Capítulo 03

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    — Credo, não sabe nem cumprimentar. — Ironiza usando um tom brincalhão, me deixando com um pé atrás em relação a sua personalidade. Ainda não saquei qual é a fonte de suas atitudes.

        Até segunda ordem, não vou sair da defensiva.

    — Um "oi" já é o suficiente. Mantenha a distância de um taco.

      Ficamos parados um olhando pro outro por um momento, até se ouvir um som alto de ronco vindo de nós dois. Olho pra ele segurando o riso, tentando fazer uma feição séria.

    — Ainda não fiz comida, mas tem pão e algumas coisas, podemos fazer alguns lanches.

    — Contanto que eu possa comer, tudo bem.

    — Me siga, vou lhe mostrar a casa e onde você vai dormir. — Começo a andar mas viro a cabeça, olhando na direção do seu corpo. — Então poderá tomar um banho e trocar essas roupas.

    — Está tão ruim assim?

    — Dormir na grama encostado em uma árvore com uma roupa toda branca... — Deixo no ar, soltando um riso fraco. — Não lhe deixou tão limpo.

      Caminho com ele até a porta da frente, feita de uma madeira escura. Assim que entramos tem apenas um pequeno corredor, em uma parede tem alças para colocar chaves, deixando mais organizado. Entretanto eu quase nunca uso, motivo que me faz perder as minhas algumas vezes.

     A sala tem um sofá grande marron, mesmo tendo mais de 10 anos, continua macio, na medida do possível claro. Um tapete escuro e extremamente macio cobre o chão.
     Em noites que consigo maratonar algo na televisão, acabo preferindo me deitar nele.

     Mas olhando bem, tudo continua igual como era quando eu era criança, preferi não mudar nada pois assim me sinto mais perto das memórias boas que passei aqui.

      Um exemplo disso é a mesa de centro, feita por meu pai, um tronco de madeira que ele lixou, passando um verniz em seguida.

     A TV fica em cima de uma estante de livros pequena, também de madeira. Quando eu era criança, me sentia como se estivesse em uma cabana de caçador, igual nos livros. Mas claro, que sem aquelas cabeças entalhadas de animais nas paredes.

      A janela, que toma todo lado direito da sala é coberta por uma cortina branca grande. Do lado esquerdo tem um degrau, não muito alto, que liga a cozinha com a sala. Pequeno ou não, já tropecei muito nesse ligamento.

    A cozinha é estilo Americana, com fogão, geladeira e estantes em preto e branco, cores que eu amo.
  
     Já os bancos ao redor da bancada são vermelhos com partes pretas.

    No final do corredor tem duas portas, uma que fica a biblioteca e a outra um banheiro.

     Explico pra ele toda essa parte de baixo, que ouve tudo com atenção parecendo absorver cada palavra.

      Subo a escada sentindo sua presença atrás de mim.

    — Aqui é o meu quarto. — Aviso mostrando a porta. — Não entre nele.

    — Não vou, seria uma falta de bons modos com uma moça, principalmente sem a devida permissão. — Assegura olhando em volta. Que modo de falar é esse? Educado, porém tão...fruto de filmes de época. — Você mora sozinha?

    — Sim.

    — Quantos anos você tem?

    — 20 e você? — Retruco com uma pontada de curiosidade. Afinal, vou morar com ele eu preciso saber pelo menos o mínimo.

    — 25.

     Ele parecia mesmo ser mais velho. Mas não sou ingênua, sei que pode estar mentindo. Sendo cômico esse pensamento, já que trouxe um estranho para a minha casa.

     Quero pensar que minha solidão não influenciou em minha decisão, pois estaria realmente no fundo do poço.

    — Aqui em cima tem dois quartos de hóspedes, você pode escolher. — Informo apontando para as portas, ambas lado a lado de frente para o meu quarto. — E no fim do corredor tem outro banheiro.

    — E essa porta? — Não preciso encarar o local que seu dedo aponta, pois sei que é ao lado do meu quarto. O cômodo que eu mais evito entrar.

    — Um quarto sem hóspedes. — Engulo em seco e logo aceno para as suas duas escolhas de dormitório. — Se decidiu?

       Ele entra na porta em frente ao meu quarto e eu vou atrás. É quase todo cinza, com a cama de casal no centro e um armário grande em uma das paredes.

    — Sim, esse.

      Nunca cheguei a usar muito esses cômodos, raramente recebo a visita dos meus amigos, sempre nos encontramos ou é na casa deles, ou em algum lugar na cidade.

    — Vou pegar algumas roupas pra você, pode usar o banheiro daqui ou o lá de baixo, os dois são iguais.

      Digo saindo de onde ele está e entrando no quarto que era do meu pai, ao lado do meu. Pego uma calça jeans, uma blusa preta de manga, e algumas outras peças, incluindo cueca.

      Entro no cômodo escolhido pelo Betel, querendo sorrir ao ver que ainda está no mesmo lugar que o deixei, encarando tudo com admiração evidente. Coloco as roupas na cama, com ele acompanha cada movimento meu.

    — Quais são as regras? — Questiona se aproximando para pegar as peças.

    — Bem, lá embaixo tem a máquina de lavar, cada um lava o que usar, isso vale também pra louça. — Paro pra pensar nas outras, já que estou às criando nesse exato momento. — As contas da casa vão ser divididas quando começar a trabalhar, mas não será muito. A comida podemos revezar pra fazer. — Prefiro deixar o meu talento culinário de lado, afinal não é tão ruim assim. — E o mais importante, nada de gracinhas ou eu te castro, mesmo sendo um anjo.

    — Tem certeza? — Provoca ameaçando se aproximar em tom de brincadeira.

    — Absoluta. — Asseguro dando a volta nele, parando na porta. — Quando acabar eu estarei na cozinha.

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora