Capítulo 14

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       Entrar no mês de julho em Dublin, — mesmo que hoje seja apenas o dia primeiro, caindo logo em uma segunda-feira — significa preparar o guarda roupa com as opções um pouco mais quentes que o habitual. A neve não vem agora, porém, as ondas de frio sim.
      O clima perfeito para uma bela caneca de chocolate quente, tendo a televisão carregada com capítulos saidos do forno de alguma série nova, ou até mesmo as clássicas que cheiram a naftalina.
    Tudo isso, com um cobertor quentinho nas pernas.

       E é assim que se resumiu meus dois meses de julho, desde que me mudei de volta a dois anos.

      Porém, esse ano em específico mostra que será diferente. E os motivos tem nomes únicos, e uma aparência de tirar o fôlego.

       Betel e Rígel.

      Em cerca de quatro semanas de convivência, ficamos mais próximos.

      Todos os dias quando eu chego Betel está acordado me esperando, perguntando como foi meu dia com interesse evidente, sendo totalmente recíproco. Descobri com muito custo, que o único prato que ele sabe fazer é aquele arroz com legumes e carnes, isso não é ruim, pelo menos não foi durante os primeiros dois dias.

      Agora sinto que até comecei a sonhar com essa comida. Pesadelos no qual estou correndo de uma panela gigante, que sai fumaça, com uma boca afiada pronta para me engolir. Seria cômico, se não fosse trágico.

       Estou comendo ela na janta, esquento o que sobra no almoço, e dou algumas beliscadas durante a tarde. Tento variar, fritando um ovo, beacon ou temperando uma salada, mas percebi que é uma tarefa difícil quando se trata de um de nós dois na cozinha.

      Destruição é meu nome, e o dele desastre, juntos formamos uma dupla imbatível que espero nunca precisar chamar o corpo de bombeiros. E não seria, óbvio, com o propósito de apagar o nosso fogo mútuo.

      O acordo prossegue firme em julho, assim como foi fechado em junho. Apenas amigos, e nada de gracinhas.

      E bom, agradeço o fato de estar dando certo em prática, mesmo que minha atração por ele só aumente. Em contrapartida, nossa amizade também.
      O fiz ver filmes, séries e até lhe mostrei grandes clássicos da literatura inglesa, Betel devorou tudo com facilidade, estudando o suficiente para entender alguns dos meus trocadilhos.

       De uma forma boa, muito boa, eu o sinto como parte dessa casa.

      O moreno deixou de ser meu inquilino desde a segunda semana, ganhando um posto de amigo, que exerce com uma habilidade beirando a perfeição.

      Com a promoção no trabalho, Betel começou a ganhar mais dinheiro, comprando mais comida instantânea, o que em modéstia parte, é um alívio. Ao descobrir minha plantação de ervas medicinais, passamos a compartilhar elas em alguns chás de madrugada.
       Revezamos os dias de quem vai regar.

      Betel contou que mesmo tendo seus poderes, uma ajuda extra é sempre necessária, por conta disso começou a comprar tubos de ensaio e algumas máquinas estranhas que eu só via nas aulas de ciência da escola.
     Não me atrevo a entrar no seu quarto.

×

     — Bellatrix, seu admirador já chegou. — Kiria avisa com uma voz de deboche, se referindo à Rígel.

      Desde aquela noite que a deixei no Pub, arrependida por tocar seu corpo tendo outras pessoas em mente, eu e Kiria não ficamos mais. Sinto que isso afetou-a de alguma forma, não tiro seus motivos, mas não posso continuar fazendo algo com ela enquanto penso em outra pessoa, não sou canalha. Apenas detesto o fato de não conseguir lhe contar isso.

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora