Capítulo 68

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       Aproveito meu horário de almoço e vou comer algo fora sozinho, já que o Saiph pediu uma entrega em seu escritório.

     Sei que eu tenho uma porrada de papéis para arquivar, mas não desperdiçaria a chance de poder sair ao ar livre e respirar sem ajuda do ar condicionado.

      Acabei de comprar um crepe de uma moça gentil de uma banca e já ia voltando, quando algo chama minha atenção. Do meu lado direito uma vitrine alta, de um vidro completamente transparente, deixa visível uma peça de roupa.

      Um vestido vermelho, o pano parece ser extremamente leve. E o que mais me chamou atenção, foram os pequenos desenhos azuis e bracos, como pedaços de folha. Pelo canto de olho pensei que eram flores.

     Mas mesmo constatando que não são, não pude passar reto. Entro pelas portas automáticas e olho em volta, sinto um certo desconforto já que a loja está vazia, então me foi lançado todos os olhares das atendentes ali presentes.

     Sorrio enquanto elas me encaram de cima a baixo, igualmente sorrindo.

    Caminho até o vestido que vi e aliso seu pano. Em minha mente já imagino Ella usando ele, ficaria linda, afinal ela já é belíssima. Saio dos pensamentos quando ouço uma voz doce falar comigo.

    - O senhor precisa de ajuda? - Olho para a mulher que parece ser nova no trabalho, já que aparenta estar um pouco nervosa.

     Olho novamente para o vestido. Será que ela iria gostar?

    - Sim adoraria, poderia embrulhar esse vestido? Vou levá-lo.

    - Claro, mas e o tamanho? - Sua pergunta soou divertida.

    - Esse mesmo. - Respondo olhando a peça, o decote é bastante favorável. Já consigo imaginar os peitos dela envoltos nesse tecido.

    - Tudo bem, só um momento. - Dito isso se afasta, provavelmente para pegar a peça no estoque.

      Caminho até o caixa enquanto olho outras peças. Definitivamente a que mais combinaria com ela é o vestido.

       Me distraio olhando um arranjo de flores na bancada, toco as pétalas e por um momento minha mente vagueia no tempo, de quando era pequeno.

    - Rígel! Rígel! Olha, eu matei, eu matei!! - Ele era pequeno então a cabeça do coiote se fazia enorme na sua mão, sua blusa branca estava coberta de sangue.

   - Rain, é errado matar desse jeito. - Digo olhando para os olhos esbugalhados do animal morto, enquanto o sangue do pescoço já fazia uma poça no chão de terra.

   - Por que? Rígel, você come carne. - Dá de ombros.

     - Mas nós não comeremos a carne desse coiote, você sabe disso. - Advirto olhando para os olhos cinzas do meu irmão.

     - Isso não importa, vou mostrar para o nosso pai, ele vai se orgulhar! - Dito isso ele me dá as costas, correndo para longe, com a cabeça do animal balançando nas suas mãos. Olho em volta e sigo o rastro do sangue. Me aproximo do corpo sem vida do coiote, que como se estivesse vivo, retrai em espasmos leves.

     Olho em volta e noto uma rosa grande e vermelha caída do pé. Pego com cuidado e vejo que a parte de baixo está um pouco murcha. Me aproximo novamente do coiote, e ouço o som molhado quando minhas botas tocam a poça de sangue. Me abaixo e deixo a flor na barriga do animal. Ninguém virá para buscá-lo, sei que sua cabeça será mandada para retirar miolos e sangue, para logo em seguida ser usada como enfeite em um dos corredores da casa.

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora