Capítulo 63

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        Se a minha vida fosse ser representada em fotos da natureza, agora eu seria uma montanha do Alasca. Pois congelo no lugar, tentando encontrar mentalmente o que dizer. Falho.

      Desço a mão da maçaneta e não consigo desviar o olhar do seu. Essa minha atitude deve estar sendo suspeita, entregando muito mais que palavras. Inferno.

     Betel se aproxima e por um momento me sinto encurralada por seu olhar, que desce pelo meu corpo lentamente, me causando um certo constrangimento.

      Ele dá mais um passo, dessa vez eu não fujo ou desvio o olhar.

      Me mantenho determinada a encarar seus olhos verdes, que parecem um pouco escuros. Ou talvez seja a hora? Se meu chute estiver certo, deve ser no máximo quatro horas. O corredor não está tão escuro.

      Resisto à vontade de fechar os olhos quando sua mão toca minha bochecha de forma leve, quase não sinto seus dedos ou os anéis que estão neles.

    — Já vai trabalhar? — Minha voz soa calma quando lembro do terno em seu corpo.

    — Sim. — Sua resposta vem após alguns segundos de silêncio. Betel sempre foi muito responsável, e sei que dormir no hospital sábado e às folgas que pegou por mim, serão redimidas com muito esforço. Noto sua boca se abrir para dizer algo, mas logo se fecha. Seu semblante é misterioso. Ou seria melhor indecifrável? — Ainda não dormiu?

    — Não...eu, bem. — Minha boca faz o mesmo que a dele, meu meu rosto está ardendo. Só agora eu percebi, meu olhar desvia para meu corpo, quebrando o contato visual. Esqueci de vestir a blusa. — Ainda não dormi.

      Sei que ele já me viu até sem sutiã, mas devido a tudo que ocorreu, não posso evitar a vergonha. O estado do meu cabelo, não condiz com o fato de ainda estar acordada. Sei também que o Betel não é burro, ele com certeza imagina o que aconteceu.

      Já não sinto mais o toque na minha bochecha, agora vejo ele colocar as mãos dentro do bolso da calça.

       Olho para o seu rosto e noto um sorriso. Um sorriso? Não parece um sorriso triste, ou feliz. Ele apenas sorri.

     Educadamente talvez? Meu coração se aperta.

      Eu seria trouxa demais se, mesmo depois de ouvir o que ele disse, ainda sentir tanto sua falta?

    — Espero que consiga, vou chegar tarde hoje, então tenha uma boa reunião com...seu chefe. — Solta a última parte com uma sobrancelha levantada. — O Saiph vai levar você.

    — Eu posso ir de ônibus. — Argumento achando desnecessária toda essa atenção. Não quero ser um incômodo.

    — O Saiph vai levar você. — Repete como se eu fosse uma criança, ao mesmo tempo que ignora completamente meu comentário. Antes que eu possa dizer algo, seu rosto se aproxima do meu.
       Dessa vez acabo fechando os olhos, enquanto sinto seus lábios depositando um leve beijo na minha testa. Não foi rápido, assim como não foi demorado, mas deu tempo o suficiente para inspirar o seu perfume mais de perto.

      Um ato singelo, que antes mesmo de rolar nos lençóis com ele, já fazíamos com certa frequência. Uma atitude de carinho entre amigos.

      Como eu queria abraçar seu corpo, e colocar minha cabeça na curva do seu pescoço, só assim sentiria o seu perfume bem de pertinho. Igual na cozinha, quando me abraçou.
        Mas não vou correr atrás, ainda mais sabendo o que ele sente. Ou seja, nada.

      Com esse pensamento, abro os olhos quando ele se afasta e dou um sorriso largo.

    — Tenha um bom dia, Betel.
 
    — Tenha um bom dia, Ella.

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora