anne tinha tido, e seus pais nem sonhavam com essa amizade. 

– Estranho? Porque? 

– Não sei, ela me falou como estão as coisas pela vizinhança, com nossos conhecidos e sobre os meus pais… e Linn, eu não senti absolutamente nada. Raiva ou saudade, sabe? Eu só… sei lá. – Falou enquanto saia do sofá e ia para a cama, Linn foi logo atrás.

– Então você não tem vontade de falar com eles novamente? Tipo, são seus pais. 

– Eu devia, eu sei, mas eu tô tão magoada com eles. E só vou pensar em procurá-los quando arrumar um emprego. Não quero que pensem que estou na pior. Acho que quero começar do zero. 

– Então tá, pode contar comigo. E creio que com o Mike também. Caralho! Olha a hora! Preciso de um banho. 

– Vai lá, tô sentindo teu cheiro daqui!

– Vai se foder, garota! – Jogou uma almofada na cara da amiga.

Será que já poderia chamá-la assim? Foi tomar banho, quando saiu, estava assistindo uma novela de época. 

– Então é isso que você faz de noite? Noveleira!

– É muito boa, tá? 

– Nhá… coisas de época são tão chatas, não sei como você gosta disso. Você tem tipo, 50 anos?

– 51. – Falou e Linn mostrou a língua. 

Linn decidiu ir continuar sua leitura, estava lendo um romance e quase o acabando. Era um livro de anjos e demônios que a prendeu muito. No livro o casal sempre se separava por conta de uma maldição e se encontrava em todas as vidas da personagem.

Linn estava concentrada no livro, com o óculos na ponta do nariz. Anne a olhava, via como ela apertava os olhos ou erguia a sobrancelha em alguns momentos.

Estava hipnotizada com a cena e a beleza da amiga, ela tinha o cabelo castanho escuro e sobrancelhas bem feitas, usava um óculos relativamente grande e tinha a boca carnuda, com dois sinais em cima dela, dando um charme e contrastando com a pele incrívelmente branca.

Resolveu parar de olhar quando se deu conta de que seria estranho explicar porque estava olhando para a moça daquela forma. Queria falar algo, mas não queria interromper a leitura, então ficou ali quietinha olhando anúncios de emprego no celular. Meia hora depois a campainha toca, era Mike.

– Por qual motivo uma está assistindo novela e a outra lendo em plena sexta feira? Não, não, não. Podem ir vestir algo decente para eu poder apresentar vocês aos meus amigos. 

Elas se olharam, meio assustadas, mas foram trocar de roupa e dez minutos depois já estavam no apartamento da frente. Haviam umas quinze pessoas espalhadas no lugar.

Linn gostava de festas assim. Música não estava tão alta. Era agradável. Tinham pessoas no sofá e outras no chão, jogando algum jogo qualquer. Todos as olharam, enquanto Mike apresentava um por um. 

– Esse é o Joey, a Brenda, a Miranda, a Carly, o Tyler e o Nicolas vocês já conhecem. Pessoal, essas são Linn e Anne. Meninas, tem bebida na cozinha, sintam-se a vontade.

Linn foi pegar bebida, precisava de álcool para ser mais sociável. Já Anne era boa em se enturmar, então logo foi para a rodinha, estavam brincando de “eu nunca” e estavam um pouco bêbados, mas eram pessoas legais. 

– Ei, Anne, a quanto tempo estão juntas? – Carly perguntou e Anne demorou para processar a pergunta.

– O que? Não, não estamos juntas, somos só amigas na verdade… só isso. – Falou meio sem graça e seguiram o jogo, mas a moça ficou pensando se elas pareciam um casal.

Anne notou Carly indo para a cozinha e falando com Linn. Ficou ali, tentando focar no jogo, mas observando como Linn dava risada de qualquer coisa que Carly tinha lhe dito. 

Na cozinha, Linn bebia o segundo copo de vodka com refrigerante. Ela não ficava bêbada facilmente, mas talvez ficasse naquela noite. Seu apartamento era logo ali, que mal tinha?

Uma garota se aproximou dela, mas Linn não lembrava direito seu nome. Era péssima com nomes ou rostos.

– Cuidado para não ficar tão bêbada. – Falou se encostando no balcão próximo a Linn.

– Ah, eu não fico bêbada tão fácil. E se ficar, posso ir para casa. É logo ao lado. – Linn não sabia flertar, mas sabia que a mulher na sua frente queria algo. 

– Então você mora perto? 

– Moro em frente a essa casa, junto com a Anne. – Não sabia por qual motivo havia mencionado Anne, elas não tinham nada. Talvez o álcool estivesse começando a fazer efeito. – É… você é a Carly, certo? É que eu não sou muito boa de decorar nomes e rostos.

– Isso, Carly, prazer. – Falou se aproximando e dando um beijo em sua bochecha. – Diferente de você, Linn, eu decoro muito bem as coisas e pessoas, ainda mais se for uma pessoa muito bonita como você.

Deu graças a Deus por não estar tão claro, deveria estar completamente vermelha. Fazia tanto tempo que não ficava com ninguém. Ainda estava no Brasil quando a ultima vez aconteceu. 

– É… bem direta. Obrigada. 

– Que tal nós irmos para a sala jogar? Talvez eu te conheça um pouco no “eu nunca”.

– Claro, eu só vou ao banheiro, me espera lá. 

Carly assentiu e foi para a sala. Linn a observou, era uma moça muito bonita. Viu Anne olhando e virando o rosto quando percebeu. Será que estava olhando a muito tempo? Pensou. Foi ao banheiro, ver se estava apresentável. Logo foi para sala, se juntar ao resto do pessoal já bêbado. Sentou-se entre Anne e Mike. De frente para Carly.

– Que tal nós brincarmos de verdade ou consequência? – Sugeriu uma ruiva no qual Linn não fazia ideia do nome.

Respirou fundo e concordou. Que mal podia ter?

Hmmmmm, será que vai dar merda?

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