Capítulo 57

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   Betel ON

        Saber que a Bellatrix confiou em mim, — claro, no Saiph também, mas não conta — para falar de algo tão doloroso, me trouxe ainda mais arrependimento por não contar a verdade sobre quem somos.

       É errado, eu sei.

       Mas lembrando de tudo que vivemos, do lugar que viemos, não possibilita qualquer confiança em alguém desse planeta, ainda mais se for um ser humano. Não é nossa culpa, mas nunca será dela.

      Assim que a Ella foi no banheiro e Saiph contou para o Rígel a história que ouvimos. Ele ficou chocado pela forma como tudo aconteceu, e de como as pessoas se comportaram com ela, que na época era apenas uma criança, criando rumores e a magoando de um jeito tão cruel.

    — Já volto. — Disse após alguns segundos, quando acabou de ouvir a explicação. É perceptível o quanto ficou abalado com tudo.

       Enquanto esperamos ele voltar, arrumamos tudo. O cheiro é tão bom quanto a imagem. Mas em minha cabeça, aparece um filme com as palavras ditas por ela, sua história ou pelo menos parte dela. Me sinto grato por saber, mesmo me sentindo distante nesse momento. Ter a noção de que confiou para se abrir comigo, foi como entrar um pouco em sua vida.
      Uma parte da Bellatrix que não conhecia.

      Uma mãe vidente. Uma coincidência maluca, já que é exatamente uma que procuramos. Quem sabe com isso, não achamos a solução. O antídoto.

    — Por que ele não colocou frango? — Ouço Saiph resmungar ao encarar a fôrma de Ratatouille em cima do fogão.

    — Na receita não vai frango, irmão. — Solto um suspiro pesado, e passo por ele para pegar a fôrma.

    — Tudo com frango fica bom. — Argumenta pegando os pratos.

    — Pela Ella, faz um esforço vai. — Incentivo dando um tapa leve no seu peito antes de me sentar.

    — Nem ela quer. — Retruca ligando o rádio.

    — Mas precisa. — Hesito. —Você não achou muita coincidência?

       Seu olhar corre meu rosto após se sentar na minha frente, parece escanear meus pensamentos para entender minha pergunta. Aparentando ter achado a resposta, suas sobrancelhas se unem e a cabeça balança levemente.

    — Você caiu em um beco bem propício.

    — Você acha que isso tem alguma ligação com a Ella?

    — Sinceramente? — Ri fraco. — Pela primeira vez não faço a menor ideia. Só sei o quanto quero logo voltar pra casa, minha relação com a terra é de amor e ódio.

    — Você ama a natureza e dançar pelado como uma ninfa.

    — Vai se fuder. — Ri. — Meu amor é pela Terra, tenho ódio dos humanos. Pelo menos em casa não tenho que lidar com eles, sem ser em um campo de guerra.

    — Gosta tanto assim de matá-los?

    — Não. — Dá de ombros. — Eu amo.

    — Não preciso ser o Rígel para ver que está mentindo.

    — Exato. Mas você não é o Rígel, o que é bom, pois assim concentro todo meu amor nele e faço de você a ovelha renegada. — Provoca com um riso curto, mas não me deixo levar. — Se a mãe dela fosse nossa resposta, estaria viva.

    — Eu sei, mas e se ainda for?

    — Onde quer chegar, irmão?

    — Veja bem, não falaram o que era ou como era, caímos aqui sem saber de nada. Nossa solução pode ou não estar respirando.

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora