Capítulo 24

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       O carro de Gael é uma caminhonete branca, que no momento é tão odiosa quanto ele pra mim. Entro e o encontro com seu típico sorriso largo, usando um terno e gravata azul.

    — Boa noite Bellatrix, pronta?

    — Vamos logo, quanto mais rápido eu for, mais rápido eu volto. — Rebato seca quando o veículo começa a se movimentar.

    — Só um aviso, lá dentro seja educada Bellatrix.

    — Serei.

       No caminho prefiro olhar pela janela, pelo menos assim não preciso conversar com ele, o fato de estar em um ambiente fechado com esse homem me sufoca.

       Pelo vidro consigo ter a visão das árvores e casas passando rápidas com a velocidade do cavalo branco, que acredito ser importado ou quem sabe roubado, não duvido de mais nada vindo dele.

       Sou surpreendida com finos pingos de água que começam a escorregar pelo vidro. Apoio a cabeça e acompanho a corrida de duas linhas de chuva, aposto tudo que a segunda vai ganhar, a primeira parece se desviar muito.
     Solto um sorriso quase imperceptível quando constato que acertei. 

    — Gosta da chuva? — Sua voz sai neutra e soa como um sino estridente no agradável silêncio do carro.

    — Qualquer coisa que não seja você. — Posso estar sendo infantil em minhas respostas, mas não quero criar nenhum diálogo.

    — Sabe, gosto da sua marra. — Balbucia sem se afetar com meu humor. — Só quero ver quando... — Sem ouvir o final uma sobrancelha minha se ergue ao dar o que ele queria, virar meu rosto para olhá-lo.

    — Quando o que? Eu ir pra cadeia? — Zombo. — Estou fazendo tudo certo para que isso não aconteça, Gael.

    — Claro...cadeia. — Murmura me deixando uma sensação ruim. — Cadeia não é o pior que pode acontecer.

    — Outra ameaça? — Questiono apertando a mão em punhos.

    — Não, eu não faço ameaças... — O carro para no semáforo e seu rosto se vira para o meu, seus olhos passam um brilho sombrio, que mesmo não querendo admitir em voz alta, me aflorou medo. — eu apenas aviso.

    — Tenho nojo de você. — Rebato e seu sorriso aparece deixando seu rosto mais cruel, com metade da face iluminada pelos faróis do carro da frente.

    — E eu tenho afeição por você.

    — Não quero que tenha.

    — Não me importa se quer ou não. — Determina e volta a dirigir. — Lembre-se disso, não me importa.

      Me calo não querendo jogar por água a baixo tudo que foi combinado. Volto a encostar a cabeça no vidro me concentrando na chuva, resultando em recordações nostálgicas.

"Por que chove papai?"

        "Porque o mundo precisa de água"

"Por que?"

"Imagine você e eu, quando tomamos café juntos. Eu preparo tudo, mas nós comemos juntos, eu preciso de você"

"Eu também preciso do papai"

"Por isso que eu estou aqui Trix, pra proteger a minha princesa"

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora