Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)

Capítulo 112

Rígel ON

    - Deixa de ser pão duro porra, me dá logo uma moeda!

    - E as palavrinhas mágicas, Saiph?

    - Abra cadabra, minha mão voa na sua cara. - Debocha e estica a palma pra cima na direção do Betel, balançando os dedos antes de continuar. - Passa.

    - Vai te matar pedir com educação?

    - Rígel, tem certeza que você não tem nenhuma? - Seus olhos me fitam ao proferir pela segunda vez a mesma pergunta, apenas me contenho em negar com a cabeça, trocando o olhar entre eles e a Ella, conversando com seu tio no balcão.

    - Viu? Sou sua única opção.

    - Betel, imagine um rio gigante e você está afundando nele, o que você faz?

    - Eu sei nadar.

    - E você tem um bote e vê outra pessoa se afogando.

    - Eu dou o bote pra pessoa.

    - Exato. - Ri. - A moeda é o bote, e eu sou a pessoa se afogando, passa pro pai, passa.

    - Tem idéia do quão estranho foi ouvir isso?

    - A idéia do bote?

    - Isso também, mas ser seu filho por alguns segundos foi pior!

     Pela expressão calma no rosto dela, posso chutar que a conversa não está sendo tão difícil assim, mas o olhar que Giorge direciona pra nós, - em especial infelizmente pra mim - não é tão agradável assim.

      Depois das palavras que ele me direcionou no hospital, pesquisei um pouco e aprendi mais ainda sobre religião no geral. Descobri que grande parte delas prega a empatia, amor ao próximo e uma lista extensa de acordo com suas próprias escrituras.

      Então pensei: vou tentar agir de acordo com isso, assim Giorge não vai se afastar da Ella. Mas quando comecei a ver alguns vídeos sobre o assunto, além de um pequeno incômodo estranho que preferi não me aprofundar em achar o motivo, também notei que grande parte de tudo aquilo, eu faço.
     Não por pensar em redenção, afinal, eu sou um demônio, se existir uma eternidade de sofrimento, eu sei que vou me desintegrar nela.
     Mas se eu ver uma pessoa desesperada, machucada ou até mesmo sendo agredida, meu primeiro impulso vai ser o de ajudar, e de preferência sem nenhum holofote depois. Sair pelos fundos parece mais a minha cara.
 
     Um texto que me vi diante enquanto buscava por respostas, foi um que dizia sobre a pós morte, não lembro de todas as palavras, pois o que mais me marcou foi o peso daqueles versos. Pois neles contava que para algumas pessoas a religião é uma forma de se salvar do inferno. Se não existisse morte, os seres humanos não temeriam tanto o que é tido como pecado.

     Eu olhei aquilo, e pensei no que eu conhecia como inferno, que por um castigo do destino foi onde eu passei grande parte da minha vida.

    Um lugar amargo, cada um por si, se esquecendo dos seus erros e vivendo de forma costumeira à doenças e dor. Pois quando você passa muito tempo na lama, se esquece que um dia houve grama.

    A mais verde e brilhante.

     E minha personalidade me satisfaz, passei tempo demais pensando o quão errado era ser bom, que até cheguei a duvidar o que me deixava tão diferente da minha família biológica.